6 de jul. de 2011

Teste: Jeep Grand Cherokee está de volta à trilha

  - Fotos: Pedro Paulo Figueredo / Carta Z Notícias
Teste: Jeep Grand Cherokee está de volta à trilha

Marcelo Cosentino
Auto Press


Na década de 90, ter um Jeep Grand Cherokee na garagem dava status. O utilitário americano era uma das grandes estrelas automotivas pós-abertura das importações. Na época, antes da febre dos SUVs na indústria, havia meia dúzia de modelos do gênero no mercado.
Quando chegou a segunda geração do “jipão”, em 1999, o segmento já estava superpovoado e as vendas do modelo despencaram no mundo todo. A terceira geração, surgida apenas cinco anos depois, não teve melhor sorte. A quarta e atual geração do Grand Cherokee, no entanto, mostra-se capaz de mudar o rumo dessa história. Ela foi construída sobre a plataforma da Mercedes-Benz Classe M – direito herdado da época da DaimlerChrysler – e traz a bordo da uma forte combinação de luxo e tecnologia. Quando desembarcou no Brasil, em dezembro de 2010, a ideia da Chrysler era conseguiu vender 700 unidades no ano inteiro. Errou o cálculo. Até maio, foram emplacadas nada menos que 842 Grand Cherokee.

A profunda renovação, além de requinte e recursos eletrônicos, incluiu ainda uma nova motorização e um capricho especial no acabamento. A Jeep oferece no Brasil duas versões: a de entrada Laredo, por R$ 154,9 mil, e a Limited, por R$ 174,9 mil. Surpreendentemente, a variante mais cara é a que melhor vende por aqui. Os R$ 20 mil a mais embarcam teto solar, sistema de entretenimento com tela de DVD traseira, ajuste elétrico do volante, detector de obstáculos dianteiros e traseiros, câmara de ré, retrovisores antiofuscantes, detalhes em madeira no painel e memória para banco do motorista, estações de rádio e posição do volante e dos retrovisores externos. Hoje, a Limited responde por 60% das vendas e a Laredo por 40% – novamente contrariando as expectativas da Chrysler, que apostava em um mix oposto.

Seja em que versão for, o Grand Cherokee não decepciona no visual. As linhas mesclam esportividade e robustez. Na dianteira, destaque para a tradicional grade frontal  em cromado brilhante com sete aberturas verticais. O novo conjunto ótico retangular, com faróis bixênon de dupla parábola, é bem mais estreito e forma um degrau em relação à grade. O para-choque frontal é cravejado por duas luzes de neblina redondas e, logo abaixo dele, há uma entrada de ar coberta por uma tela em formato de colmeia. Na parte inferior, fica visível a borda cromada do peito de aço. Na lateral, a fabricante foca na proposta de luxo com diversos detalhes em cromado: barra na parte inferior da porta, maçanetas e todo o contorno da área envidraçada. Na traseira, há duas faixas cromadas. Uma fica na base da tampa do porta-malas e outra liga as lanternas horizontais. Ela têm forma de trapézio invertido e são bem altas.

Sob o capô está o estreante Pentastar 3.6 V6. Este motor desenvolve 286 cv a 6.400 rpm e 35,3 kgfm de torque a 4.300 rpm. Todo em alumínio, ele trabalha com uma transmissão automática de cinco velocidades. O conjunto leva o SUV de 2.191 kg da inércia aos 100 km/h em 9,7 segundos. As novas linhas do modelo também contribuem para uma boa performance. É que, segundo a marca, o Cx de 0,37 representa uma redução de 8,5% no arrasto, comparado ao modelo anterior.

O novo motor impressiona pela agilidade, mas o grande destaque do Grand Cherokee é sua vasta lista de equipamentos. O SUV da Jeep traz a segunda geração do sistema de tração 4X4, chamado de Quadra-Trac II com dispositivo Selec-Terrain. Ele configura motor, transmissão e demais sistemas dinâmicos de acordo com o terreno selecionado – pode ser lama/areia, pedra, neve, esportivo ou automático. O  carro ainda está bem recheado de recursos de segurança: controle eletrônico de estabilidade, sistema antirrolagem da carroceria, freios ABS nas quatro rodas com detecção de pisos irregulares, partida do motor à distância, além de encostos de cabeças ativos, airbags dianteiros, laterais, do tipo cortina e de joelhos para o motorista.

Nesta quarta geração o Grand Cherokee também cresceu. São 4,82 metros de comprimento, 1,93 m de largura, 1,76 m de altura e uma distância entre-eixos de 2,91 m. Isso representa um crescimento de 5 cm em comprimento e 7,6 cm em largura em relação a geração anterior. Só a distância entre-eixos aumentou em 13,5 cm. No interior, também chama a atenção o painel frontal redesenhado, a utilização de materiais com “soft-touch” – macios ao toque – e os diversos detalhes cromados pelo habitáculo. Tudo para tentar devolver ao Grand Cherokee o antigo glamour de modelo premium.

