Se você quer ser um cavalheiro, compre um Aston Martin. Se quer se mostrar, compre uma Ferrari. Se ama tecnologia, compre um McLaren. Se quer mostrar ao mundo que precisa de uma camisa de força, compre um Lamborghini.
E se você vai comprar um Lamborghini, compre o melhor de todos: o Gallardo LP550-2.
O Gallardo está por aí desde 2003 com uma atualização no meio da vida. Durante quase toda a sua década de existência, o Gallardo teve tração integral, algo que a Lamborghini oferece desde o Diablo porque estavam cansados de ver pessoas batendo e destruindo seus exóticos.
Mas havia um homem na Lambo que ainda queria tração traseira, e este homem era o lendário piloto de testes Valentino Balboni. Quando a hora de Balboni se aposentar, a Lamborghini perguntou a ele o que ele queria em um carro. Ele queria um Gallardo. Um Gallardo com tração traseira, câmbio manual e uma das listras mais fantásticas a serem colocadas na lataria de um carro.
Nascia então o Balboni Edition.
Mas ele se mostrou tão popular que, mesmo depois da edição limitada, a Lamborghini manteve o carro em produção como LP550-2, com transmissão manual e-gear com borboletas atrás do volante (o carro testado tinha e-gear). Ele é o carro mais barato da linha, e o mais puro. Agora, enquanto o Gallardo inicia sua marcha em direção ao por do sol, o LP550-2 representa o fim de uma era para a Lamborghini. O Gallardo é o Lambo mais vendido de todos os tempos. Qualquer que seja seu substituto tem uma responsabilidade gigantesca para cumprir.
Por fora
Para mim, pouquíssimos carros são amostras de perfeição automotiva. O Gallardo é um deles. O formato de cunha, o uso de LEDs, as linhas angulosas. É um dos carros mais sinistros e ameaçadores na estrada, e não dá para confundi-lo com nenhum outro.
O Gallardo é a interpretação exata do que eu creio que um Lamborghini deva ser. Esquisitice e inspiração em caças são legais, e dão certo em conceitos como o Veneno e o Egoista, mas o Gallardo não é um carro para isso. É agressivo e contido ao mesmo tempo. A Lambo construiu um carro que me dá arrepios e consegue me fazer olhar duas, três, seis vezes toda vez que topo com um deles. Alguns colegas meus dizem que o conversível não ficou muito bom.
A minha resposta é simples: não levante a capota. Fica sensacional.
Não há nada que eu não goste neste carro. Não acredito que haja algo que possa ser melhorado.
Por dentro
O lado de dentro do Gallardo não é perfeito como o lado de fora. É como se tivessem pedido para um italiano desenhar o lado de fora, e então vieram uns engenheiros da Audi e disseram “hmm, precisa de mais peças do Audi A4″.
Belas costuras constratam com uma central multimídia que parece ter vindo direto do A4. Os mostadores parecem os mesmos do Audi A8, mas com a grafia em itálico. Os bancos são bem confortáveis e eu não fiquei cansado mesmo depois de horas dentro do carro.
O volante também é uma revelação. É gordo, a pegada e excelente e não há nenhum botão. É só um volante. É perfeito.
A ergonomia é média. Ele tem bluetooth, mas não consegui fazê-lo reconhecer meu celular. Os botões dos vidros funcionam no sentido contrário ao que você imagina. Quase tudo fica bem à mão, embora eu precise me esticar para mudar de faixa no iPod. Não que eu precisasse de música com aquele V10 atrás de mim.
Como anda
Alguns carros são bem rápidos. O Gallardo é um deles. Mas, diferentemente de muitos outros, ele é rápido no papel e dá uma sensação de velocidade ainda mais visceral. O Porsche 911 é rápido, mas não dá nenhum sinal quando atinge alta velocidade. Ele só o faz.
Por outro lado, a aceleração do Gallardo é uma experiência envolvente, especialmente neste modelo de tração traseira. Não importa qual seja o ajuste do controle de tração, ele vai colocar potência demais nas rodas. Ele é arisco, e vai exigir que você tenha colhões para manter o pé lá embaixo.
Eu costumo julgar a aceleração de duas maneiras. Primeiro temos os números. O LP550-2 vai de 0 a 100 km/h em 3,9 segundos. É rápido, mas não é o mais rápido de todos. E depois temos as emoções, as sensações cruas, a conexão com o motorista. E nisso o Gallardo está em um nível totalmente diferente. Ele não parexce robótico. Você tem que se envolver. Você é crucial para fazê-lo acelerar sem bater.
Como experiência de aceleração, o Gallardo é um dos carros mais emocionantes que existem para pisar fundo.
Freios
Esta é minha segunda vez com um Gallardo, e mais uma vez fiquei chocado com os freios. O pedal é meio anestesiado no começo mas pega com mais força ao longo do curso. Mas agarra bem. Não tem nada a ver com os freios dos outros carros que eu testei recentemente, então demorei um pouco para me acostumar.
