13 de mar. de 2013

O Mercedes-Benz 600 Landaulet de Saddam Hussein é tão incrível quanto assustador


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O Mercedes-Benz 600 é um carro intimidador, e muitas pessoas intimidadoras — como os ditadores — já os tiveram. Ele é imenso, especialmente na versão de entre-eixos longo: são quase seis metros e meio de Mercedes, pesando quase quatro toneladas.

Mas este aqui me causou algo que eu nunca havia sentido na vida. Não me lembro de ter perdido a fala por causa de um carro.
Qualquer coisa com uma estrela de três pontas já causa certo impacto, mas o 600 é simplesmente atordoante. Ele não é alto, mas é muito grande. Mas diferente das limousines esticadas, seu desenho foi feito de forma cuidadosa e bonita. É a aura mítica deste carro que te pega de jeito. Sua lista de proprietários inclui muita gente famosa e poderosa, como Ferdinand Marcos (ele tinha quatro, na verdade), Pol Pot, Fidel Castro, Coco Chanel,  Jeremy Clarkson…
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Este Mercedes-Benz 600 em particular pertenceu a Saddam Hussein. É um carro especial, que ficou ainda mais especial por ter sido usado por um dos mais famosos ditadores de todos os tempos, odiado pelo mundo todo e caçado por muito tempo antes de ser capturado e morto. Qualquer coisa ligada a Hussein causa muitas emoções, muitas delas ruins, o que provavelmente é a razão pela qual este veículo — mesmo com sua raridade e seu valor histórico — tenha ficado escondido no Museu Petersen por tantos anos.
O 600 de Hussein é um modelo raro. É um landaulet de desfiles, com teto sólido sobre os bancos dianteiros e um teto de lona na metade posterior do carro. Resumidamente é uma limusine onde você pode ficar em pé acenando para o povo, e é por isso que a maioria dos landaulet iam parar nas mãos de pessoas que praticamente eram donas de um país. Cada governo fazia uma encomenda especial para a Mercedes-Benz entre 1963 e 1981, e cada um deles tinha equipamentos diferentes exigidos pelo líder daquele país.
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O curador Leslie Kendall e o diretor de marketing Chris Brown mostraram os detalhes do 600. Kendall me disse que foram feitos 59 landaulet, e algo entre 15 e 20 eram modelos “longroof”, com o teto de lona cobrindo não só os bancos traseiros, mas toda a área atrás dos bancos dianteiros. A maioria dos landaulet só cobre os bancos traseiros. Isso quer dizer que Saddam podia ficar em pé sobre um pedestal na traseira e colocar a cabeça para fora do carro em um desfile. Kendall também disse que este é mais raro por ter quatro portas, e não seis.
Não se sabe muito sobre o período em que foi um veículo do governo, mas o hodômetro mostra apenas 5.204 km em 35 anos. Mas algum tempo depois da queda de Bagdad e da captura de Saddam, o landaulet foi parar nas mãos de um empresário iraquiano que, segundo Kendall, deu um jeito de levar o carro para a Jordânia. Ele especula que houve uma longa discussão com os guardas, seguido por algum tipo de troca. Dinheiro, provavelmente.
Mas em 2006 o representante da Mercedes na Jordânia e na Síria contatou o Museu Petersen e disse basicamente “eu tenho um carro para vocês”. Kendall e um diretor do museu foram para a Jordânia e, ele conta, viram o grande Mercedes. A conclusão foi que Robert Petersen, o finado fundador do Museu Petersen, precisava desse carro. Na verdade ele teve um dos primeiros modelos de entre-eixos longo que foram importados para os EUA. E então foi fechado um negócio e o surrado, porém histórico landaulet chegou a Los Angeles, para ficar no porão. Onde está hoje.
“Precisamos nos certificar de que tudo estava dentro da lei”, Kendall conta.”Tudo genuíno e legalizado. É um carro bem documentado.” Ele contou que há documentos do empresário iraquiano e de outros donos para comprovar sua origem.
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Havia areia por toda parte e ela ainda está em alguns lugares. Os revestimentos são em veludo cor de areia para combinar (couro seria impraticável no deserto), mas estão gastos, assim como o carpete. Todos os cinzeiros e isqueiros também foram retirados. O exterior tem estribos por toda a extensão do carro e alças na traseira – para que os guardas possam se segurar e proteger quem estiver dentro do carro. Mas depois do desfile os guardas entravam no 600 e o levavam de volta para a base, o que fazia suas armas e cintos rasparem e riscarem a carroceria. Há marcas por toda a tampa do porta-malas e capô. Para movê-lo de sua vaga para que pudéssemos abrir as portas e olhar dentro, o pessoal do Petersen usou um carrinho de golfe como reboque. Os pneus não estavam vazios, mas o traseiro esquerdo era na verdade o estepe que deveria estar no porta-malas. O carro só estava com duas das calotas originais, e no porta-malas havia um pedaço de tapete persa cortado no formato de um tapete para o motorista, e uma garrafa de água. A última água de Saddam Hussein?
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O carro todo realmente aparenta ter sido usado e abusado por 35 anos. As portas rangem quando abrem, e uma mancha de óleo ficou sobre o chão onde o carro estava. E não há manual do proprietário, mas o diretor de marketing Brown encontrou um monte de livretos explicando como usar os rádios Becker e onde encontrar oficinas na Europa, África e Ásia.
O carro não está pronto para ser exposto. Kendall diz estar procurando mais fotos de quando ele era usado por Saddam, pois só existe uma até o momento. E o museu não está autorizado a mostrá-la.
Jason mostrou que o landaulet fica estacionado ao lado de um maravilhoso 600 de entre-eixos curto que já foi de Jack Nicholson, e até apareceu no filme As Bruxas de Eastwick, onde Nicholson interpretou o diabo – outro poderoso ditador. Kendall disse que o carro de entre-eixos curto é um dos melhores 600 do mundo, enquanto o outro provavelmente seja o pior.
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E então você começa a entender por que ele é tão especial e importante para a história automotiva. Quando eu contei às pessoas o que vi no porão do museu, elas me diziam “e o que tem demais nisso?” Mesmo os entusiastas podem achar difícil de entender porque ele simplesmente não foi destruído depois da invasão.
Todos os 600 deveriam ser preservados porque são raros e representam uma fantástica obra da engenharia, evidenciada pelos sistemas hidráulicos destes carros. É um Mercedes dos anos 60 em todos os sentidos. As portas podem ranger, mas se fecham com o som mais sólido do mundo. O fato de que homens envolvidos em crimes terríveis serem donos destes carros só contribui para a força de sua imagem.
Este 600 jamais será restaurado e talvez jamais seja exposto, mesmo com todos os amassados e ferrugem e outras imperfeições. Mas ele tem história para contar sobre a vida que viveu e o papel que representou na história. É incrível, chocante, apavorante e fascinante, tudo ao mesmo tempo.

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