25 de out. de 2013

Volvo V60 T6 R-Design: andamos na perua mais descolada do momento


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Turbobricks. Foi a primeira coisa que me veio a cabeça quando fui escalado para cobrir o lançamento da linha R-Design da Volvo. As peruas quadradas e turbinadas da marca sueca sempre foram um dos meus ícones automotivos e objetos de desejo, e por isso não precisei pensar muito antes de escolher o carro a ser avaliado: a perua V60 T6, com seu visual matador e um seis-em-linha turbo de 304 cv louco para roncar alto nas rodovias paulistas.

Quando a Volvo ensaiou concorrer com os modelos alemães que estavam em alta no Brasil, em 2011, escrevemos uma carta à marca, na qual sugerimos que ela parasse de tentar competir com os alemães e voltasse a assumir sua personalidade de sempre.
Nosso argumento era simples: o período de maior sucesso da marca sueca no país aconteceu quando eles não se apresentavam como rivais dos alemães, e sim como uma alternativa ao padrão da concorrência, porém com a mesma qualidade superior. O C30 é um bom exemplo; fez sucesso por sua ousadia no design e por não ter a pretensão de rivalizar com A3 e Série 1 — algo que nem conseguiria fazer devido ao seu perfil “coupé-hatchback”. Correu por fora e e foi bem sucedido, atendendo às estimativas da marca.
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Então veio o “super IPI” e abalou os planos de vendas da Volvo, que não tem grandes pretensões de se instalar no Brasil e por isso teve que acrescer 30 pontos percentuais ao IPI pago por seus carros. Isso levou a marca a rever sua estratégia no país.
Por isso a Volvo decidiu explorar o potencial esportivo inspirado pelo novo design de seus carros e iniciou uma manobra tão ousada quanto os vincos do vidro traseiro do V40: os modelos S60 e V60 serão vendidos apenas na configuração R Design. Nada de ABBA, apenas Backyard Babies. Aquela boa e velha Volvo está de volta!
A Volvo ofereceu à imprensa todos os modelos da linha R-Design, que é composta pelo crossover XC60, pelo sedã S60 e a perua V60 e o V40 — todos nas versões T5 e T6, com exceção desta última, disponível apenas na versão com motor quatro cilindros. Como este é o Jalopnik, a escolha era óbvia: a perua V60 T6, com seu seis-em-linha turbo de três litros e 304 cv muito bem aproveitados no caminho entre São Paulo e Indaiatuba, onde também dirigi o carro no Autódromo da Capuava.


Por fora

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A principal novidade da linha 2014 é a adoção da nova identidade visual da marca. As luzes de posição, antes espremidas entre a grade e os faróis, agora foram deslocadas para a parte inferior do para-choque, e a grade ganhou um novo formato e perdeu a borda cromada, formando uma dianteira sólida e agressiva, que evidencia o logo
O visual quadrado e conservador se foi faz alguns anos, mas as lanternas traseiras elevadas  — marca registrada das peruas da Volvo — continuam lá, agora conversando melhor com as curvas da carroceria, como a linha de cintura pronunciada ascendente, paralela à linha de teto em uma queda suave. Na traseira, os elementos mais distintivos da versão R-Design: o difusor de ar ladeado pelas duas ponteiras simples que dão vazão aos gases expelidos pelo seis-em-linha turbinado.  O pacote estético esportivo ainda é completado pelas rodas de 19 polegadas e pelos retrovisores prateados.
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Por dentro