Instantâneas

# A primeira aparição do Grand Cherokee no Brasil foi no Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro de 2010.

# Nos Estados Unidos, o Jeep Grand Cherokee Laredo 4X4 mais barato parte de US$ 32.215, o equivalente a R$ 51 mil. Por aqui o mesmo modelo sai de R$ 154,9 mil.

# A Chrysler conta com 32 revendas em todo o território brasileiro.

# Desde que foi lançado, em 1993, o Grand Cherokee vendeu mais de 4 milhões de unidades em todo o mundo.

# Além de ser usada na Classe M, a plataforma da Grand Cherokee é também usada em outros modelos da Mercedes-Benz, como Classe R e Classe GL e ainda no SUV Dodge Durango.

Ficha técnica

Jeep Grand Cherokee Limited

Motor:
Gasolina, dianteiro, longitudinal, 3.604 cm³, seis cilindros em V a 60º, quatro válvulas por cilindro e comando duplo no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.

Transmissão: Câmbio automático com cinco velocidades à frente e uma a ré com opção de mudanças manuais sequenciais atrás do volante e na manopla. Tração integral, com reduzida. Controle eletrônico de tração e cinco configurações para os dispositivos dinâmicos.

Potência máxima: 286 cv a 6.350 rpm.

Torque máximo: 35,3 kgfm a 4.300 rpm.

Diâmetro e curso: 96,0 mm x 83,0 mm. Taxa de compressão: 10,2:1.

Suspensão: Dianteira independente com braços curto e longo, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos de duplo efeito e barra estabilizadora. Traseira independente multilink, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos de duplo efeito, braço de controle inferior em alumínio, braços superiores independentes e barra estabilizadora. Controle eletrônico de estabilidade.

Freios: Discos ventilados na frente e discos sólidos atrás. ABS com EDB de série.

Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,82 metros de comprimento, 1,94 m de largura, 1,78 m de altura e 2,91 m de distância entre-eixos. Airbags dianteiros, laterais, do tipo cortina e para joelhos do motorista.

Peso: 2.191 kg em ordem de marcha, com 758 kg de carga útil.

Capacidade do porta-malas: 782 litros.

Tanque de combustível: 93,5 litros.

Produção: Detroit, Estados Unidos.

Lançamento desta geração: Novembro de 2010.

Lançamento no Brasil: Dezembro de 2010.

Ponto a ponto

Desempenho – Os 286 cv do motor Pentastar 3.6 litros V6 garantem boa desenvoltura ao Grand Cherokee, apesar de ter mais de duas tonelada. As primeiras investidas no acelerador revelam um comportamento um pouco tímido, mas logo a impressão se desfaz e a unidade de força mostra seu valor. Tanto que o zero a 100 km/h foi feito em 9,7 segundos. O propulsor oferece disposição em baixo regime, mas seu torque máximo, de 35,3 kgfm, só está inteiramente disponível a 4.300 rpm. O câmbio sequencial é de cinco velocidades, mas como a quinta marcha funciona como overdrive, há muita abertura no escalonamento das primeiras relações. Para uma condução mais esportiva é necessário usar o câmbio no modo manual. Nota 8.

Estabilidade – A plataforma Mercedes ampliou em 146% a rigidez torcional da Grand Cherokee anterior, segundo a marca. O utilitário americano torce o mínimo da carroceria nas curvas em alta velocidade e não ameaça desgarrar – mérito para a nova suspensão independente nas quatro rodas. Ao se exagerar, logo se nota os controles eletrônicos atuando para corrigir a trajetória. Nas retas, o modelo anda sempre colado no chão e algum sinal de flutuação aparece somente a partir dos 160 km/h. Nas frenagens bruscas, o Grand Cherokee mostrou um bom equilíbrio. Nota 8.

Interatividade –  O Grand Cherokee é dotado de um interior bastante prático. A maior parte dos comandos fica bem posicionado em relação ao motorista. O modelo ainda conta com um interessante sistema de som e GPS que pode ser acessado da tela de 4,5 polegadas sensível ao toque no console central – que não conta com instruções em português. A visualização do quadro de instrumentos é clara e objetiva e a ergonomia é muito boa – o modelo traz ajustes elétricos com memória de altura do volante, dos espelhos, estações de rádio e banco do motorista. Nota 9.

Consumo – O modelo testado fez a média de 4,9 km/l, em uso 2/3 na cidade. Não é surpreendente, mas é um número alto mesmo para um veículo com mais de duas toneladas equipado com um motor V6. Nota 6.

Tecnologia – O Grand Cherokee é o primeiro modelo da marca a ser equipado com o moderno motor Pentastar 3.6 litros V6 – com duplo comando de válvulas sobre o cabeçote e comando variável de válvulas. Além disso, o SUV traz o sistema Selec-Terrain com cinco configurações de terrenos para se adequar às condições de rodagem, e suspensões dianteira e traseira independentes. Apesar de a nova geração da ML já estar saindo do forno, o chassi de 2005 ainda é moderno. Fora isso, o Grand Cherokee oferece uma generosa lista de equipamentos. Nota 9.

