27 de out. de 2013

A BMW faz o mesmo carro há 50 anos, mas parece que ninguém lembra disso


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A BMW vem construindo exatamente o mesmo carro por 51 anos e todos parecem surpresos quando digo isso. Estou me referindo ao arquétipo do BMW, o sedã pequeno e esportivo. Isso começou em 1962, quando o BMW 1500 — o primeiro da “Neue Klasse” — tornou-se o 2002 em 1968, depois o Série 3 e atualmente, depois de um pequeno desvio na Série 1, continua com o Série 2.

É curioso que os entusiastas nem sempre lembrem desta consistência incrível, uma vez cada “novo” BMW que segue esta fórmula simples é aclamado como um “retorno às raízes da marca”. Isso por que todos os fãs de carros sofrem de dois problemas crônicos: a Síndrome da Ressurreição do Neue Classe, e o Distúrbio do Bloqueio Mental Bávaro.
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Vamos começar com a primeira. A Síndrome da Ressurreição do Neue Classe (SRNC) é uma condição que afeta os fãs de carros sempre que um novo sedã compacto e esportivo é lançado, especialmente se for da BMW. Pegue por exemplo o BMW M235i. Com o anúncio de seu lançamento, repentinamente todos os entusiastas aclamaram a BMW como a redentora da indústria automotiva por finalmente fazer carros que os jovens desejam novamente, dando esperança aos gearheads torturados por direções elétricas coreanas e controles de tração que você não pode desligar.
Esses sintomas são geralmente seguidos de fotos do carro ao lado do BMW 2002, daí o nome de “Síndrome da Ressurreição do Neue Classe”. Todo sedã esportivo compacto de duas portas da BMW é visto como um surpreendente retorno à forma clássica, quando na verdade ele apenas é o que sempre tem sido.
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E sobre o Distúrbio do Bloqueio Mental Bávaro? Ele está ligado à SRNC, e é a principal responsável pelo que chamo de “E30ização” dos BMW. O Distúrbio do Bloqueio Mental Bávaro acontece quando os fãs esquecem da última geração de esportivos compactos da BMW e aclamam os esportivos de duas gerações anteriores. Há uma fórmula simples para saber qual BMW será o alvo dos que sofrem do Distúrbio do Bloqueio Mental Bávaro:
Pegue a última geração de um modelo BMW. Esta carro você chamará de pesado, complicado e entediante. Hoje esse carro é o BMW Série 3 E90.
Pegue a penúltima geração de um modelo BMW. Este carro você chamará de leve, simples e empolgante. Hoje este carro é o Série 3 E46.
O BMW E46 era um carro leve para a sua época? Não. O M3 E46 (o mais aclamado atualmente), pesava cerca de 1.490 kg. Este M3 tinha tantos controles eletrônicos que, quando o Top Gear o avaliou em seu lançamento, eles transformaram todas as siglas em um trava-língua. Relembre a cena no vídeo abaixo (a 1:05):


Hoje, quando se fala do E46, ele é visto como “o último BMW puro e simples, um futuro clássico de uma época na qual as intervenções computadorizadas não se sobrepunham ao projeto do carro. Não era o caso em 2001, mas agora, 12 anos depois, isso parece verdadeiro graças ao Distúrbio do Bloqueio Mental Bávaro.
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Logicamente o Distúrbio do Bloqueio Mental Bávaro não é novo, e as pessoas já estão especulando sobre o grau de coletabilidade dos BMW de duas gerações atrás, comparando-os à simplicidade e à pureza do E30. Você talvez lembre que o 1M foi visto como um “retorno ao E30″ pouco depois de terem dito o mesmo sobre o M3 E90.
Um bom indicativo das causas deste distúrbio, é que os preços do M3 E30 dispararam e continuam a subir. Em pouco tempo o M3 E46 passará por uma inflação semelhante, e mais adiante será a vez do 1M.
Até o E36 sofrerá esta inflação, apesar do fato de ainda serem renegados pelos fãs hardcore da marca ou encontrados aos pedaços nas mãos de donos pouco zelosos.
Por isso, quando seu amigo dizer que os novos BMW Série 3 ou 2 é “um retorno às raízes da marca” e que “finalmente ela está fazendo carros interessantes de novo”, diga que todos os lançamentos recentes da marca são assim.
E quando seu amigo dizer que os modelos atuais são pesados e enormes e inúteis, peça para esperar cinco ou seis anos, quando eles se tornarão leves e esportivos e maravilhosos de novo.
Parece que os BMW são relativos, e que seu status de carro para quem gosta de dirigir não é apenas uma função de suas qualidades mecânicas e eletrônicas, e sim pelo que o cerca no mundo automotivo. Um BMW não é a soma de suas peças, mas sim a soma de suas memórias coletivas.
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[Foto: BMW, DMAXP]

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