12 de abr. de 2013

Teste: Kia Cerato - Beleza fundamental

Fotos: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias

Teste: Kia Cerato -  Beleza fundamental
Novo Cerato cresce, fica mais moderno e passa a ter a função de ser o carro-chefe da Kia no Brasil

os últimos anos, cada vez que apresenta a nova geração de algum modelo, a Kia tratava de reposicionar os preços, para cima. Afinal, a marca passou a ser mais valorizada no mercado brasileiro e nada mais previsível que tentar usufruir desse novo status.
Coisa parecida aconteceu com o Cerato. O sedã ganhou tamanho, equipamentos e refinamento visual, mas o Grupo Gandini, importador oficial da marca no Brasil, manteve o modelo na base do segmento de médios. Desta vez, a marca coreana decidiu se conter um pouco. Em vez do aumento habitual de 30% em relação à geração anterior, a marca se contentou com um valor “apenas” 15% maior do que pedia no antigo Cerato. O preço pulou de cerca dos anteriores R$ 61 mil para R$ 71.900, na versão topo automática. Na mecânica, o preço fica em R$ 67.400.

O caso é que, como a Kia não investe em produção ou em desenvolvimento no Brasil, ela se tornou alvo preferencial do super IPI – um imposto adicional de 30 pontos –, que se reflete diretamente no preço dos modelos. O resultado prático foi que as vendas da marca caíram mais de 40% de 2011 para 2012, quando o super IPI passou a vigorar. A preocupação com o Cerato foi de segurar o preço e mantê-lo na briga com versões de entrada de Toyota Corolla, Honda Civic, Volkswagen Jetta e Chevrolet Cruze. Nesse sentido, o importador decidiu manter o modelo apenas com motorização mais barata, com o propulsor 1.6 flex de 122/128 cv com gasolina e etanol, gerenciado por um câmbio de seis marchas. O motor é o mesmo utilizado no Kia Soul ou no Hyundai HB20.



Com isso, a função do Cerato passou a ser a de principal produto de vendas da marca – no lugar do SUV médio Sportage, que perdeu preço e vendas com o super-IPI. As vendas projetadas para o sedã são em torno de 10 mil unidades nos 9 meses restantes de 2013, o que corresponderia a 30% das vendas da Kia no período. Além do preço, porém, o sedã médio tem outros argumentos para cumprir a meta do representante brasileiro. E o principal é estético. Assim como vem ocorrendo com toda a gama da marca coreana – que tem, inclusive, o designer Peter Schreyer como presidente –, o desenho é o grande elemento de valorização do modelo. O Cerato abandonou de vez os traços geométricos, que caracterizavam a geração anterior, e adotou um estilo mais orgânico, com uma carroceira coberta de vincos “musculosos”.

De qualquer ângulo que se observe, não é possível encontrar qualquer traço que identifique este Cerato de 3ª geração com o anterior. A grade, em referência a um rosnado de tigre, mantém a identidade de marca. Só que agora ela é ladeada por faróis de desenho bem irregular. Na parte superior do conjunto ótico, uma linha de led faz as vezes de pálpebra e dá um ar bem agressivo ao modelo. Na traseira, as grandes lanternas em forma de olho são posicionadas bem no limite superior do porta-malas e emprestam bastante robustez ao conjunto. A linha do perfil se assemelha a uma onda, sem qualquer ângulo vivo.

Também no interior não sobrou qualquer resquício do antigo Cerato. Apesar de ter crescido muito pouco por fora – 3 cm no comprimento e 2,5 na largura –, houve uma grande redistribuição de áreas. Para o habitáculo sobrou um bom entre-eixos de 2,70 m. O sedã médio também ganhou uns poucos equipamentos como direção elétrica com três modos de condução, ar digital dual zone e sensor de obstáculos dianteiro, que se somaram aos já existentes acendimento automático de faróis, sensores de obstáculos traseiros e os praticamente obrigatórios ABS e airbags frontais. Nada que o deixe em vantagem em relação aos rivais diretos.



Ponto a ponto

Desempenho – Em um sedã com mais de 1.200 kg, o motor 1.6 16V acaba indo para o sacrifício. E mesmo que o câmbio automático de seis marchas seja ágil nas trocas e bem escalonado, para fornecer um desempenho mais convincente ele força o motor a gritar um bocado. Inclusive porque os 128 cv de potência e os 16,5 kgfm de torque, com etanol, só aparecem aos 6 mil e 5 mil giros, respectivamente. A relação peso/potência de 9,4 kg/cv só permite mesmo uma condução mais parcimoniosa. Estes limites, que ficam muito evidentes em uma estrada, são bem menos perceptíveis em ambiente urbano, desde que o carro não esteja muito carregado. Nota 5.