Conforto – A suspensão independente na frente e atrás garante bom controle da carroceria e mais conforto para os passageiros. O modelo absorve exemplarmente as imperfeições da pista e trafega com suavidade. Além disso, há um generoso espaço para pernas e cabeças. Atrás, mesmo três adultos viajam sem apertos. Os bancos parecem abraçar o motorista e o passageiro e ainda dispõem de ajustes elétricos. O isolamento acústico se mostra sempre eficiente, mesmo em altas velocidades. Nota 9.

Habitabilidade – Entrar em um SUV nunca é tarefa muito fácil, já que a altura elevada não ajuda. Mas o Grand Cherokee apresenta bom acesso ao seu interior. O ângulo de abertura das portas dianteiras passou dos 67º do modelo anterior para os 78º do atual. Além disso, o porta-malas de 782 litros também está 11% maior. O modelo só peca na pequena quantidade de porta-objetos, embora os ocupantes da segunda fileira contem com revisteiros instalados nas costas dos bancos dianteiros. Nota 8.

Acabamento – A Jeep reverteu nesta nova geração da Grand Cherokee a tendência de “empobrecimento” apresentada em sua última geração. É claro que o modelo não está perfeito, mas certamente evoluiu. Os materiais usados na parte de cima do painel são agradáveis ao toque e aos olhos, e contam com a tecnologia nomeada “soft-touch”. Na parte inferior do painel foram usados os abomináveis plásticos rígidos. Fora isso, o Grand Cherokee traz couro nos bancos, volante e portas. Os encaixes são precisos e ainda há detalhes cromados que tentam transmitir um ar luxuoso. Nota 8.

Design – O Jeep Grand Cheroke se renovou por inteiro. E fez isso sem abrir mão do estilo clássico dos “jipões” nem da identidade da marca. As novas linhas do modelo trazem um visual robusto e ao mesmo tempo elegante – muito por conta dos diverso detalhes em cromado espalhados pela carroceria. O resultado final é um carro vistoso e que consegue atrair olhares nas ruas. Nota 8.

Custo/benefício – A versão topo de linha Jeep Grand Cherokee Limited parte de R$ 174,9 mil. É um preço elevado, mas fica bem abaixo dos R$ 191.500 pedidos pela requintada Land Rover Discovery 4 básica – as duas marcas são, de fato, as mais tradicionais de off-road no mundo. Os modelos que batem mais diretamente são Mitsubishi Pajero Full e Kia Mohave, que saem a R$ 169.900 na versão top. A Toyota SW4 mais cara vem em seguida, por R$ 167.200. Nenhum deles, porém, tem a tradição e os recursos off-road ou são tão modernos quanto o Grand Cherokee. Nota 7.

Total – O Jeep Grand Cherokee Limited somou 80 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Um Jeep com estilo

A Jeep caprichou para cumprir o  objetivo de recuperar o velho prestígio do Grand Cherokee. Logo de cara, é o design que chama a atenção. São linhas equilibradas, que denotam esportividade, requinte e robustez. O resultado é um Grand Cherokee moderno, mas com o estilo clássico dos “jipões”. Além de materiais nobres, encaixes precisos, texturas “soft-touch” e muitos detalhes em cromado e madeira. O material usado na parte inferior do painel é de plástico duro e a alavanca da caixa de marchas demonstra certa fragilidade. Já a vida a bordo é das melhores. Todos os ocupantes contam com espaço de sobra para pernas e cabeça e o motorista ainda tem a seu dispor alguns “mimos”, como ajuste elétrico da direção e dos bancos – com memória.

O responsável por mover o carro é o motor Pentastar 3.6 litros V6. As primeiras investidas no acelerador mostram que o câmbio trabalha um tanto “perdido” nas marchas iniciais. Mas o fôlego do propulsor de 286 cv e 35,3 kgfm de torque é elogiável. Apesar das mais de duas toneladas do “jipão”, foram necessários razoáveis 9,7 segundos para atingir os 100 km/h. Na estrada, o modelo chegou com facilidade aos 170 km/h e ainda apresentava disposição para mais – a marca fala em uma máxima de 206 km/h. Apesar do torque de 35,3 kgfm só estar disponível em sua totalidade aos 4.300 rpm, o Grand Cherokee demonstra arrancadas vigorosas – auxiliado pelo comando variável de abertura das válvulas.

O utilitário esportivo da Jeep tem boa estabilidade, independentemente dos vários dispositivos de segurança. Mesmo as curvas em alta velocidade são “vencidas” com decisão – e possíveis abusos corrigidos pelo sistema eletrônico de estabilidade. Méritos para a nova suspensão, capaz de controlar os movimentos da carroceria sem abrir mão do conforto. Já nas freadas bruscas, a traseira joga o peso para a frente e o modelo mergulha um pouco, mas nada exagerado. Neste momento entram em ação os freios com ABS e EBD para ajudarem a manter o SUV na trajetória e sob controle.

O Jeep Grand Cherokee se mostra um veículo muito agradável e capaz de conquistar um bom espaço no disputadíssimo segmento de utilitários esportivos de luxo. A evolução do modelo fica clara pelas vendas acima da média, mesmo apesar do preço “salgado” de R$ 174,9 mil da versão Limited.

Fonte: motordream
Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br

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