27 de mai. de 2011

Por que os fanáticos por carros são importantes?



Existe uma percepção geral de que, ao mesmo tempo em que nunca se vendeu tanto carro no Brasil, nunca o público consumidor soube tão pouco sobre o funcionamento e as características reais dos automóveis que desejam. Nós, os car lovers, hoje somos minoria. Isso diminui nossa importância para o negócio das grandes marcas? Surpreendentemente, a resposta é não. Pelo contrário. Pena que elas ainda não perceberam isso.

Nas últimas semanas, nos dedicando a formular um estudo sobre o que pensa e o que deseja o verdadeiro apaixonado por carros. A base para isso, além da experiência do staff  do Jalopnik em lidar com esse público, são os mais de 90 mil comentários que vocês já publicaram aqui a respeito de todo tipo de assunto automotivo: novos lançamentos, lendas do passado, automobilismo, mercado, cultura, reviews…
Com isso em mãos, preparamos apresentações para o pessoal das grandes marcas e das agências de publicidade que cuidam dessas marcas. Nossa intenção não é ensinar ninguém a vender mais carro – isso elas já sabem fazer como ninguém. A ideia dessa análise é outra: descrever o car lover, explicar a sua importância dentro do cenário de consumidores em geral, e sugerir que tipo de ações poderiam realmente satisfazer esse pessoal.
Você pode estar pensando que isso não tem muito valor, que carro hoje é eletrodoméstico, e que enquanto continuam vendendo bem, as marcas estão pouco se lixando para o que pensa esse povo tão apaixonado quanto crítico. Bem, o nosso trabalho é provar justamente o contrário, e o fator principal para justificar esse ponto de vista é o seguinte: hoje, com a internet, o peso da opinião dos leitores e comentaristas é quase tão grande – talvez até maior – que a opinião de jornalistas e escritores em geral.
Quando um leigo está pensando em comprar um carro e vai atrás de informações na internet, fatalmente acaba caíndo em algum post com centenas de comentários, ou algum fórum de discussão mais específico. Em ambos, quem garante a variedade de opiniões e experiências são justamente os entusiastas, ou seja: são eles que acabam formando a opinião de quem sabe menos e quer se informar. São eles que difundem as características de cada produto, e são eles também que ajudam a propagar suas próprias preferências e escolhas.
E então chegamos a uma conclusão pessimista: nenhum car lover  brasileiro que se preze consegue levar a sério a postura das grandes marcas. As principais fabricantes de automóveis do país parecem simplesmente ignorar esse público. Quando tentam alguma ação mais incisiva, viram motivo de chacota, pois claramente subestimam o conhecimento e as exigências dessas pessoas. É o caso das séries esportivas que só ficam no visual, das plataformas antigas e defasadas que continuam dominando o mercado, da falta de equipamentos de segurança na maioria dos modelos e da popularidade nula de categorias do automobilismo nacional como a Stock Car. Sem falar nos preços que a gente paga por aqui…

Além disso, o aficionado por carros é quem em última instância acaba consolidando a imagem das marcas. O visionarismo da Citroën, o espírito de rali da Subaru, a brutalidade dos Mopar, a segurança dos Volvo, o ronco dos Alfa Romeo… tudo isso é fruto de um relacionamento de décadas entre as máquinas e as pessoas que as apreciam. E importante: não é necessario ser um consumidor de uma marca para se tornar fanático por ela. O verdadeiro car lover acaba alimentado pela simples existência de automóveis que atiçam sua imaginação e conhecimento.
É por isso que criticamos tanto a ausência de automóveis realmente atraentes no mercado nacional. Pegue como exemplo as versões esportivas de carros de linha. Por mais que sejam caras, inacessíveis à maior parte dos consumidores, de baixa vendagem, são elas que acabam tornando imortais os carros que, de outra forma, passariam batidos pela história. Já imaginou o que seria do Gol sem os GTS e GTI? O Maverick, sem sua versão GT V8? E o Marea, caso não houvesse o Turbo? A médio-longo prazo, esses clássicos ficam na memória, criam sua legião de fãs e consolidam sentimentos de admiração e desejo que nenhuma campanha publicitária engraçadinha jamais será capaz de despertar.
Estamos 100% empenhados em transmitir essas ideias para a indústria. É uma tarefa complicada e às vezes desapontadora, pois muitas empresas continuam a ter uma visão comercial de curto prazo, baseada exclusivamente em números. Mas já tivemos alguns sucessos – e nada mais recompensador do que trazer a paixão por carros para o debate, ouvir perguntas sobre o nosso público, expôr nossas opiniões e sair de uma reunião com a certeza de que fomos ouvidos do jeito certo, pelas pessoas certas.
Já é um começo.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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