26 de mar. de 2013

Nascar:Uma entrevista com Felipe Colombino


Felipe Colombino: engenheiro brasileiro na Nascar (Foto: Arquivo Pessoal)Felipe Colombino: engenheiro brasileiro na Nascar (Foto: Arquivo Pessoal)
 
Talvez você nunca tenha ouvido falar de Felipe Colombino. Recém-contratado pela Turner Scott, equipe dos brasileiros Nelsinho Piquet e Miguel Paludo, ele é um dos poucos brasileiros que faz parte de uma equipe da Nascar.

Nesse bate-papo, Felipe, que nesta semana completa 22 anos, conta sobre sua ida aos Estados Unidos e dá dicas para quem sonha trabalhar num carro da categoria mais importante do automobilismo americano. Além disso, ele dá um parecer sobre os novos carros, os GEN6 e as principais diferenças das montadoras que competem na Nascar. Confira:
Você é um dos poucos brasileiros que trabalha numa equipe da Nascar. Como surgiu esse convite?
No começo do ano passado, conheci o Carlos Iaconelli, que estava correndo na X Team, e ele me apresentou para o Geraldo Rodrigues, dono da equipe. Trabalhei na X Team numa temporada completa da K&N Series. Logo depois da temporada, recebi o convite para estagiar na Turner Scott, equipe onde Nelsinho Piquet e Miguel Paludo correm, e ainda estou por aqui.
Qual era sua formação aqui no Brasil, antes de fazer os cursos nos EUA?
Estudei três anos de engenharia mecânica na FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) e sempre fui apaixonado por automobilismo, então resolvi vir para os Estados Unidos aprender sobre a prática e sair um pouco apenas da teoria.
Qual curso você fez aí nos EUA? Existe algum curso especializado em Nascar?
Estou no Instituto Técnico da Nascar, um curso que oferece os dois lados, o aprendizado vai dos carros de rua e inclui nas ultimas 21 semanas as aulas especificas pra trabalhar numa equipe aqui, desde soldagem, fabricação do chassis, até setup do carro e preparação dos motores.
Com essa formação, você fica apto a trabalhar em qualquer carro da categoria, inclusive os da Sprint Cup?
Todos os carros das categorias da Nascar são semelhantes. Com essa formação, estou apto a trabalhar em qualquer categoria da Nascar, inclusive os da Sprint Cup. A grande diferença entre a Cup e as outras categorias é que a categoria principal da corre com motores a injeção eletrônica, e nas outras, são carburados.
Na sua opinião, o que um brasileiro que sonha em ser mecânico ou engenheiro de uma equipe da Nascar tem que fazer para chegar por aí?
Tem que vir aqui para os Estados Unidos, na região de Charlotte, e se dedicar a aprender as coisas na maneira do americano. A Nascar é muito particular em todos os quesitos. Outro fato: no começo, a equipe não vai te pagar salário, e você tem que se dedicar e mostrar que quer estar ali e fazer de tudo, desde varrer o chão a apertar os parafusos e ajudar no setup do carro de cada etapa. Aos poucos, todos na equipe vão confiando em você e cada dia é uma experiência nova.
Qual é o seu grande objetivo, seu foco? Você acredita que é um campo fértil para se crescer ou é tudo tão competitivo que se você não tomar cuidado pode ser excluído dele?
É um campo fértil, mas é um campo muito concorrido. Tem que querer muito, são muitas etapas durante o ano, muitos finais de semana trabalhando, muitos dias passando do horário. Mas tem que fazer de tudo para o carro estar pronto para a próxima corrida.
O meu grande objetivo é me tornar engenheiro de chassi, trabalhar com o chefe da equipe a escolher o melhor setup do carro, e fazer o planejamento certo durante a corrida.
Garagem da Turner Scott, equipe de Nelsinho, Paludo e Colombino (Foto: Erick Gabriel/Tazio)
Garagem da Turner Scott, equipe de Nelsinho, Paludo e Colombino (Foto: Erick Gabriel/Tazio)
Um bom mecânico de carros de rua estranharia muito mexer num carro de competição?
A suspensão do carro da Nascar é baseada em diversos carros americanos ao longo dos anos. São princípios antigos que, com a tecnologia, foram se aperfeiçoando. Se o mecânico de carro de rua tem grande conhecimento em carros modernos em geral, talvez no primeiro instante ele estranhe, mas ele se adaptaria. Já aquele cara que teve mais experiência com todas as gerações de carros talvez entre no ritmo mais rápido.
O que você acha dos novos carros da Sprint Cup, o GEN6?
Os carros da GEN6 ficaram muito bonitos, além de que o corpo do carro é mais moderno, mais leve, mais aerodinâmico e mais rápido. Porém é um carro mais difícil de dirigir, um carro com menos downforce. A distância entre eixos é a mesma da geração anterior, porém o corpo do carro é algumas polegadas mais curtos. O carro ainda deve evoluir ao longo do ano, as equipes vão descobrindo os segredos para deixá-lo mais rápido e a Nascar sempre fazendo mudanças para aumentar a competitividade.
Na sua visão, quais são as diferenças entre os motores das três montadoras que estão na Nascar hoje? Se fosse para escolher um para você mesmo competir, qual seria ele?
Das três montadoras que estão na Nascar, a única que constrói os motores é a Toyota, eles são desenvolvidos pela TRD (Toyota Racing Development). O motor Toyota é o mais novo na categoria e teve bastante dificuldade no começo com a durabilidade, mas sempre foi um motor que produz bastante cavalaria. Com o passar dos anos, o motor vem sendo aperfeiçoado e vem crescendo muito.
O motor Ford é construído principalmente pela equipe Roush-Yates, e sempre foi conhecido em produzir muita potência desde as origens da Nascar. Sempre teve uma superioridade tecnológica em relação aos Chevrolets, mas também tiverem mais problemas com durabilidade.
O motor Chevrolet, construído principalmente pelas equipes Hendrick e Richard Childress, sempre foi o mais baseado no motor de rua, no Small Block Chevy, e sempre foi um motor muito constante, que produziu cavalaria e com ótima durabilidade e boa relação entre consumo de gasolina e potência. É um motor que traz confiança pra quem esta atrás do volante, e para todos da equipe.
E, na minha opinião, não é sempre o carro mais potente que ganha as corridas, e sim o carro mais completo, e por isso, eu escolheria o motor Chevrolet.

Disponível no(a):http://tazio.uol.com.br

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