28 de mar. de 2013

Teste: Mercedes-Benz SLK 55 AMG – Caçula endiabrada



Meu celular toca. É uma alemãzinha que conheci durante uma viagem para Affalterbach, nos arredores de Stuttgart, dizendo que estava no Brasil. Foi coisa rápida: a gente se curtiu na festa de 40 anos da mãe dela e demos uma volta para nos conhecermos melhor, só isso. Mas preciso confessar que saí de cabelo em pé daquele encontro. Tarde de verão na Europa, festa, aquele clima… Sabe como é, né?

A ligação me deixou feliz e um pouco tenso, ao mesmo tempo. Sabe onde ela marcou nosso encontro? No Autódromo de Interlagos. Ela queria me intimidar, eu não tinha dúvidas. E ela tem potencial de sobra para isso. A mãe dela, uma tal de AMG, é especialista em pegar as comportadas filhas da “Dona” Mercedes e transformá-las em meninas endiabradas. Ao se tornar uma 55, a pequena SLK não foge à regra: ela ganha um motor V8 de 5.5 litros que entrega 421 cv e brutais 55,1 kgfm de torque – é o mesmo usado nas AMG mais fortes, só que sem turbo. Tudo isso com a opção de andar sem capota. Entendeu por que fiquei de cabelo armado?

Lá em Interlagos não teve muito jogo. Foram apenas três voltas e um monte de “seguranças” dizendo pelo rádio que eu não podia desfrutar da SLK totalmente. “Nada de desligar o ESP!”, avisavam. Ok, os caras estavam certos. “Mamãe” AMG pegou pesado ao dar tanto poderio para sua filha caçulinha. Não fossem os controles eletrônicos segurando o ímpeto dos 421 cv despejados nas rodas traseiras, em alguma hora ela ia fazer a gente ver o mundo ao contrário. Como não queria correr esse risco (vai que ela não me liga mais?), eu só acompanhava a luzinha do ESP piscando desesperadamente enquanto eu ficava o pé no acelerador nas saídas de curva da pista. Foi uma manhã divertida, mas eu queria mais.
A agenda dela é corrida, mas nesses dias ela topou viajar comigo. Agora sim, teríamos tempo para nos conhecermos com calma. E não é que ela me surpreendeu pela docilidade? Aquele temperamento, digamos, rebelde mostrado no circuito pode ser amansado no dia a dia – depende do seu pé direito. A primeira coisa que me chamou atenção foi como a SLK 55 é comedida nos gastos. O “V8tão” tem até sistema start-stop, que desliga o motor nas paradas de semáforo e do trânsito. Na cidade, foram bons 7,5 km/l de consumo médio – lembrando que ela só bebe gasolina, e de preferência Premium. Esse apetite moderado, junto com a vontade de ver qual era a dela na estrada, me levaram a viajar até Juquehy, uma simática cidade de praia no litoral norte paulista. E eu não estava errado: no trecho rodoviário consegui média de 11,1 km/l.

Minha namorada não gostou muito da alemãzinha, num primeiro momento – seria medo da concorrência? Já foi logo reclamando do porta-malas minúsculo. Mas nisso ela tinha razão: com a capota baixada, a capacidade diminui de 335 para somente 225 litros. Depois, comentou da suspensão dura e dos rodões aro 18. “Nossa, ela bate em qualquer buraquinho”. Sim, não tem jeito. Só sendo firme assim para acompanhar os 421 cv quando eu resolvesse meter o pé no meio de uma curva. Mas logo o asfalto da estrada chegou, muito mais bem tratado que o da cidade, e as coisas ficaram mais divertidas. Vamos acel…ops, antes tenho de parar no acostamento – para abrir a capota, que não aceita a operação a mais de 5 km/h.
A abertura é “espetaculosa”: um engenhoso sistema elétrico dobra e guarda a capota rígida no porta-malas em 20 segundos. Se você fizer isso no meio do trânsito, junta gente em volta. Capota guardada, vamos em frente. Ao ar livre, não sei o que empolga mais: o vento no rosto ou o V8 borbulhando ali atrás pelas quatro saídas de escape. Um ronco forte, estrondoso até, que arrepia mesmo os mais enturmados com a coisa. E como essa SLK anda! Bom, nem preciso dizer que as ultrapassagens soavam como covardia para os demais carros – 80 a 120 km/h em 3,1 segundos! Bastava afundar o acelerador, puxar a direção para o lado e ver o mundo ficando para trás. Em nossas medições, as passagens com o ar-condicionado ligado não fizeram a mínima diferença (por isso o N/A na ficha de testes).

