24 de abr. de 2011
Nissan Tiida: a ascensão do patinho feio
Como você já deve ter visto em todos os sites por aí, a Nissan apresentou na última semana a nova geração do Tiida, o modelo global mais vendido da marca atualmente.
O curioso aqui no Brasil é perceber que o carro lançado no país em 2007 – e que até então alinhava números de mercado bem modestos – está virando o destaque dos informes mensais da FENABRAVE: em 2011, passou de 551 unidades vendidas em janeiro para 1.134 unidades em março, um crescimento de mais de 100%, e pulou da 7ª para a 5ª colocação entre os hatches médios. Qual a razão para tanto crescimento?
A primeira coisa que vêm à mente é: propaganda. O hilário anúncio vinculado nas TVs em que rappers vestindo jalecos da Ford se gabam de estarem milionários por vender um carro 1.6 (o Focus) por valores mais altos que os de um 1.8 (o Tiida) fez um barulho considerável, e deu visibilidade inédita ao hatch japonês que nunca chegou perto de despertar maiores reações. Mas a questão principal do anúncio – o valor do Tiida em relação a seus concorrentes – não é nenhuma novidade, nem sofreu alterações nos últimos tempos. O que nos leva a pensar: será que no mercado atual, mais do que ter um bom carro oferecido por um bom preço, o que acaba valendo é a propaganda agressiva vinculada ao produto?
Infelizmente parece que sim – e digo infelizmente pois, independente das qualidades do Nissan, este pode ser um sinal do quão passivo e influenciável é o consumidor de carros hoje em dia, incapaz de fazer boas escolhas por conta própria, sem a ajuda de uma campanha maciça. Bem antes disso, a marca já havia reduzido o preço tabelado do Tiida em mais de 3 mil reais desde seu lançamento em 2007. Também aumentou a garantia de 2 para 3 anos, sem resultados aparentes.
Por outro lado, fiquei curioso para experimentar um pouco mais as qualidades do carro que já superou Citröen C4, Vectra GT, Fiat Bravo e Peugeot 307 (quatro concorrentes de peso) na acirrada disputa pelo mercado, e que no momento mira como alvos o VW Golf e o Ford Focus, dois dos carros nacionais que eu mais gosto de dirigir por aí, e cujas qualidades de condução são bem conhecidas entre os aficionados que valorizam coisas como suspensão, câmbio e reações ao volante.
Peguei emprestado o Tiida S 1.8 16V de uma amiga e fiz um bate-e-volta até Mogi das Cruzes, minha cidade. Coisa rápida, duas horinhas e pouco. A primeira impressão é boa: bancos largos e confortáveis, com tecido agradável ao contato, apoio confortável para os braços, mas apoios de cabeça um pouco recuados demais. Espaço interno é uma das unanimidades positivas entre os donos do modelo, e com razão: há lugar de sobra para pernas, traseiros, pescoços e troncos dos mais avantajados, com direito a piso plano e banco traseiro que, além de correr em trilhos, ainda possui encosto reclinável.
Os plásticos utilizados são de boa qualidade e o desenho dos painéis é bem simples e funcional, mas com pouco mais de 15 mil km rodados o interior já emite alguns ruídos de trepidação um pouquinho incômodos, coisa que não deveria acontecer. Não há nenhuma dificuldade em se encontrar uma boa posição de dirigir, e na cidade a dobradinha direção elétrica leve / câmbio automático de 4 marchas é das mais confortáveis.
A estabilidade transita bem entre o conforto ao rodar e a firmeza em curvas e mudanças de trajetória. Mesmo não sendo multilink independente, a suspensão traseira por eixo de torção foi bem ajustada e se comporta de maneira exemplar. Na estrada, o motor 1.8 16V também agrada. Rodar com etanol ou gasolina não faz muita diferença no desempenho, já que a taxa de compressão baixa (9,9:1) faz com que a diferença de potência entre os combustíveis seja de apenas um cavalo, de 125 para 126 cv. Trata-se de um defeito que acaba minimizado pela boa disposição de força do comando de válvulas variável. Já o câmbio automático é meio frustrante: sem nenhum tipo de modo mais esportivo, realiza trocas com suavidade quase tediosa, e sua quarta marcha funciona como um overdrive para manter as rotações baixas durante as viagens. A opção manual de seis marchas oferece um câmbio mais prazeroso, mas aí entramos numa discussão meio óbvia: dinamismo ao dirigir em estradas não é exatamente o tipo de prioridade para o comprador do Tiida.
O cliente do Tiida geralmente nutre simpatia pelo design ao mesmo tempo morno e diferenciado do carro, e acaba fisgado pelo excelente custo-benefício em relação à concorrência. Golf e Focus são mais gostosos de dirigir, i30 e 307 são inegavelmente mais atraentes, o C4 tem mimos internos imbatíveis, o Bravo ainda respira um ar de novidade e o Astra é o highlander que encontrou no Brasil condições ideais de sobrevivência. Diante dessa concorrência bastante variada, não se pode dizer que o Tiida seja o melhor em nenhum critério. Ao invés disso, ele junta pontos consideráveis em todas as categorias e aposta no preço do pacote, a partir de 48.900 reais. O crescimento nas vendas de um carro com quatro anos de idade no país – e sete anos no mercado mundial – parece mesmo um reconhecimento às suas qualidades depois dessa rápida avaliação.
Eu compraria? Baseado nos meus critérios de prazer na condução, beleza estética e simpatia subjetiva, a resposta é não. Mas minha amiga nunca foi tão feliz com nenhum outro carro, e não tenho dúvidas de que muitos clientes da marca também pensam assim, plenamente sattisfeitos com o que compraram. Pena que para eles siglas como 350z, GT-R ou Skyline não façam muito sentido.
Acima e abaixo, o novo modelo apresentado na China essa semana, e que deve chegar ao Brasil entre 2013 e 2014. Um pouco mais moderno e sinuoso, com alguns detalhes musculosos que chegam a lembrar o espalhafatoso Juke – felizmente, são só detalhes.
Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br/
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Para primeiro carro, você recomendaria ? Digo, é um bom carro, na estrada se comporta bem, faz curvas suavemente...etc...?
Postar um comentário