O Continental Flying Spur era uma peça chave no revival da marca promovido pelo Grupo Volkswagen. E ele foi renovado para 2014. Mas será que o Bentley Flying Spur 2014 é o mesmo sedã ultra-luxuoso anglo-saxão de antes ou ficou ainda mais magistral? É o que vamos descobrir.
Por volta de 1997 a fabricante de carrocerias H.J. Mulliner & Co. colocou uma carroceria atlética e elegante de sedã sobre o chassi de um Rolls-Royce Silver Cloud II e criou o molde para o sedãs britânicos de luxo: o Bentley Continental Flying Spur. Assim, dois caminhos distintos para os carros de luxo na Gã-Bretanha foram traçados.
Hoje em dia, porém, a única contribuição da Mulliner para a Bentley é seu nome. Par quem comprar o Bentley Flying Spur 2014, o nome Mulliner Edition significa um pacote de opcionais que inclui couro com costura em losangos, uma gama mais ampla de cores para a carroceria e madeiras de lei para o interior, e belas rodas de 21 polegadas. Não estou dizendo que o novo Spur não é digno de sua linhagem, só estou dizendo que as coisas mudaram um pouco desde os anos 50.
Naquela época, o nome Continental era reservado a modelos mais baixos e fluidos, feitos para vias de alta velocidade, de que o Reino Unido carecia. Com o revival nos anos 80, e ao longo da compra pelo grupo Volkswagen, a Bentley colocou o foco no conforto e na dinâmica que misturava o que havia de melhor na Alemanha e na Inglaterra: peso elevado, molas firmes, amortecedores meticulosamente ajustados e agilidade surpreendente. A estratégia colocou o Continental Flying Spur entre os melhores sedãs executivos na Autobahn, e aumentou as vendas — foram 20.000 unidades da primeira geração vendidas desde 2005 — mas limitou seu público à crescente parcela rica da população que leva seu lugar no banco de trás tão a sério quanto nós levamos o ato de dirigir.
Mas você percebeu que a Bentley separou o Spur do resto da família Continental? Esta última abriga apenas os GT de duas portas, agora. É um sinal de que a Bentley está tentando reposicionar o Spur. Cuidado, Rolls-Royce: tem outra marca britânica nas mãos de alemães tentando conquistar os traseiros almofadados dos seus clientes!
E é por isso que fomos para a China a convite da Bentley. Se a taxa de crescimento do país continuar estável, a China se tornará o maior mercado nacional da Bentley na segunda metade da década, e Pequi, já é a cidade que mais compra o Flying Spur. A razão é tão simples quanto estarrecedora. A camada mais alta da população não quer discrição, e sim prestígio. Eles querem ser conduzidos, não conduzir, e querem que a experiência no banco de trás seja luxuosa e elegante, não firme e robusta. Com o trânsito e barulho da capital chinesa, quem pode culpá-los?
Se este for o caso, então os capitães da indústria chinesa vão adorar este novo Spur, de sua elegante silhueta renovada ao interior suntuoso, passando pelo novo ambiente do banco traseiro com novo isolamento acústico — e 40% mais silencioso do que o do modelo anterior.
Os chauffeurs profissionais da China vão adorar a suave caixa automática ZF que executa trocas em baixa quase interceptíveis no trânsito pesado do país. Durante viagens de cidade a cidade pelas rodovias planas e vazias que a China parece construir da noite para o dia, eles também poderão saber como é ser atirado de um canhão em um carro de luxo de 2.450 kg. Mas não se iluda: este é um legítimo sedã de 320 km/h que pode ir de 0 a 100 km/h em 4,3 segundos, e a 160 km/h em 9,5 segundos.
Sim, mais luxuoso, e mais rápido e ágil que seu antecessor (e também ligeiramente mais leve, 50 kg). Ele não perdeu a direção hidráulica precisa e a surpreendente agilidade ao contornar estradinhas rurais, embora seu conjunto mecânico tenha sido planejado para tratar bem os passageiros.
Talvez tudo isto faça com que o Spur perca alguns clientes no continente, mas ele certamente ganhará novos fãs em outros lugares. Claro, com mais mimos aos passageiros e um foco mais suave na dinâmica, o novo Spur é um pouco mais Rolls e menos Bentley do que antes. Mas com aquela velocidade máxima e seus apetrechos luxuosos no interior, talvez o Spur crie um novo clube dos 320 km/h — um que os nobres cavalheiros da década de 50 aprovariam com louvor.
Por fora
O novo Spur é grande, pode ter certeza, mas a carroceria é bonita, chamativa e um pouco mais voltada para o estilo chique dos gângsters do que antes. Uma linha de caráter múltipla que destaca os para-lamas dianteiro e traseiro acena para o antigo “arco duplo” dos anos 50, enquanto um vinco bem marcado na linha das portas liga uma nova saída de ar enfeitada com um “B” até as maçanetas traseiras. A linha do teto é mais baixa, a postura é mais musculosa e o fator “sai da frente” é alto.