Se você conhece algo da arquitetura escandinava, logo estará familiarizado com a cabine do V60. Seguindo a escola de design local, as linhas são simples e funcionais. O estiloso console central finíssimo, por exemplo, tem esse formato para abrir espaço a um porta objetos enquanto garante um toque de refinamento estético na cabine junto com os frisos prateados espalhados pelas portas, volante e difusores de ar. Os materiais têm muita qualidade — a borracha usada no paine é semelhante à usada no BMW Série 3 e no Mercedes E250 que testamos em agosto, por exemplo.
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Por falar no Mercedes, estes alemães sempre foram minha referência de ergonomia, mas encontrei no Volvo outra boa comparação neste quesito. Os controles elétricos dos bancos permitem precisão de ajuste, e a coluna de direção tem as regulagens de altura e profundidade com a maior variação que já vi. Se eu quisesse, poderia simular a posição de um Stock Car.  O volante tem o aro grosso, revestido com dois tipos de couro e detalhes prateados nos quais fica o emblema R-Design, um lembrete do potencial do carro, caso você esteja rodando tranquilamente, protegido do caos sonoro exterior pelo bom isolamento acústico da cabine e confortavelmente acomodado nos bancos de laterais altas.
Um recurso interessante é a interface digital do painel de instrumentos, que tem três temas (Eco, Performance e Elegance — adivinhem qual escolhi?) que variam a posição dos instrumentos e o destaque da leitura de acordo com o perfil selecionado — no tema Eco, por exemplo, o destaque fica para o consumo de combustível, enquanto o Performance exibe velocidade e a escala do conta-giros no instrumento central.
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A Volvo também preparou um equipamento bacana para os geeks e aficionados por tecnologia: um sistema de entretenimento multimídia com navegação GPS (iGO) e conectividade com a internet, no qual é possível acessar sites, ouvir música online, encontrar informações da Wikipedia sobre pontos de referência. Batizado de Sensus Connected Touch, o sistema é um opcional de R$ 7.190 instalado na concessionária.
Por ser uma perua com 2,77 m de entre-eixos, a V60 tem espaço suficiente para levar a família para um passeio radical. Tenho 1,85 m e consegui me acomodar confortavelmente no banco de trás enquanto o banco do motorista estava ajustado ao meu gosto. A linha de cintura crescente em direção à traseira reduz a área envidraçada e proporciona alguma privacidade aos ocupantes do banco traseiro.
Mas onde a V60 brilha é no espaço do porta-malas, que supera de longe os 450 litros do XC60. O compartimento tem volume de 692 litros, e pode ser organizado por uma divisória retrátil integrada ao assoalho. Quem disse que SUVs são espaçosos?

Como anda, como corre, como freia

No processo de transformação do V60 em R-Design, a Volvo deu à perua molas e buchas mais rígidas, amortecedores com mais carga, barra estabilizadora mais espessa, barra de amarração nas torres dos amortecedores dianteiros e rodas de 19 polegadas. Com as modificações o carro passou a rodar 15 mm mais baixo que as versões comuns.
Isso se traduz em firmeza e estabilidade direcional, mesmo em altas velocidades e sob frenagens de emergência, e baixa rolagem da carroceria. Na cidade, os remendos do asfalto não chegam a incomodar, mas você nota cada um deles, e ao passar por piso irregular como paralelepípedos, os pneus Continental de perfil baixo (235/40 R19) não colaboram com a suspensão esportiva e o carro chacoalha irritantemente.
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No trecho rodoviário, cada saída de pedágio é uma boa pedida para checar o fôlego do carro para retomadas, por isso na primeira praça passei pelas cabines a 40 km/h, reduzi uma marcha e afundei o acelerador. O seis-em-linha roncou forte e despejou seus 44,9 mkgf de torque e 304 cv de potência quase imediatamente nas quatro rodas. Segundo a fábrica, o zero a 100 km/h leva 6,2 segundos. Minhas costas colaram no banco e em poucos segundos eu já estava no limite de velocidade da Rodovia dos Bandeirantes, e alucinado com aquela música mecânica. É preciso um bom controle mental para não mandar as regras de convívio social para o espaço e começar a dirigir como um maníaco.
Sorte que o autódromo estava logo à frente.
O autódromo em questão é o da Fazenda Capuava, onde conheceríamos melhor o potencial dinâmico do V60. O traçado curto, estreito e bastante técnico, com pontos de freada em descida, curvas em rampa, mergulhos e pontos cegos abusariam deste esportivo de 1.740 kg, mas não consigo imaginar jeito melhor de conhecer as manhas de um carro.
Ainda não conhecia a pista, por isso tive que dividir o tempo entre o reconhecimento do traçado e a avaliação do carro em si. Na segunda volta (a primeira lançada) cruzei a reta da Capuava a quase 150 km/h e na freada da curva descobri a boa modulação do pedal do freio. Com peso moderado e atuação sutil, é fácil acertar a força ideal de frenagem sem pensar muito.
O V60 T6 usa câmbio automático de seis marchas com trocas (bem rápidas) por borboletas no volante e despeja 304 cv e 44,8 mkgf nas quatro rodas. Um clique reduz a marcha na entrada da curva, faço o contorno um pouco quente demais e a tal tendência sub-esterçante dos carros com tração integral dá as caras — tive a impressão de que o peso do carro tem alguma influência nisso. As saídas de frente ativam o sistema de controle dinâmico de estabilidade tração (DSTC), então é uma boa pedida desligá-lo, caso você queria extrair o máximo do carro. Como tenho pouca experiência em pista e esta foi minha primeira vez na Capuava, achei melhor deixar tudo ligado.
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Chegando no trecho travado — uma sequência de esses que começa com uma rampa seguida de um mergulho — a suspensão recalibrada a neutralizar a transferência de peso no vai-e-volta do asfalto. A carroceria só balança se você fizer movimentos muito bruscos, como nessa foto acima, feita justamente quando me perdi nos esses. Nesse trecho também fica claro o acerto da direção, que, apesar de parecer pesada no início do giro, tem boa progressão, precisão e comunicatividade.


