Experimentamos versões com motor 1.5 e 1.6 do novo hatch.
Ele parte de R$ 40 mil, mas só dá recado a partir da versão de R$ 46 mil.
O alvo da Peugeot com o lançamento não é só quem tem R$ 40 mil para gastar na compra de um carro, afinal o mercado vive o momento em que há mais opções de hatches nessa faixa, sendo que algumas delas são modelos novos, como o francês. E dizer que ele vem “completão” de série, com ar, direção elétrica, travas, airbag duplo e freios ABS, também não o diferencia tanto porque outras montadoras, enfim, já perceberam que o carro “pé de boi” já não é bem visto.
Então, para quem a montadora fez o 208? Para quem quer “conforto, diferenciação e status”, diz o diretor de marketing Frederico Bataglia. O discurso soa familiar... é parecido com o que o grupo Peugeot Citroën usou para o lançamento do novo C3, no ano passado. Os hatches “primos” têm até alguns detalhes em comum, como luzes diurnas de LED (nas versões top) e as lanternas em formato bumerangue, mais “esticadas” no 208.
A PSA não nega que eles sejam concorrentes, mas achou uma maneira de diferenciá-los: o presidente, Carlos Gomes, afirma que o C3 tem um apelo mais feminino (rótulo que a PSA queria afastar na época do lançamento) e que o 208 é mais esportivo, dando a entender que por isso seria mais atraente para homens.
Assim como no C3, a Peugeot também investiu no design, mas parece querer vender mais a “sensação ao dirigir”. O volante pequeno (350 mm de largura e 330 mm de altura, sendo que, segundo a marca, a média nos carros é 370 mm de largura) e a posição do banco dão a sensação de estar num “kart grande”, e a direção elétrica responde bem. Outro diferencial para o motorista é o painel de instrumentos ter sido instalado acima do volante.
Mas a ideia de estar num kart termina aí... A marca até dedica mais tempo para falar do interior do carro, de conforto e atrações, do que propriamente da dinâmica. Ela destaca os controles de som no volante, o sistema multimídia e o teto solar, que, é bom esclarecer, são oferecidos somente a partir da configuração intermediária, a Allure, com motor 1.5, que custa R$ 45.990 e representará metade da produção do hatch.
O teto não é, em si, uma grande novidade porque também é oferecido por alguns concorrentes (mas a maioria o coloca apenas na versão topo de linha ou como opcional). E cuidado para não confundir com o para-brisa panorâmico do “primo” Citroën C3 (o Zenith), que “emenda” o vidro da frente com o teto solar daquele modelo, conseguindo dar uma sensação maior de amplitude. No 208, não há o mesmo impacto. O recurso, na verdade, faz mais efeito para quem está no banco de trás (e vendo o mundo pela janelinha estreita das laterais) do que para os ocupantes da frente.
O pacote é um bom negócio para um carro de R$ 46 mil (de novo citando a versão intermediária) se for comparar com o quanto se gastaria para ter esses equipamentos nos concorrentes.
Fora isso se tem um painel “limpo” e simples, o que não quer dizer pobre, em tons de cinza e preto. Claro, há bastante plástico, mas os encaixes são bem feitos e o material é agradável ao toque. O que faz feio é a abertura dos vidros do banco traseiro ser com manivela –só na topo de linha Griffe é que o passageiro é contemplado com vidro elétrico.
Brasileiro x europeu
Com 3,96 m, o novo hatch é 94 mm mais comprido que o 207 nacional e o entre-eixos também é 98 mm maior (2,54 m), resultando em bom espaço interno, com ganho de 80 mm para as pernas no banco de trás, segundo a fabricante. Ali, o espaço é razoável para duas pessoas, nada demais. Com a linha de cintura alta, ponto comum com vários carros lançados recentemente, a janela traseira é estreita, por isso o teto solar aberto dá um “alívio”.
Desempenho
As opções de motorização também, são, claro, exclusivas do Brasil. As versões de entrada (Active) e intermediária (Allure) são equipadas com o 1.5 de 4 cilindros, 8 válvulas, que desenvolve 93 cavalos de potência quando abastecido com álcool. O torque máximo de 14,2 kgfm aparece a 3.000 rpm. A versão topo de linha (Griffe) leva o propulsor 1.6 de 122 cv (com etanol), cujo torque máximo é 16,4 kgfm a 4.000 rpm. Os dois são flex, mas o 1.6 conta com o sistema que dispensa o tanquinho, inaugurado no 308.
Inicialmente parece uma bobagem ter como opções um 1.5 e um 1.6, pela pouca diferença de cilindradas. O primeiro se mostra esperto tanto em rodovia quanto no trânsito anda-e-para (o G1 experimentou as versões por cerca de 200 km cada, na região de Búzios (RJ) e até o Rio de Janeiro). Não chega a ser indispensável, mas os 29 cavalos do 1.6 e o torque privilegiado em rotações mais baixas o fazem combinar mais com a proposta do carro esportivo, que atende prontamente ao comandante, assim como o câmbio manual. A versão é boa de retomada e abre caminho na estrada.
Conclusão
Com esse preço –e, de novo, esqueça o 208 de entrada, é a partir da versão de R$ 46 mil que ele diz ao que veio -, dificilmente será o “primeiro carro” de alguém, tampouco o da família. A Peugeot está certa no discurso de que, no Brasil, ele vai flertar com quem já passou da fase do básico e quer agora um carro que chame a atenção, com alguma coisa que renda uma conversa entre amigos. A questão é que tem muita gente de olho nesse cliente –até o líder Volkswagen Gol, modelo básico que chega a ter versão com controles ao volante.
Há muita concorrência para o 208 e ele não é tão revolucionário assim (mesmo para o segmento), mas seu trunfo é ir bem tanto em dinâmica e equipamentos quanto no visual, enquanto concorrentes pendem para um ou outro lado –ou cobram mais para entregar tudo. Por outro lado, a montadora francesa ainda luta para desfazer a imagem de careira no pós-venda. O 208 terá revisões a preços fixos, sendo R$ 810 para as três primeiras (ou 30 mil km) do 1.5 e R$ 890 para o 1.6, e a fabricante promete preço “acessível” nas peças de reposição.
A Peugeot diz que seus carros são vendidos mais com base na emoção do que na razão, mas, no caso do 208 e de sua concorrência, vale a pena não deixar a calculadora de lado.
Disponível no(a):http://g1.globo.com/carros
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