Estabilidade – A configuração de suspensão do Cerato é McPherson na frente e barra de torção na traseira. É a mais comum no segmento e responde bem às demandas do modelo. A regulagem dosa com sucesso rigidez e conforto. O modelo não rola nas curvas nem flutua em velocidades mais elevadas. Ao mesmo tempo, filtra com eficiência as irregularidades do piso. Mesmo em pavimentos com paralelepípedos, ela absorve bem as vibrações. Nota 8.

Interatividade – O Cerato tem todas as regulagens desejáveis para um modelo deste segmento, como as de altura de volante e banco e telescópica do volante. Tem também paddle-shift atrás do volante para troca de marchas – que podem ser feitas também diretamente na alavanca. O volante multifuncional controla várias funcões. Pode-se navegar pelo computador de bordo, que usa um mostrador em LCD no centro do cluster, ativar o controle de cruzeiro, configurar a rigidez da direção elétrica e controlar o sistema de som, que inclui rádio e CD player. A ausência sentida é de uma conexão Bluetooth. Nota 7.

Consumo – Segundo o InMetro, o Cerato automático mereceu classificação B na categoria e C no geral. Segundo o instituto, os índices com etanol foram 6,6 km/l na cidade e 9,1 km/l na estrada. Com gasolina, os números sobem para 9,5 km/l na cidade e 12,4 km/l na estrada. O modelo mecânico tem números ligeiramente superiores. A classificação foi de A na categoria e B no geral, com médias urbanas de 6,8 e 9,3 km/l e rodoviárias de 10 e 14 km/l, com etanol e gasolina. São bons números para um sedã de 4,56 m e 1.205 kg. Nota 8

Conforto – O novo Cerato ganhou espaço no interior, com áreas bem adequadas para cabeças e joelhos. Comporta com conforto quatro passageiros, mas três adultos atrás têm de se espremer. A Kia tratou de incrementar bastante o isolamento acústico, com injeção material fonoabsorvente no interior das colunas. Tal providência se mostrou necessária, dado o regime de giros que o pequeno motor é obrigado a utilizar. Os bancos seguram bem o corpo nas curvas, mas não são nada macios. A suspensão faz bem o seu trabalho e detalhes como ar dual zone valorizam a vida a bordo. Nota 7.



Tecnologia – Além da plataforma, a mesma do Hyundai Elantra, o trem de força também é bem moderno – motor 1.6 16V com comando variável e câmbio de seis marchas. Fora isso, o Cerato não vai impressionar ninguém. Só tem os quase obrigatórios ABS e airbag frontal, ar digital dual zone, sensor de luz, de obstáculos e leds nos conjuntos óticos. É pouco para um modelo que acabou de sair da prancheta. Nota 7.

Habitabilidade – Apesar do estiloso teto em arco, o Cerato não virou vítima do design. Os acessos são bons e a boa altura do assento ajuda no entrar e sair. Há um número razoável de porta-objetos no interior, como à frente da alavanca de câmbio, sob o apoio de braços e nas portas. O porta-malas tem tamanho apenas razoável, de 421 litros. Nota 8.

Acabamento – Houve uma melhora substancial no acabamento nesta troca de gerações. Além de os materiais serem melhores em qualidade e aspecto, o design ajuda a melhorar o ambiente. No conceito do designer-presidente, o volante fica como o centro de círculos concêntricos – como os formados por uma pedra atirada na água. A partir daí, os demais elementos no painel se organizam. Não há nenhum requinte, mas montagem e finalização são bem cuidadosas. Nota 8.

Design – É o grande argumento de vendas do novo Cerato. Tanto interna quanto externamente, o sedã da Kia mostra personalidade e estilo. Tem agressividade e equilíbrio nas linhas e detalhes em led nos conjuntos óticos ajudam a valorizar o resultado. Nota 9.

Custo/benefício – Deveria ser um ponto de atração do Cerato, mas não é. O modelo da Kia não oferece nada a mais que seus rivais orientais diretos e ainda deixa a desejar na motorização. Se for comparado aos médios de origem européia, como Volkswagen, Peugeot e Renault, a diferença pelo preço de R$ 70 mil é ainda maior. Nota 6.

Total – O Kia Cerato totalizou 73 pontos em 100 possíveis.