Por dentro
Se você curte interiores cheios de advérbios, carregados de peles cheias de costuras, forração em madeira texturizada e botões extremamente bem ajustados, você vai ficar doente pelo Spor. Para os passageiros dos bancos de trás, a versão mais cara — com mesinhas de madeira folheada, cooler para champagne e telas de 10 polegadas — dá aos passageiros o mesmo banho de luxo a que eles estão acostumados com o Bentley Mulsanne e os Rolls Phantom e Ghost.
Como anda
O sistema de gerenciamento do motor W12 recebeu uma atualização no algorítimo, e todo o torque do Spur (81,6 mkgf) já está disponível em 2.000 rpm. Os 4,3 segundos (chutando por baixo)que ele leva para ir de 0 a 100 km/h também são difícieis de acreditar em um carro que pesa tanto quanto um hipopótamo adulto bem alimentado. Muito disto se deve à tração impressionante dos P-Zero e da tração integral que pode direcionar até 85% da força para as rodas traseiras e até 65% para as rodas dianteiras quando necessário, com uma divisão básica de 40/60 (frente/traseira).
Como freia
Discos ventilados enormes, de 15,9 polegadas na frente e 13,2 polegadas atrás, freiam o Spur de forma linear e rápida, com um pedal que pende mais para o lado macio.
Suspensão
Com a nova ênfase no conforto, a suspensão do novo Spur foi significantemente amaciada. Agora o controle de rolagem da carroceria ficou mais suave, as molas pneumáticas dianteiras e traseiras e as barras anti-torção estão mais complacentes, e há buchas por toda parte. Mesmo na mais firme das quatro configurações o carro não fica duro demais. E na mais macia, o Coupe DeVille 1974 interior do carro vem à tona, mas com bem menos daquela rolagem que a Cadillac associava com conforto.
Dinâmica
Graças à direção pesada, responsiva e relativamente comunicativa — a Bentley permanece fiel à assistência hidráulica, e aos amortecedores no ajuste mais firme, o Spur é notável por sua agilidade para cruzar até mesmo as estradas mais sinuosas e irregulares do interior da China.
Câmbio
A caixa ZF de oito velocidades é a melhor automática da atualidade em termos de suavidade nas trocas ascendentes e reduções, — mesmo em situações de anda-para — e agilidade, especialmente quando aliada ao novo software da Bentley, que agora permite trocar várias marchas de uma vez (de primeira para quarta, por exemplo) sob aceleração forte. Ela também consegue lidar muito bem com o torque abundante do W12, o que por si só já é um feito e tanto.
Áudio
O som Naim de 1.100 watts, opcional, fornece um verdadeiro banquete aos ouvidos. É coisa de audiófilo sério, e a etiqueta de preço está à altura: US$ 7.480 dólares, ou cerca de R$ 17 mil.
Mimos
O Spur recebeu uma melhora considerável no quesito mimos, com um novo sistema multimídia para os passageiros de trás — um opcional de US$ 7.300 (cerca de R$ 16.500), com monitores de 10 polegadas nos encostos dianteiros, DVD e entradas SD, USB e HDMI, bem como um HD de 64 GB. O wi-fi opcional pode conectar até oito aparelhos à nuvem, e a televisão é útil para assistir novelas em mandarim enquanto o carro estiver parado no trânsito de Pequim.
Um dispositivo de controle wireless — de tamanho avantajado, mais ou menos como um smartphone da década passada — pode controlar tudo, desde o ar-condicionado ao sistema multimídia (as telas de LCD não são sensíveis ao toque), que até mostram versões digitais do velocímetro e do relógio Breitling no painel.
No entanto, a tela do navegador no painel é meio pequena, com apenas oito polegadas, e ainda que sua interface não faça parecer que você apertou o botão errado em uma máquina do tempo, o Spur ainda parece desatualizado em relação a alguns outros carros mais baratos no grupo VW.
Bottom Line
Com todos os opcionais, o Bentley Flying Spur não deve em nada a um Rolls-Royce e te faz sentir verdadeiramente especial: o som Naim, o pacote multimídia, as mesinhas para os passageiros de trás, o frigobar e os carpetes de lã. Há um porém: tudo é opcional — até a entrada para cartão SIM custa US$ 155, ou R$ 350. Mas para quem quer sentir o prestígio e o poder de ter um automóvel deste tipo, o valor do Spur é incalculável.
Ficha técnica
Motor: W12, seis litros, turboPotência: 625 cv a 6.000 rpm
Torque: 81,7 mkgf a 2.000 rpm
Transmissião: ZF automática de oito marchas
0 a 100 km/h: 4,3 s
Velocidade máxima: 320 km/h
Tração: integral
Peso: 2.472 kg
Lugares: 4 ou 5, dependendo da configuração
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