Um dia com o conversível na praia é o suficiente para lavar a alma e escurecer a pele
Hairton Ponciano Voz // Fotos: Fabio Aro
Bom, isso muda um pouco as coisas. O Facebook e o Orkut poderiam esperar. Idem para os spams. No início da manhã seguinte, lá estávamos eu, o fotógrafo Fábio Aro, a Merça e o Ricardo Fiorotto. Destino: Ilhabela. Mas onde entra o Fiorotto, diretor de arte da Autoesporte? Em outro carro, porque o SL já estava com ingressos esgotados.
A primeira boa impressão veio do porta-malas. Conversíveis normalmente têm pouco espaço para bagagens, mas para um carro dessa categoria até que o SL conseguiu acomodar bem a aparelhagem do Fábio Aro, que (desconfio) leva até o motor de seu Civic VTi em uma das malas, para garantir que ninguém andará no carro dele. Em números frios, o porta-malas do SL abriga 339 litros, praticamente o mesmo que os 340 l do Civic. Com a capota recolhida, a capacidade diminui para 235 litros. Mas o prazer aumenta muito. A gente chega lá, aguenta aí.
Tudo acomodado, partimos para a rodovia Ayrton Senna. Primeira escala: café da manhã no posto BR que fica no comecinho da estrada. Ali o padrão é Fasano – nos preços, bem entendido. Não sei se me viram estacionando a Merça, mas fui tratado como patrão (na hora de pagar). Em compensação, a cozinha segue a filosofia slow food: eta lanchinho demorado!
De volta à estrada, intimei o motorzão a mostrar o que sabia. Para ligar, não é preciso colocar a chave no painel. O lugar dela até está lá, mas basta apertar o botão (start-stop) no topo da alavanca de câmbio que o V6 acorda disposto. Para desligar, é só repetir a operação. Notou a frente longa? Ali cabe motor de 12 cilindros, caso do SL 65 AMG, equipado com um 6.0 de 612 cavalos. Meu SL por um dia estava apenas com a metade dos cilindros (V6) e praticamente a metade da potência (316 cv), mas não posso reclamar. A capacidade de aceleração impressiona, idem para o ruído que dele emana.
A AMG não pôs as mãos no motor 3.5 do SL 350, mas ele tem DNA de carro forte. E o ruído também foi estudado, para passar impressão de motor preparado. Na traseira, as duas saídas de escape ovais deixam evidente que houve preocupação sobre esse tema à exaustão – com perdão pelo trocadilho.
Graças ao torque de 36,7 kgfm, basta uma cutucada no acelerador para respostas instantâneas. A Mercedes anuncia 0 a 100 km/h em 6,2 segundos. A máxima é limitada a 250 km/h. Para um carro de 1.825 kg – e que está longe de ser o mais esportivo da linha SL –, está bom. O câmbio automático de sete marchas também “tem culpa”. “Fatiando” as relações em tantas marchas, as respostas são sempre eficientes, porque as marchas ficam muito próximas. Quando o motorista faz reduções no modo manual (há borboletas no volante), o câmbio pode reduzir até duas marchas, para elevar a rotação e melhorar as respostas. Claro que também nesse caso as reduções são acompanhadas de um vigoroso som do motor, para deixar a tocada mais emocionante. Com o pé embaixo, as trocas só ocorrem a 7.200 rpm, com a agulha batendo na faixa vermelha do conta-giros.
Nas curvas – não da estrada de Santos, mas da Mogi-Bertioga – foi a vez de convocar a suspensão. E mais uma vez o SL me convenceu de que um dia fora da redação não me faria nenhuma falta. O roadster (tipo de conversível dois lugares caracterizado pela frente longa e traseira curta) enfrentou a sequência de curvas com muita obediência, atendendo aos meus comandos de direção sem muitas reclamações dos pneus, e sem desvios de trajetória.
Vamos por partes: os pneus reclamaram muito pouco porque são muito largos e têm perfil bem baixo. Originalmente, o SL 350 vem com rodas aro 17 e pneus 255/45 na frente e atrás. “Meu” SL veio com (belas) rodas aro 19 assinadas pela AMG, e pneus de medida diferente: na frente, 255/35, atrás, 285/30. Com todo esse contato com o solo, e com o perfil tão baixo, não é de se admirar que o carro agarrasse nas curvas.
