Poucas coisas são mais legais do que ver um carro comum tratado com carinho, e isto é especialmente verdadeiro com os clássicos. Vemos carros assim quase todos os dias, e cada um deles tem uma história só sua. Este Gol GT, por exemplo, não é um Gol GT. Ao menos não foi assim que ele veio ao mundo. Veja sua história.
Há 30 anos as coisas eram bem diferentes no mercado nacional. Era possível comprar uma versão bem equipada de um carro comum, como o Gol, ou simplesmente comprar um exemplar básico e ir “temperando” com componentes dos modelos mais caros, pois estes eram de fácil instalação — ainda que não exatamente baratos.
O proprietário deste Gol, Márcio Fujii não me contou uma história espetacular, de sonho, luta e conquista. Tem mais a ver com paixão, dedicação e um pouquinho de sorte. Ele é como você e eu: um cara que cresceu apaixonado por carros e não via a hora de ter o seu. Até que, depois de dividir um Kadett 1998 com sua mãe desde os 18 anos, conseguiu encontrar um exemplar bacana de um dos carros que mais gostava: o Gol de primeira geração.
Agora, se você já andou procurando Gol à venda na internet, sabe que não é muito fácil encontrar um deles em bom estado a um preço justo. É aí que entra a sorte: o Gol 1985 vermelho que Márcio encontrou à venda não estava apenas íntegro, como também fora personalizado por um dono cuidadoso: painel satélite como o dos modelos GTI, GTS e GLS, bancos de Gol GIII, rodas de 15” e um volante Momo — peças originais e de qualidade, embora nem sempre combinando esteticamente entre si. Por fim, o carro estava equipado com um motor AP 1.8 a álcool comprado na Volkswagen acoplado a um câmbio de cinco marchas.
Era julho de 2012 e Márcio e seu pai fecharam negócio, e não demorou para que o motor 1.8 e a cor vermelha dessem a dica: o carro seria transformado em um Gol GT. Por sorte o pai de Márcio sempre gostou de carros, e já foi até dono de oficina. Então os dois passaram a trabalhar no carro juntos: cada um comprava uma peça e de vez em quando se juntavam para instalar.
Assim, depois de algum tempo garimpando peças — faróis auxiliares, pára-choque, frisos dos vidros, adesivos, borrachões, o raro vidro traseiro com a inscrição “GT”, volante “quatro bolas” — Márcio e seu pai finalmente viram o hot hatch tomando forma.
Talvez a única coisa que os leitores não aprovem nesta fase do projeto sejam as rodas Orbital de 16 polegadas, mas elas logo foram trocadas por um jogo de Snowflake de 14 polegadas, originais do Gol GT, calçadas com pneus Continental 185/60. Debaixo do capô, a única modificação foi um coletor 4×1 dimensionado. Foram quatro meses de trabalho e o carro já parecia um Gol GT original, com exceção da suspensão com molas esportivas e amortecedores preparados. Faltavam apenas os bancos Recaro, mas estes são os mais difíceis de conseguir.
Enquanto isso, a possibilidade de turbinar o motor foi fazendo a cabeça de Márcio, e em dezembro ele adquiriu um turbocompressor Garrett .42 .48, com rotor e eixo de .50 e pressão regulada em 0,6 BAR, O motor permanece alimentado por um carburador 2E original do Gol GT. Com a instalação da polia regulável e de um comando “bravo” 049G, que equipava as versões GT e GTS — comprado novo, o conjunto rende 151 cv e 22 mkgf de torque, aferidos em dinamômetro — mais do que o suficiente para um carro de cerca de 960 kg.
Para conferir o funcionamento do conjunto, o interior recebeu um painel com velocímetro que marca até 220 km/h e conta-giros original. Abaixo do rádio, no console, estão os mostradores de combustível, pressão do turbo e temperatura do óleo e o three-step ODG. Recentemente, Fujii encontrou os bancos Recaro, com tecido padrão Laguna Vermelho do Gol GTi da década de 90. Márcio diz que o carro não está pronto, mas está quase lá:
A ideia do projeto
foi a seguinte: fazer um verdadeiro hot hatch, como o Golf GTI Mk1 foi.
Gosto de fazer curvas e prefiro um carro equilibrado a um canhão de
retas. Externamente o carro um quê de sleeper, pois como mantive até o
abafador original kadron de ponteira dupla, nem quem conhece desconfia
que o carro é turbo, a não ser pelo espirro, claro. Gosto de coisas de
época, também. Nada de vidros elétricos, LED, xenon, ar condicionado, ou
rádio moderno. Gosto de curtir o carro como se fazia 1985, ainda que eu
tenha nascido em 1989.
Esse carro
significa muito pra mim. Isso porque devido a toda essa história, acabou
sendo muito mais prazeroso “fazer” um GT do que comprar um “pronto”.
Coloquei a mão na massa, fiz os upgrades conforme o meu dinheiro ia
permitindo, curti o carro junto com o meu pai, conheci amigos novos que
me ajudaram muito quando precisei de um auxílio, fui a vários encontros
com ele e criei coragem pra criar um canal no YouTube dedicado a carros.
Para mim, o carro é como um Gol GT melhorado — o interior parece mais
confortável, o painel satélite é mais bonito e o motor, mais potente pero-no-mucho — na medida para o peso e a proposta do carro.É claro que, quem tem um carro modificado / preparado sabe que eles nunca ficam prontos. Márcio diz que quer extrair mais alguns cavalos do motor e acertar alguns detalhes estéticos — mas não quer fazer nenhuma relíquia, pois carros foram feitos para rodar. Mas o maior objetivo já está cumprido, e com louvor: fazer seu próprio Gol GT.
[ Fotos: Rodrigo Romão (foto de abertura), Márcio Fujii ]
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