28 de mar. de 2011

Por que a maioria dos filmes sobre carros é ruim?



Existem carros nos filmes hoje em dia? Sim. Estes filmes são divertidos? Não tanto. Carros e filmes têm praticamente a mesma idade, mas eles nunca andaram juntos de verdade. O que há de errado com esta história?

É 1991 e eu estou no porão de casa, deitado no chão com uma lata de refrigerante e um pacote de salgadinhos. Tenho 10 anos e uma cópia de “As 24 Horas de Le Mans” no videocassete. O volume está no talo, mas isso não me faz parar de pegar o controle para tentar aumentar ainda mais. Quando os 917 saem da Tertre Rouge e voam pela Mulsanne, o rugido gutural é alto o bastante para fazer meu cachorro latir. E eu estou apaixonado.
Este foi um grande momento, tão grande que eu o repito regularmente na minha sala de estar. Mas não se engane: em qualquer padrão normal, “As 24 Horas de Le Mans” é um filme terrível. É um enredo superficial, atuações engessadas e tomadas de corrida incessantes, a maioria capaz de fazer o espectador comum dormir.

A apaixonada ode à velocidade de McQueen é um filme único, mas não uma situação única. O carro é uma fonte fácil para dramatização, e Hollywood faz dinheiro com isso pintando o mundo automotivo como uma terra de roncos falsos e capotamentos incendiários aleatórios. Raramente um filme de carros costuma agradar ao público em geral, e quando consegue, costuma ser cheio de clichês.
Qual é o problema, então?
Por que a mistura de cultura automotiva e filmes sempre resulta em personalidades caricatas e diálogos risíveis? Por que as cenas com carros sempre são cheias de idiotas? Por que é que eu consigo assistir a um episódio inteiro de “24 Horas” sem vomitar mas não consigo assistir a “Alta Velocidade” com Sylvester Stallone sem ter vontade de arrancar meus olhos com uma colher enferrujada?

Pense nisso: você pode contar nos dedos de uma mão os filmes de carro bem feitos e agradáveis, e mesmo assim poucos deles destacam-se como algo além de um filme de época.
Mesmo os melhores exemplos são lições de como não fazer um filme. No geral eles se dividem em dois grupos – o que focaliza na cultura automotiva e nos representantes dessa cultura, e os que usam o carro como pano de fundo para uma trama. O primeiro nos deu tranqueiras como “Velozes e Furiosos”, e o último normalmente entrega pouco mais que uma grande perseguição e uma sensação de vazio.

A maioria deles são filmes sobre qualquer outra coisa, filmes comuns que por acaso foram feitos por fãs de carros e por isso retratam o mundo dos carros de forma simpática.
Os ícones são óbvios, assim como suas falhas. Considere o “Grand Prix“, de John Frankenheimer, que é repleto de excelentes tomadas de carros correndo, mas que tem uma direção desajeitada e atuações insossas. “Bullitt” é um drama criminal raso que circunda uma perseguição matadora, assim como “Um Golpe à Italiana” – e seu remake “Uma Saída de Mestre” – e “Ronin”. “Agarre-me Se Puderes” é um dos poucos que conseguiram aceitação do público em geral, embora pode-se dizer que tem mais a ver com o sorriso malvado de Burt Reynolds e a bunda de Sally Field que qualquer outra coisa.
“Quem Não Corre, Voa”, escrito por Brock Yates, fez pouco além de assassinar a credibilidade do roterista em Hollywood. E o resto da turma dos  anos dourados  - “Corrida Contra o Destino”, “Corrida Sem Fim”, “Thunder Road”, “Uma Corrida de Loucos”, “Fuga Alucinada”, “A Corrida do Século”, O Último Herói Americano” etc. — foram bons filmes B, mas fracos em bilheteria. Se a cultura automotiva não fosse tão atraente naquela época, esses filmes certamente não teriam existido.

Não se trata de não querer coisas boas, e também não é por causa de dinheiro. Um amigo meu fanático por corridas compra DVDs toscos sobre carros toda semana na esperança que vejam que alguém se importa com isso. Coisas como “Loucuras de Verão” são a prova de que um filme pode ser sobre e para fãs de carros sem ser um desastre cinematográfico. A animação “Carros”, da Pixar, embora não seja perfeita, lembra que a vida sobre rodas faz parte da memória coletiva do país e que você não precisa nivelar por baixo para ter essa memória. Há um fio de esperança.
Resumidamente isto não é uma bronca, e sim um apelo. Adoro um bom filme e, apesar de quase ter jogado minha Coca-Cola na tela durante “Avatar”, não sou o crítico xarope que acha que tudo precisa ser como “Cidadão Kane”. Gosto de doces, gosto de filmes-B e gosto da arte de estupidez filmada. Eu só quero filmes misturados com um pouco de carros.

Francamente não acho que esteja pedindo muito. Adoramos os carros e adoramos filmes.
Se Hollywood pode fazer filmes sobre arqueologia no pré-guerra ou sobre uma droga de uma loja de discos para o público geral, por que não sobre carros? Por que nosso mundo não pode ser retratado de uma forma que não nos faça parecer macacos lobotomizados? E por falar nisso, quem assistiu a biografia do Senna?
P.S.: só para constar, a revista Hot Rod montou o que parece ser a lista definitiva de filmes sobre carros. Ficou boa pacas. Prepare seus torrents.
Menção honrosa:
- o documentário “Truth in 24“, sobre Le Mans com os Audi no papel principal
- “Desafiando os Limites“, mesmo sendo sobre uma moto, e não um carro
- “Ricky Bobby: à Toda Velocidade“, porque traz um piloto de NASCAR e a frase “Eu gosto de imaginar Jesus como um texugo travesso”.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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