Numa família de humanos, por mais que os pais tentem dar o mesmo tipo de educação e carinho aos seus filhos, você não pode esperar que irmãos tenham temperamento parecido. Numa família de carros que compartilham componentes, porém, é normal que eles mostrem semelhanças de comportamento.
Foi por isso que ao testar o novo Rav4, que acaba de desembarcar no Brasil nesta quarta geração, me atentei às novidades do SUV, é claro, mas também aproveitei para ter uma ideia de como será dirigir o novo Corolla que chega por aqui em março de 2014. Ainda que os dois não dividam exatamente a mesma plataforma (há diferenças em reforços estruturais, suspensão, etc), o SUV antecipa muito do conjunto mecânico a ser usado pelo sedã, como o motor 2.0 VVTi (que no Corolla é flex) aliado à nova transmissão automática CVT.
Mas antes de acelerar a versão de entrada (2.0 4×2) do novo utilitário-esportivo, vamos dar uma volta – em torno dele. “Como você cresceu rápido!”, diria aquela tia que chegava apertando sua bochecha quando você era pequeno, se ela fosse tia também do Rav4. O modelo, que nasceu como um jipinho curto de duas portas (para o Brasil só veio o modelo quatro portas), tinha mais ou menos o porte de um EcoSport até a segunda geração. Na terceira ele deu uma bela espichada e, agora, basicamente sedimentou o salto de categoria. Com 4,57 m de comprimento e 2,66 m de entre-eixos, hoje ele compra briga direta com o Honda CR-V e promete também atormentar a vida dos coreanos Hyundai ix35 e Kia Sportage. A Toyota quer emplacar nada menos que 800 unidades do modelo por mês.
Já para dentro, estepe!
O novo Rav4 é o primeiro Toyota a exibir, no Brasil, a nova identidade visual da marca. As formas estão notadamente mais arrojadas (embora a segunda geração ainda seja a mais ousada para sua época, na minha opinião), como podemos notar pelos faróis de formato irregular e pelas lanternas saltadas da carroceria, na parte traseira. É atrás, aliás, que reside uma das principais alterações em relação à versão antiga. Como tem sido comum nos novos SUVs, o Rav abandonou a solução do estepe pendurado na tampa em favor de guardá-lo embaixo do forro do porta-malas, OK, o visual e a segurança (pois o estepe não atrapalha mais a visibilidade traseira) podem ter sido beneficiados, mas o tamanho do bagageiro… Como a Toyota manteve o estepe com a mesma medida dos pneus originais, acabou que agora há um ressalto no já raso porta-malas. O resultado é que a capacidade foi reduzida de 547 para 476 litros. Outra novidade é que a tampa abre para cima, e não mais para o lado como antes.
Se as bagagens vão mais apertadas, os passageiros nunca tiveram tanto espaço. O assoalho um pouco alto deixa os joelhos levemente para cima, mas o piso traseiro é praticamente plano e o banco tem um ajuste bem interessante. No máximo de reclinação do encosto, os ocupantes traseiros viajam quase como nas poltronas reclináveis de aviões. Na frente os bancos são grandes e acomodam bem o corpo. E, como tradição na Toyota, os principais comandos estão bem à mão e dispõem de botões grandes para fácil manuseio.
O painel de linhas retilíneas não é exatamente a última palavra em termos de modernidade e o ambiente interno é simples, mas não dá para reclamar do acabamento. Embora a maioria das peças seja de plástico rígido, o tato delas é agradável e as texturas ajudam a transmitir qualidade à cabine. Interessante também é o toque emborrachado da cobertura central do painel, que imita couro até nas costuras (revestimento que realmente existe nas versões mais caras). Há também uma imitação de fibra de carbono nas portas e console central, de bom efeito visual.
Mas o lado conservador da Toyota volta a falar mais alto quando reparamos no interior com mais atenção. Daí encontramos, por exemplo, aquele velho reloginho digital com os botõezinhos de ajuste da hora ao lado do visor, que a Toyota deve ter contrato vitalício com o fornecedor. O visor do som desta versão também tem aspecto antigo e simplório, em oposição ao sistema com tela sensível ao toque oferecido nas versões mais caras. Outro voto de pobreza é a alavanquinha no assoalho para abrir o tanque de combustível, que merecia ser um botão de acionamento elétrico num carro desse preço. Mais sinais de economia? Sim: apenas a janela do motorista tem comando “um toque”, só para descer, e somente o botão dela fica iluminado à noite – os outros, incluindo os de ajuste e rebatimento dos retrovisores, ficam na escuridão. Por fim, as portas não travam automaticamente ao rodar com o carro.
