Com 553 cv, superesportivo é domável por mãos inexperientes, graças ao novo sistema de tração
por GIULIA LANZUOLO, DE NEWPORT BEACH (EUA)
A Nissan GT-R Track Edition é a mais nervosa das três versões do cupê.
Com 1.722 kg, é também a mais leve da tríade. Mas no dia em que encostei
nos pedais desse carro, certamente sentia um peso muito maior do que
essa tonelada e meia nas costas. Era a primeira vez que dirigia um
superesportivo capaz de despejar 553 cv nas quatro rodas. Nos Estados
Unidos, são apenas 150 unidades disponíveis do japonês. Tento apagar
esses dados da cabeça, ouço as instruções técnicas, coloco o capacete e
me esforço para assimilar as curvas da pista de 2,4 km, numa base
militar desativada na Califórnia.
Na fila, espero minha vez enquanto ouço o barulho ensurdecedor dos
motores e pneus cantantes do GT-R Nismo GT3 e Juke Nismo, modelos que
compartilhavam a pista naquele dia. Entro no cockpit (não é exagero
chamar assim) e tento me acomodar, mas a soma entre um capacete
destrambelhado e um banco concha de couro com costuras aparentes não é
nada oportuna. A Nissan insiste que o GT-R se adapta tanto ao uso diário
quanto às situações de alta performance. Mas convenhamos... um carro
que vai a 100 km/h em 2,7 segundos, cujas suspensões foram desenvolvidas
no circuito de Nürburgring está mais para pilotar do que para dirigir.
Outra evidência desse DNA é que o GT-R Track Edition serviu de base
para a elaboração do GT3, modelo de competição usado na FIA GT Series.
Os dois têm quase a mesma potência, com uma diferença de 3 cv do amador
para o profissional.
Confesso que estava com medo de pôr à prova essa potência, mas foi
difícil resistir à empolgação do piloto que me acompanhava. A cada
manobra, ele soltava um “go, go, gooo!” mais alto que o outro. Na pisada
mais sutil, o carro arrancou e meu corpo foi pressionado para dentro do
banco. Por um momento, achei que não fosse conseguir fazer as curvas.
Mas fica difícil algo dar errado devido ao sistema de tração integral
com transmissão da traseira independente, o primeiro do mundo a adotar
essa configuração, segundo a montadora. Isso melhora a distribuição de
peso, a capacidade de manejo e a aderência dos pneus.
Além da bem-vinda tecnologia, tive sorte de a pista ser tipicamente
americana, ou seja, com poucos trechos de alta exigência técnica,
priorizando intervalos extensos, para teste de alta velocidade. Assim,
consegui me virar bem, ou melhor, sobreviver às três curvas fechadas e
aos três zigue-zagues. Com pouquíssimos desníveis e formato
quadrangular, o percurso virou o cenário ideal para tentar alcançar os
350 km/h de máxima. O quanto cheguei perto disso, não dá para saber. A
adrenalina foi alta demais para prestar atenção no painel.
Refeita da emoção do teste-pilotagem, consegui enfim reparar na beleza
escultural do esportivo. Muitos adorariam ter esse gostinho de
experimentar o GT-R por pouco menos de três minutos, mas esqueça a
possibilidade. A Nissan não planeja lançar o carro no Brasil, devido ao
alto investimento que as revendas teriam de fazer para atender a poucas
unidades. Uma pena, mas a filial brasileira ainda não curou o trauma das
fracas vendas do cupê 350Z no fim da última década.
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