Uma vez que você pega o jeito, você percebe que a Lamborghini decidiu trocar um pedal sensível por algo muito mais progressivo. Parece que a lógica por trás disso é que você estará em alta velocidade boa parte do tempo neste carro. Um pedal sensível seria menos previsível, tornando uma pisada mais forte nos freios algo delicado. É quase o que se espera de um Lamborghini: um exercício de frenagens perigosas.
Mas em vez disso, reduzir de altas velocidades se torna um exercício de controle, com paradas estáveis e rápidas.
Suspensão
Você deve estar esperando algo duro feito uma pedra, e é isso mesmo: a suspensão é bem dura. Mas eu gosto de um carro com suspensão dura como muita gente gosta de uma cama dura. E este aqui é especialmente desconfortável.
A suspensão é firme, mas o chassi é bem amortecido. Não tem a confiança gentil de um 911, mas é bem ajustada.
Comportamento
Eu peguei o Lambo justamente quando uma tempestade gigantesca atingiu Nova York. Fica a dica: se um dia você estiver com um Lamborghini de tração traseira na chuva, não pise fundo. Na chuva, o pequeno Lambo é tão assustador quanto você pensa que é. A traseira escapa só de pensar em um piso molhado.
No seco, ele é sublime. A direção é direta, com ótimo peso e transmite muito bem a superfície do asfalto. É outro carro que vira mais com a traseira que com a dianteira, então você sente muito bem o que está acontecendo com a parte de baixo dos bancos e com as mãos.
Não costumo dirigir estes carros como se estivesse na pista, então não posso dizer que ele sai de traseira ou qualquer coisa assim. Mas, quando você acelera, ele parece vivo. Não há computadores que fazem você se sentir um inútil atrás do volante. Você é parte da equação. Você é importante.
Câmbio
A e-gear é a transmissão sequencial mais esquisita atualmente. Eu nunca dirigi nada que fizesse parecer que a transmissão está tentando ativamente destruir o carro, especialmente no modo Corsa. E eu acho que ela ajuda a construir o caráter do Lamborghini. Não é só o carro que tenta te matar, mas os componentes dele tentam matar a si mesmos.
Uma puxada na borboleta muda a marcha e corta o giro, mas não por tempo suficiente. Isto acaba deixando as trocas atrapalhadas e desconfortáveis, como se um adolescente que acabou de aprender a dirigir um carro com câmbio manual estivesse tentando trocar as marchas do seu Lamborghini.
Mas tem um truque: solte o acelerador quando puxar a borboleta. Quando a próxima marcha entrar, pise de novo. Nas reduções, logo depois de puxar a borboleta, dê uma pisada de leve no acelerador. As trocas serão bem mais suaves. Não é perfeito, mas é uma solução. Eu gosto da sensação crua, mas não curto um carro que tenta ativamente destruir a si mesmo.
Áudio
O som é bom. Muito bom. Mas e daí?
Eis aqui como você consegue extrair a melhor experiência auditiva do seu Gallardo Spyder:
- Desligue o rádio
- Abaixe a capota
- Aperte o botão “Corsa”
- Pise fundo
- Tenha um orgasmo auditivo
Mimos
Ele tem GPS, navegação por satélite, cronômetros bacanas, sistema de elevação do bico do carro e outros truques legais.
O GPS do meu carro não funcionava, o Bluetooth não encontrava meu celular, um botão na alavanca do limpador de pára-brisa que eu apertava sem querer e mudava todos os menus, janelas que rangiam e um pequeno vazamento no teto. E eu não mudaria nada nele.
Bottom Line
Na categoria do Gallardo, os carros são objetos de desejo sobre rodas. Você quer um Gallardo, uma Ferrari 458 Spider, um McLaren 12C Spider, um Aston Martin V12 Vantage Roadster, ou alguma outra coisa? Se você pode pagar pelo Gallardo, pode pagar por todos os outros.
Mas este, para mim, é o melhor Lamborghini à venda atualmente. Ele é cru e visceral, uma experiência que você não consegue com seus concorrentes de Maranello ou Woking. Eles tem muita tecnologia e te afastam da experiência ao volante. O Gallardo, que é mais barato que os concorrentes, te força a se envolver. Ou ele vai te matar.
É assim que um carro como este deve ser.
Ficha Técnica
Motor: V10 de 5,2 litros
Potência: 550 cv a 8.000 rpm
Torque: 54,9 mkgf a 6.500 rpm
Transmissão: sequencial de seis marchas com borboletas
0 a 100 km/h: 3,9 segundos
Velocidade máxima: 320 km/h
Tração: traseira
Peso: 1.485 kg
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Torque: 54,9 mkgf a 6.500 rpm
Transmissão: sequencial de seis marchas com borboletas
0 a 100 km/h: 3,9 segundos
Velocidade máxima: 320 km/h
Tração: traseira
Peso: 1.485 kg
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