CVT “justinho”
É justamente em movimento, entretanto, que o Rav agrada mais. De partida, a posição de dirigir elevada com a visão do capô e seus “ombros” destacados transmite sensação de imponência (e também de que o SUV é mais largo do que realmente é). Uma sensação reforçada pela forma competente com que o modelo absorve os buracos, quebra-molas e valetas, apesar de a suspensão ter ficado sensivelmente mais firme que na geração anterior. Isso significa também que o utilitário está mais obediente ao volante, inclinando menos a carroceria nas curvas (embora os pneus comecem a chiar cedo) e frenagens mais fortes. A direção elétrica está bem acertada, com maciez nas manobras e “comunicação” suficiente com o motorista em velocidades de estrada. Mas o melhor comportamento do novo modelo não justifica a lamentável ausência do controle de estabilidade (ESP) em toda e qualquer versão do Rav4 – mesmo a topo de linha.
Olhando o porte do novo Rav4, cheguei a temer pelo desempenho dessa versão 2.0. Mas, após uma certa hesitação nas saídas, até que o carro desenvolve de forma satisfatória, sem dar impressão de falta de força. Para um modelo de 1.525 kg com 145 cv de potência e 19,1 kgfm de torque, a aceleração de 0 a 100 km/h em 12,2 s obtida em nosso teste pode ser considerada boa. O bloco 2.0 16V é basicamente o mesmo do atual Corolla (que será mantido na nova geração), com comando duplo variável, bom torque em baixas rotações e funcionamento agradável, sem ruídos ou vibrações incômodas. Aliás, o silêncio a bordo é um dos destaques.
Os maiores méritos, porém, vão para a nova transmissão CVT. Geralmente não gosto muito da forma como os carros com esse tipo de câmbio andam “soltos”, mas isso não acontece com o Rav. Ele parece sempre “justinho” e pronto para responder ao acelerador, sem perder a suavidade característica do sistema variável, em que não há trocas de marcha. Operando com o giro do motor baixo na maioria do tempo, o consumo ficou em bons 9,7 km/l na cidade e 13,2 km/l na estrada. Surpresa também foi encontrar trocas absolutamente rápidas no modo manual, que simula sete marchas (ou sete posições definidas no sistema de polias). Assim, é possível comandar o Rav4 com maior controle quando se anda rápido, fazendo reduções antes das curvas. Temos, em suma, uma transmissão que deverá cair como uma luva no novo Corolla, ainda mais se o sedã trouxer borboletas na direção como o atual. Segundo uma fonte ligada à Toyota brasileira, esse câmbio CVT será ainda mais esperto no Corolla, com relações mais curtas que no Rav4.
Com o CR-V na mira
Como antecipado no começo do texto, a Toyota fez o novo Rav4 com a foto do CR-V colada na parede. Acabou que os rivais ficaram parecidos não somente no porte e estilo, mas também nos preços. E, nos dois casos, a conta é um pouco salgada: iniciais R$ 96.800 para o Rav e R$ 98.900 para o CR-V (mesmo o Honda vindo do México sem pagar imposto de importação). Contra o Rav há o fato de ser o único não flex da parada, enquanto os coreanos Kia Sportage (R$ 88.900) e Hyundai ix35 (R$ 87.200), além de mais baratos, levam a melhor em desempenho por conta dos valentes 178 cv do motor 2.0 16V.
Essa versão de entrada também não traz nada demais em relação aos equipamentos, para um carro que beira os R$ 100 mil: direção elétrica, ar-condicionado analógico, duplo airbag, rádio/CD/Bluetooth/USB e auxiliar com comandos integrados ao volante, faróis de neblina, sensor de estacionamento e freios ABS com EBD e sistema de assistência em frenagem de emergência (BAS). De todo modo, o novo Rav4 está muito mais inserido na briga dos SUVs médios do que o modelo anterior, e deixa, sim, boa expectativa sobre o futuro Corolla. Só esperamos que a Toyota seja um pouco mais generosa na lista de itens de série do sedã.
Por Daniel Messeder
Fotos Rafael Munhoz
Ficha técnica – Toyota Rav4 4×2
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 1.987 cm3, 16 válvulas, comando duplo variável, gasolina; Potência: 145 cv a 6.200 rpm; Torque: 19,1 kgfm a 3.600 rpm; Transmissão: câmbio automático variável CVT com sete marchas simuladas, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: Independente Mac Pherson na dianteira e braços triangulares sobrepostos na traseira; Rodas: aro 17 com pneus 225/65 R17; Freios: discos ventilados na dianteira, sólidos na traseira, com ABS; Peso: 1.525 kg; Porta-malas: 476 litros; Dimensões: comprimento 4.570 mm, largura 1.840 mm, altura 1.710 mm, entreeixos 2.660 mm;
Medições CARPLACE
Aceleração
0 a 60 km/h: 6,0 s
0 a 80 km/h: 8,7 s
0 a 100 km/h: 12,2 s
Retomada
40 a 100 km/h em Drive: 8,6 s
80 a 120 km/h em Drive: 8,3 s
Frenagem
100 km/h a 0: 43,6 m
80 km/h a 0: 26,7 m
60 km/h a 0: 14,8 m
Consumo
Ciclo cidade: 9,7 km/l
Ciclo estrada: 13,2 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: N/D
Consumo cidade: N/D
Consumo estrada: N/D
Velocidade máxima: N/D
Participe! Deixe aqui seu comentário. Obrigado! Disponível no(a):http://carplace.virgula.uol.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário