20 de dez. de 2013
Como a Alfa Romeo se tornou o legado mais duradouro do fascismo
Alfa Romeo fez algumas das máquinas mais belas e arrebatadoras já feitas — caso do Tipo 33 Stradale, do GTAm, do 6C 2300. Todos eles são obras de arte indiscutíveis, e todas elas são o resultado do aparelhamento estatal instituído por Benito Mussolini.
É bem comum as pessoas esquecerem que Mussolini era o segundo ditador mais maluco da Segunda Guerra Mundial. Ele era o principal aliado de Adolf Hitler e estava obcecado pela ideia de construir não apenas uma nova Roma, mas fazê-la com o que ele considerava ser uma obra de de arte e esplendor e tudo aquilo que o Estado italiano e suas corporações poderiam oferecer. Ele também era totalmente fora da caixa. Sério. Veja seu QG em Roma:
Esta é sua própria face esculpida em um prédio que diz “SI” dezenas de vezes. Como eu disse, ele era muito louco.
Mussolini, assim como muitos ditadores antes dele, chegou ao poder em um golpe de estado em 1923, e se autoproclamou Primeiro Ministro. Em apenas dois anos, contudo, ele abandonou qualquer possibilidade de democracia e se transformou em um líder absoluto. Seus esquadrões paramilitares aterrorizaram a Itália, eliminando qualquer um que atrapalhasse seu caminho.
Assim como boa parte da Europa na década de 1920, contudo, a economia da Itália estava afundando. Benito Mussolini, sendo Benito Mussolini, decidiu que a economia italiana estava indo muito bem, então ele a nacionalizou. Na metade da década de 1930 ele anunciou que 3/4 da economia italiana estava sob controle estatal.
Esse carro da foto é o Alfa Romeo de Benito Mussolini, um 2300 MM 1937. Na foto lá de cima, na abertura, vemos Mussolini em um Alfa Romeo P3 2600 de corrida. Ele adorava essas coisas. Não contente em simplesmente ter um Alfa Romeo, contudo, Mussolini achou melhor estatizar a Alfa Romeo.
Para falar a verdade, A Alfa Romeo não foi tomada por Mussolini por que ele gostava de dirigir rápido, embora isso tenha sido conveniente. A Alfa foi fundada em 1910, como Anonima Lombarda Fabbrica Automobili (também conhecida como A.L.F.A.), mas no fim da década de 1920 a empresa já estava quebrando. Apesar de ter construído uma sólida reputação com seus esportivos e vitórias nas pistas, o grosso do orçamento vinha de contratos militares. No fim da Primeira Guerra Mundial os contratos acabaram, e a empresa começou a ir de mal a pior.
Em 1932 ela estava praticamente falida, e o novo Istituto per la Riconstruzione Industriale de Mussolini entrou em cena, tomando o controle de toda a empresa. O IRI foi criado como uma medida temporária para alavancar a economia italiana e a Itália de Mussolini, a Alfa Romeo foi uma de suas possessões.
A fabricante de carros de corrida tornou-se, então, uma entidade do Estado Fascista.
A IRI despejou dinheiro na Alfa, e não apenas para fazer mais contratos de defesa. Alguns dos carros mais famosos da Alfa foram fabricados neste período, incluindo o Alfa Romeo 8C e o Bimotore, um monstro de dois motores construído pelo próprio Enzo Ferrari. Normalmente você não acharia que uma estatal deve se envolver em negócios como o automobilismo ou carros de luxo, mas estamos falando da Itália, e Mussolini era tão bom de economia básica quanto suas noções de democracia.
Mesmo assim, quando a Segunda Guerra Mundial começou, quase toda a economia italiana era planejada pelo Estado e pela IRI. Somente a União Soviética tinha um nível maior de controle estatal da economia.
Mussolini foi deposto em 1943 por vários motivos explicados por muitos livros, mas para resumir a história, vamos considerar apenas que ser aliado de Hitler não foi uma boa ideia. Em 1945 ele foi assassinado por seus partidários e seu corpo foi pendurado em um posto de gasolina.
Quando a guerra acabou, levou algum tempo para a poeira baixar na Europa. Os países precisavam ser reconstruídos, não apenas economicamente, mas socialmente e politicamente, também. Milhões foram mortos e muitas cidades estavam em ruínas.
Uma das várias questões que os aliados encontraram ao reconstruir o continente, contudo, foi como reconstruir a indústria. Com a Itália tumultuada e o Plano Marshall ainda em sua fase inicial, os italianos se voltaram à única instituição nacional que ainda estava viva — a IRI, que tinha consigo a Alfa Romeo.
A Alfa Romeo acabou sendo uma parte dos vestígios do regime de Mussolini, e voltou a fazer o que sabia fazer de melhor. Eles faturaram o primeiro campeonato de Fórmula 1, em 1950, com Nino Farina e Juan Manuel Fangio no modelo 158.
Você talvez esteja pensando que a partir dali a IRI sai de cena e desaparece na história. Mas não foi isso o que aconteceu. Embora tenha sido criada como uma medida temporária por Mussolini, ela acabou se tornando uma força dominante na economia italiana nas décadas seguintes. Ela alavancou o crescimento econômico do país na década de 1960 e a Alfa Romeo cresceu junto com ela.
Alguns dos modelos mais bonitos e bem-sucedidos da Alfa Romeo foram feitos nas décadas de 1960 e 1970, enquanto a Alfa ainda fazia parte da IRI. Hoje, você deve saber que a Alfa é uma marca do grupo Fiat, mas isso só aconteceu em 1986, quando a Alfa acabou enterrada em dívidas e acabou vendida para a Fiat. Mesmo assim é surpreendente que a melhor fase da empresa, do fim dos anos 1940 até metade da década de 1980, tenha sido sob as asas do governo.
Quanto à IRI, ela acabou dissolvida em 2002.
[Fotos: MPW57, Marvin Raaijmakers]
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