Segurança veicular nunca foi prioridade dos brasileiros. Para a grande maioria, o que importa é se o valor da parcela do financiamento do carro novo caberá no bolso, pois, em muitos casos, ter um veículo zero-quilômetro é a realização de um sonho. Para atender a este perfil de consumidor e, apoiadas por uma legislação nada firme, as montadoras simplesmente oferecem o que o povo quer comprar.
O lado positivo é que, aos poucos, os consumidores locais estão despertando cada vez mais para a questão de segurança. Nos últimos dias, causou repercussão a notícia da agência norte-americana Associated Press de que os carros brasileiros são “mortais”. Em seguida, veio a resposta da Anfavea, afirmando que os carros são seguros e as montadoras nacionais cumprem totalmente a legislação vigente. Então, fica a questão: os carros vendidos por aqui são inseguros por que a legislação sobre o tema ainda é branda ou por que as montadoras, embora cumpram as normas, não estão realmente preocupadas com essa questão?
Além de afirmar que as fabricantes aqui instaladas estão de acordo com a Lei, a Anfavea também defende que as normas e sistemas produtivos existentes no Brasil são os mesmos adotados pelos países mais desenvolvidos. Na mesma linha, como a maioria das plataformas são mundiais, as especificações são idênticas e os cuidados com a produção são os mesmos.
Nesse sentido, vejamos: aqui no Brasil, por exemplo, airbag duplo e freios ABS serão obrigatórios para todos os automóveis novos a partir de janeiro 2014. Mesmo assim, há uma incoerência: projetos recém-lançados, de marcas importantes, ainda são oferecidos em sua versão de entrada sem os freios ABS a poucos meses do início da obrigatoriedade. E não estamos falando de carros que já estavam em linha nos anos anteriores, mas sim de produtos realmente novos.
Na Europa e nos Estados Unidos, a exigência deste dois itens é lei há muitos anos. Vale destacar ainda que a grande maioria dos automóveis vendidos por lá possuem, geralmente, quatro airbags e outros recursos, como o controle de estabilidade – item que será obrigatório na Europa a partir de outubro de 2014.
Se nos prendermos apenas a esse fator, dá para dizer, mesmo sem uma análise mais detalhada, que os nossos carros são mais inseguros do que os europeus, norte-americanos e japoneses. Mas, voltando à questão do papel das montadoras em relação a legislação, podemos ir um pouco além. Eis a razão.
No dia 16 de maio, o instituto independente norte-americano IIHS divulgou os resultados do crash test de vários utilitários esportivos vendidos nos Estados Unidos. O IIHS usou um novo critério adotado desde o ano passado: o impacto diagonal.
Por que o teste de impacto diagonal? De acordo com estudos do instituto, em grande parcela dos acidentes, o motorista tenta evitar a colisão desviando para o lado (geralmente o direito), fazendo com que o impacto não seja no meio e sim na quina do veículo – o que foge um pouco ao planejamento de segurança da estrutura do carro, uma vez que eles são testados em impactos frontal, parcial frontal ou lateral. Nesta nova situação analisada, o impacto ocorre em 1/4 do veículo (basicamente na região do farol), o que faz o carro tender a desviar para os lados de forma mais intensa. Confira o resultado no vídeo abaixo:
SUV’s norte-americanos vão mal no testes
Entre os dezessete utilitários esportivos testados nos EUA, apenas o Subaru Forester conseguiu conceito “bom” nesse tipo de impacto. O Mitsubishi Outlander (ASX) também foi bem e conseguiu conceito “aceitável”. Os outros quinze modelos foram todos reprovados.
Isso que mostra que nos EUA, assim como no Brasil, os fabricantes estão mais focados em atender a legislação do que realmente construir carros mais seguros – a única diferença é que por lá a norma é bem mais rígida do que a nossa, o que coloca os consumidores norte-americanos em vantagem em relação aos brasileiros. Não é possível aceitar um veículo que seja seguro somente em algumas situações, mas sim em todas. Acidentes acontecem, e não temos como optar se queremos um impacto lateral, frontal ou de quina. Precisamos que um carro ofereça o máximo de segurança possível seja qual for a situação de emergência.
E o que fazer para termos carros mais seguros? O primeiro passo é a necessidade de que as autoridades e órgãos fiscalizadores sejam mais rigorosos e criem normas de segurança mais efetivas para os veículos.
Outro fator importante é a cultura do consumidor para exigir segurança. Durante um lançamento, o presidente de uma montadora foi questionado o porquê de um carro novo que custa mais de R$ 50 mil ter uma versão sem freios ABS. Sabem qual foi a resposta? “O consumidor não pede”. Outro executivo, ligado à marcas italianas e norte-americanas matou a charada ao dizer: “O brasileiro não está preocupado com segurança. Se na hora de comprar tiver um carro com calota e freios ABS e outro com rodas e sistema de som pelo mesmo preço, ele opta pelo segundo para mostrar para o vizinho que seu carro é ‘completo’”.
Os fabricantes estão errados? Olhando friamente como um negócio, não, eles não estão. Para que oferecer algo que não pedem? É por isso que precisamos exigir tais itens e rechaçar versões que não os possuam.
E as montadoras? Precisam seguir à risca o que for determinado. Tratar os consumidores como pessoas da mesma forma em todo o mundo. Por que os europeus merecem ter mais segurança que os brasileiros? A vida tem um peso maior lá? Por que os norte-americanos? Não é só o carro que deve ser global, mas o tratamento ao ser humano também.
Confira a tabela com os resultados dos SUV’s testados pelo IIHS
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Disponível no(a):http://carplace.virgula.uol.com.br/
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