Primeiras impressões

Dupla personalidade

O Cerato é bem mais interessante parado do que andando. As linhas do sedã médio coreano mantêm um perfeito balanceamento entre agressividade e elegância, com direito a um estilo orgânico bem original. Não tem elementos de outros carros conhecidos e ainda assim tem identidade com os os sedãs maiores da Kia. Por dentro, apesar de não haver requinte, o ambiente é agradável e os materiais são de boa qualidade. Uma vez posto em movimento, o Cerato mostra suas limitações. Principalmente na estrada.

O motor 1.6 16V até é um bom propulsor, mas aplicado ao sedã médio não mostra seus melhores momentos. Tudo parece normal até os 80 km/h. A partir daí, começam a faltar torque e potência. Isso apesar da ajuda do resoluto câmbio automático de seis marchas. Ele não fica em dúvida quando se pede força ao motor e reduz as marchas sem vacilar. Isso facilita na hora das ultrapassagens, mas causa incômodo a forma como o propulsor grita impiedosamente. Os ocupantes, pelo menos, ficam protegidos pelo bom isolamento acústico implementado pela fábrica.



A dinâmica em relação ao motor pode ser pouco convicente, mas quanto à estabilidade e ao conforto, o Cerato vai bem. Ele enfrenta curvas sem rolar lateralmente e mesmo em velocidades altas não mostra qualquer sinal de flutuação. E também não exige correções de trajetória. Os pneus com 205 mm de largura não copiam as irregularidades do pavimento nem transmitem vibrações para o interior do habitáculo.

Mas é mesmo no ambiente urbano que o Cerato se mostra mais à vontade. Como as exigências em relação ao desempenho são menores, o sedãzinho da Kia mostra aí suas qualidades mais interessantes. Como o interior, que não traz qualquer luxo mas é agradável. Os recursos mais mais sofisticados são o ar dual zone e os sensores de obstáculos. Tecidos e revestimentos são de boa aparência e não incomodam. A não ser pelas molduras das janelas, não há lata aparente no interior. O banco, de espuma um tanto dura, sustenta bem o corpo. A direção, de peso ajustável, oferece boa comunicação e grande precisão nas manobras.

O painel de instrumento tem organização clássica. Traz um pequeno mostrador em LCD entre o velocímetro e o conta-giros, onde aparecem os alertas e os dados do computador de bordo. As informações ali se alternam através de um comando no volante multifuncional. Aliás, quase não é preciso afastar as mãos do volante para acionar os recursos mais prosaicos, como ajuste do som ou regulagem do controle de cruzeiro. Falta, no entanto, o recurso de Bluetooth, que permitiria a integração do sistema de som a um telefone celular. Ausência que não se justifica em um modelo que pretende ser visto como moderno e prático.



Ficha técnica

Kia Cerato

Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.591 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote e comando variável de válvulas na admissão. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Manual de seis velocidades à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não possui controle de tração. Oferece câmbio automático de seis marchas como opcional.
Potência máxima: 128 cv e 126 cv a 6.300 rpm com etanol e gasolina.
Torque máximo: 16,5 kgfm e 16,0 kgfm a 5 mil rpm com etanol e gasolina.
Diâmetro e curso: 77,0 mm x 85,4 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com molas helicoidais e amortecedores a gás. Traseira com eixo de torção, molas helicoidais e amortecedores a gás. Não possui controle de estabilidade.
Pneus: 205/60 R16.
Freios: Discos ventilados na frente sólidos atrás. Oferece ABS com EBD.
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,56 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,46 m de altura e 2,70 m de distância entre-eixos. Airbag duplo frontal de série.
Peso: 1.171 kg (1.205 kg no automático).
Capacidade do porta-malas: 421 litros.
Tanque de combustível: 50 litros.
Produção: Hwasung, Coreia do Sul.
Lançamento mundial: 2012.
Lançamento no Brasil: 2013.
Itens de série: Ar-condicionado automático, banco do motorista com ajuste de altura e lombar, chave tipo canivete, computador de bordo, pedaleiras com detalhes cromados, rádio/CD/MP3/USB/Aux, volante multifuncional com regulagem de altura e revestimento em couro, trio elétrico, faróis de neblina, lanternas traseiras em led, rodas de liga leve de 16 polegadas, airbag duplo, direção elétrica, ABS e sensor de estacionamento dianteiro e traseiro.
Preço: R$ 67.400 (R$ 71.900 no automático).




Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br

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