Mas os pneus não trabalharam sozinhos. A direção está bem direta em altas velocidades e leve em manobras de estacionamento. Isso significa que basta um ligeiro esterçamento para contornar curvas rápidas. Além disso, o volante é bem leve na hora de estacionar (ótimo para um carro de 4,56 m e com frente tão longa).
Ainda não acabou: tradicionalmente, a Mercedes produz veículos que privilegiam o conforto e o luxo. Com o SL não é diferente, até porque ninguém quer sofrer em um carro de US$ 212 mil (quase R$ 360 mil). Ao menos não mais do que já sofreu na hora da compra. No roadster, a empresa de Stuttgart conseguiu conciliar muito bem a firmeza necessária em um esportivo com a suavidade exigida em um automóvel da marca. Na dianteira, a suspensão é four-link. Na traseira, multilink. Há pouca inclinação da carroceria nas curvas, e o controle de estabilidade entra em ação de forma discreta, apenas para auxiliar o motorista em casos mais extremos, mas sem tirar o prazer da condução mais arrojada.
Quando precisei dos freios, eles não decepcionaram. São discos ventilados tanto na frente como atrás. Só uma coisa não agrada: numa época em que os freios eletro-hidráulicos proliferam, a Mercedes ainda insiste no pedal de freio de estacionamento. E o pior é que alguns modelos modernos, vindos da Coreia, também estão entrando nessa.
Afora esse detalhe que aproxima um pouco o SL da S10, praticamente tudo no interior do carro agrada. Os bancos de couro têm aquecimento e ventilação. Além disso, oferecem memória de posição para três usuários e vários ajustes elétricos, incluindo apoio lombar. O acabamento é exemplar, como de costume, e o espaço atrás dos bancos também é generoso. Acomoda mochilas, e tem dois compartimentos com tampa.
Vim até Ilhabela e não abri a capota? É que o tempo não estava muito bom e pegamos até uma leve garoa no caminho. Além disso, o trecho com o teto no lugar serviu para apreciar o isolamento acústico do roadster, por sinal muito bom. Mas então vamos lá. Agora que parte da bagagem do Fábio Aro (incluindo o motor do Civic) migrou para o carro do Ricardo Fiorotto, já posso acionar o comando elétrico que recolhe o teto rígido e o acomoda na parte superior do porta-malas.
A partir de agora a coisa muda, a começar pelo agradável ronco do motor, muito mais presente com a cobertura recolhida. Circulando pelo calçamento de Ilhabela, a suspensão não consegue isolar totalmente os solavancos e transfere um pouco de vibração para dentro. Mas andando devagar não há problema (lembre-se que os pneus traseiros têm perfil 30). Na ilha do litoral norte de São Paulo, nem senti falta do Airscarf, literalmente “cachecol de ar”, um sistema que sopra ar quente pelo encosto de cabeça. Pode ser útil na Europa, não aqui. Cadê o protetor solar, Mercedes?
MERCEDES-BENZ SL 350
PREÇO US$ 212.000
MOTOR Dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em V, 24 válvulas, gasolina
CILINDRADA
3.498 cm³
POTÊNCIA
316 cv a 6.500 rpm
TORQUE
36,7 kgfm a 4.900 rpm
TRANSMISSÃO
Automática, sete marchas, borboletas no volante
SUSPENSÃO
Independente nas quatro rodas, four-link na dianteira, multi-link na traseira
FREIOS
Quatro discos ventilados, ABS
PNEUS
255/35 ZR 19 (D)
285/30 ZR 19 (T)
DIREÇÃO
Hidráulica
DIMENSÕES
Compr. 4,562 m, largura 1,820 m, altura 1,317 m, entre-eixos 2,560 m
CAPACIDADES
Tanque 80 l
Peso 1.825 kg
Fonte:revistaautoesporte
Disponível no(a):http://revistaautoesporte.globo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário