Só existem dois Bugatti Type 57SC Atlantic no mundo. O exemplar de 1936 foi vendido pelo equivalente a R$ 80 milhões há três anos, enquanto o outro carro, de 1938, pertence à coleção de Ralph Lauren, e acabou de vencer o Concorso D’Eleganza Villa D’Este. Mas por que tanto barulho em volta deste carro? Vamos explicar.
No post mostrando os resultados do encontro automotivo mais garboso do planeta, alguns comentaristas [do Jalopnik US] colocaram em cheque o valor do Bugatti Type 57SC Atlantic, e o principal argumento era que ele não vale os mais de US$ 40 milhões (cerca de R$ 80 milhões) estimados.
Um deles disse o seguinte:
É um carro lindo, mas não a ponto de
valer US$ 40 milhões. É claro que você não está pagando o carro, e sim a
exclusividade. De qualquer forma, não consigo deixar de pensar que
pagar US$ 40 milhões por um carro é absurdo.
Isto me fez pensar por um segundo. Claro! US$ 40 milhões é mesmo um
valor absurdo por um carro. E digo mais: qualquer valor acima de um
milhão é ridículo por um carro, não importa qual seja. Mas este Bugatti
preto ainda vale cada centavo.Veja bem, o Atlantic não é só um carro, mas também um monumento à Europa de antes da guerra. Foi uma das últimas grandes coisas que a humanidade produziu antes de todo mundo passar a construir tanques. É também o ponto mais alto da contribuição da família Bugatti à industria automotiva do século 20. É um pedaço de história de valor inestimável e basicamente art-deco sobre rodas. E também é um fantasma que podemos tocar.
Quando o conceito Aérolithe de Jean Bugatti foi apresentado em Paris em 1935, o público não entendeu. Ele era feito de uma liga leve, porém inflamável, de magnésio chamada Elektron, por isso os painéis da carroceria tinham rebites aparentes. Por baixo havia um novo chassi (T57) e um novo motor com duplo comando no cabeçote, o que fazia do Aérolithe o carro mais avançado do mundo em seu tempo. Ainda assim, havia um caminho longo a percorrer. Ettore Bugatti ficou decepcionado, e o Aérolithe desapareceu pouco tempo depois. Seu paradeiro ainda é um mistério. Ele pode ter sido destruído na guerra ou sucateado para retirar peças. Ettore Bugatti pode tê-lo escondido para sempre. Ele era esse tipo de pessoa.
E isso tudo torna ainda mais impressionante o fato de o Aérolithe ter sido recriado há não muito tempo usando peças e materiais originais, tendo apenas 15 fotos como referência. Imagine o trabalho que isso deu:
Forgotten Bugatti from Darkcar on Vimeo.
Mas vamos voltar aos anos 30. Depois do Aérolithe, a Bugatti produziu apenas quatro cupês Atlantic usando alumínio em vez de magnésio, mas manteve os rebites. Movido por um oito-em-linha de 3.257 cm³ de cerca de 170 cv podiam passar de 190 km/h. Em 1936.
Hoje em dia sobraram dois carros. O primeiro deles está no Mullin Automotive Museum, na Califórnia, e sua história é a seguinte:
O carro foi entregue ao Lord Victor
Rothschild na Inglaterra no dia 2 de setembro de 1936. Três anos depois,
em 1939, o Sr. Rothschild foi à Bugatti e instalou o compressor
mecânico de um Type 55, transformando o modelo em um Type 57SC. Mesmo
fundindo o motor algum tempo depois, ele manteve o carro guardado na
Inglaterra até 1941, quando o vendeu a seu compatriota, o Sr. T.P.
Tunnard Moore. O Sr. Moore e Robert Arbuthnot, piloto ocasional de
Brooklands, eram sócios na High Speed Motors, de Londres. o Sr. Moore
acabou vendendo o carro a Arbuthnot, que por sua vez o vendeo a Rodney
Clarke, da Continental Cars, Ltd., em 1944. Um ano depois, o Sr. Clarke
vendeu o Type 57SC para o Sr. Robert Oliver, um rico americano que
servia na França como médico das Forças Armadas dos EUA. Em Agosto de
1946, o Sr. Oliver enviou o carro para os EUA, onde o recebeu em Nova
York e o levou rodando até Los Angeles. Em 1953 ele enviou o carro de
volta para a fábrica da Bugatti,onde o motor foi totalmente refeito e o
compressor mecânico correto do Type 57SC foi instalado, bem como freios
hidráulicos. Depois da morte do Sr. Oliver o carro foi vendido em 1971
em um leilão público ao Dr. Peter Williamson, que pagou US$ 59 mil.
Depois de restaurado, o carro foi exibido em Pebble Beach em 2003 e
recebeu o prêmio de “Melhor do Evento”. Em 2010 a família Williamson
vendeu o Atlantic a um comprador que graciosamente o empresou ao museu.
O outro pertece a Ralph Lauren, está emplacado, e ronca assim:É absolutamente irrelevante o preço que se coloca em uma máquina como esta. Claro, Ralph Lauren poderia vendê-lo com um lucro absurdo. Mas parece que isso não interessa a ele. Em vez disso, ele prefere nos deixar ver o carro em ação de vez em quando, mostrando como é o ronco do melhor Bugatti de todos.
Não há aula de história melhor do que esta.
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