No vídeo acima está minha primeira volta na pista, ainda sem as manhas do traçado ideal e por isso com alguns erros. Embora não seja um exemplo de pilotagem, você conseguirá notar como a frente tende ao sub-esterço, a velocidade das trocas do câmbio automático e, claro, o ronco empolgante do seis-em-linha. Aqui vale uma dica para quem quer frequentar track days e aprimorar sua técnica: ver seu próprio estilo de condução gravado é uma forma excelente de identificar seus vícios e pontos fracos, tanto do traçado quanto da técnica. Você é seu próprio instrutor.

Bottom line

O grande atrativo da Volvo sempre foi a relação custo / benefício, especialmente para quem não liga para o status da marca. Eles podem não ser tão refinados dinamicamente como o trio de luxo alemão, mas esse refinamento é de uma sutileza raramente percebida pela maioria dos consumidores. Lembra quando a BMW descobriu que 80% de seus clientes não sabiam que os carros da marca têm tração traseira? É isso.
Onde quero chegar? Bem, o Volvo V60 R-Design é um esportivo fácil de guiar, com acabamento primoroso e tudo o que se espera de um importado “premium” em termos de equipamentos e conveniência a bordo. Com exceção do status da marca, ele tem tudo o que os consumidores procuram em um carro desse nível de desempenho, porém cobra um preço muito mais barato.
Se você acha que o status e aquele sutil refinamento dinâmico dos alemães como o Audi S4 Avant (333 cv – R$ 350.000) ou BMW 335i (304 cv – R$ 304.000) vale a diferença próxima dos R$ 100.000 reais na etiqueta, vá em frente — o valor do fator emocional é difícil de ser calculado. Mas quem for capaz de abrir mão do emblema na grade e conviver com a personalidade mais  descompromissada e as imperfeições dinâmicas do Volvo, terá no V60 a barganha do ano.

Ficha técnica: Volvo V60 T6 R-Design

Motor: seis cilindros em linha, transversal, 2.953 cm³, 24V, gasolina, turbo
Potência: 304 cv a 5.600 rpm
Torque: 44,8 mkgf entre 2.100 rpm e 4.200 rpm
Transmissão: automática, seis marchas com trocas manuais por borboletas, tração integral
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson e traseira do tipo multilink
Freios: Discos ventilados nas quatro rodas
Pneus: 235/40 R19
Dimensões: 4,63 m de comprimento, 1,86 m de largura, 1,48 m de altura e 2,77 m de entre-eixos
Peso: 1.737 kg
Itens de série: ar-condicionado dual zone, sistema detector de pedestres e ciclistas, airbags frontais, laterais e de cortina, sistema multimídia com tela de sete polegadas, leitor de DVD, mp3, entrada auxiliar, GPS e controle no volante, bancos dianteiros elétricos, bancos de couro, teto solar elétrico, computador de bordo, piloto automático, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, sensores crepuscular e de chuva, espelhos elétricos retráteis e com desembaçador, farois de xenônio com lavador e lanternas e piscas em LED.
Preço: R$ 209.950 (outubro de 2013)

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