Só que viajar assim é fácil, eu queria mesmo era pegar um trecho de curvas! Troquei o modo “Comfort” do câmbio para “Sport” e logo notei a SLK mais nervosa. Em vez de deixar o câmbio automático em marchas altas (são sete), a opção esportiva mantém sempre marcha baixa e o giro elevado, para prontas respostas. Cuidado: a 120 km/h, essa AMG parece devagar, e o velocímetro está com agulha apenas reta – só começa a subir acima disso. Só que a velocidade cresce assustadoramente mesmo que você já esteja acima do limite legal, com o motor engolindo marcha e fazendo um estrondo a cada troca. Para se ter ideia do poderio dessa “Merça”, nosso teste de 0 a 100 km/h levou somente 5,4 s! – até agora o carro mais rápido já testado pelo CARPLACE, com boa margem.
O modo mais divertido é o “manual”. Aí você comanda as sete marchas com puxadas nas belíssimas alavancas de metal (que lembram as das Ferrari) atrás do volante. Funciona bem numa condução esportiva, e as mudanças são até rápidas nas subidas de marcha, mas nada que se compare a um sistema de dupla embreagem – coisa que a AMG só oferece no top SLS. Da mesma forma, o câmbio automático da Mercedes não aceita reduções radicais, exigindo que se deixe cair mais o giro antes de executar a manobra.

Com os controles ligados, a estabilidade dá e sobra. Mesmo em condições de chuva, a alemã se mostrou sempre à mão e bem presa ao chão. Apesar de longa, a dianteira é obediente e a direção pesada ajuda a manter as coisas em ordem quando se está rápido, embora pudesse ser um pouco mais comunicativa. A suspensão firme garante que a carroceria não balance muito nos desvios velozes e nem incline nas curvas. Mas a SLK 55 é tão forte que a traseira rabeia nas arrancadas, ainda que a eletrônica esteja ativa. Com o ESP desligado, é preciso perícia (e uma pista fechada) para encontrar o ponto de fazer uma derrapagem controlada ou protagonizar uma bela rodada.

Passando do lado nervoso para o luxuoso da coisa, a SLK encanta pelo painel finamente revestido de couro e pelo farto uso de alumínio, sem falar nos bancos com múltiplos ajustes elétricos. O sistema de som também é chique e potente, da Harman/Kardon, mas confesso que usei pouco – preferi o ronco do V8. O equipamento mais bacana desse roadster, no entanto, é o chamado airscarf, um sistema de ar quente com saídas na altura da nuca dos ocupantes. Assim, você pode andar de capota aberta mesmo em dias frios. Isso minha namorada adorou.

Chegando à pequena Juquehy, com quebra-molas inversamente proporcionais ao tamanho da cidade, a 55 AMG me surpreendeu pela forma como superou os obstáculos. Nada de pegar a dianteira baixa ou as saias laterais – apenas algumas leves raspadas embaixo. O único incômodo a bordo eram as chacoalhadas da cabine ao passar nos pisos ruins, mas aí não é culpa do carro, e sim minha que resolvi passar com um esportivão de US$ 239.900 (pouco mais de R$ 480 mil) naquele lugar. No geral, dá para dizer que essa AMG encara uma utilização diária numa boa, com muito desempenho e o apelo irresistível da curtição a céu aberto. Para os dias de fúria, porém, minha AMG favorita ainda é outra – a C63 Black Series. Mas deixa eu falar isso baixo para a SLK 55 não ficar com ciúme…

Por Daniel Messeder
Fotos Rafael Munhoz exclusivo para o CARPLACE – Portfólio Flickr

Ficha técnica – Mercedes-Benz SLK 55 AMG
Motor: dianteiro, longitudinal, oito cilindros em V, 32 válvulas, 5.461 cm3, comando duplo variável, gasolina; Potência: 421 cv a 6.800 rpm; Torque: 55,1 kgfm a 4.500 rpm; Transmissão: câmbio automático de sete marchas, tração traseira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente com paralelogramos deformáveis na dianteira e na traseira; Freios: discos ventilados nas quatro rodas, com ABS; Rodas: aro 18 com pneus 235/40 na frente e 255/35 atrás; Peso: 1.610 kg; Capacidades: porta-malas 335/225 litros, tanque 70 litros; Dimensões: comprimento 4,146 mm, largura 1,817 mm, altura 1,300 mm, entreeixos 2,430 mm
Medições CARPLACE – valores entre parênteses se referem ao teste com ar-condicionado ligado
Aceleração
0 a 60 km/h: 2,8 s (N/A)
0 a 80 km/h: 3,9 s (N/A)
0 a 100 km/h: 5,4 s (N/A)
Retomada
40 a 100 km/h em Drive: 4,2 s (N/A)
80 a 120 km/h em Drive: 3,1 s (N/A)
Frenagem
100 km/h a 0: 38,6 m
80 km/h a 0: 24,6 m
60 km/h a 0: 13,6 m
Consumo
Ciclo cidade: 7,5 km/l
Ciclo estrada: 11,1 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 4,6 s
Consumo cidade: 8,3 km/l
Consumo estrada: 16,1 km/l
Velocidade máxima: 250 km/l (limitada)

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