18 de jan. de 2013

Richard Hammond testa o Pagani Huayra

 
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O Hipercarro do Ano não revolucionará o transporte pessoal, o esporte a motor ou solucionar a crescente crise energética. Bem longe disso, na verdade. Dificilmente ele quebrará recordes de autonomia, poucas unidades serão feitas e, custando cerca de £800 mil (R$2.7 milhões) – mais que o triplo do preço de um Lamborghini Aventador – ele será comprado por uns poucos ricaços que curtirão as qualidades excelentes de uma máquina que a grande maioria de nós dificilmente terá a chance de ver uma em pessoa; como se fosse um unicórnio de metal. E aqui está ele: o Pagani Huayra, e talvez seja melhor pensarmos nele como um unicórnio.

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Você já deve estar familiarizado com a história da Pagani, que começou como uma marca novata no mundo dos supercarros que firmou sua base logo ao lado dos grandes nomes do mercado na Itália, até o lançamento do primeiro Zonda em 1999. Em pouco mais de uma década, a Pagani estabeleceu-se como uma lendária montadora de máquinas fabulosas, cujas performances, preços, visuais e presenças cativaram sonhadores, loucos por carros, playboys bilionários e crianças.
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Os pôsteres de parede são quase sempre citados como os barômetros da atratividade de um supercarro. E eu não farei diferente. O editor da Top Gear Magazine cresceu com um pôster de um Lamborghini Countach decorando sua parede. Assim como eu. Agora o seu filho tem um pôster de um Pagani Zonda na parede dele. Assim como eu. E não estou brincando. Tenho 42 anos, duas filhas, uma hipoteca e bolsas palpebrais que parecem o saco de um elefante, mas eu tenho um pôster de um supercarro na minha parede. E não é um pôster qualquer. Ele não é particularmente grande e está um pouco amassado pois eu o trouxe para casa na minha mochila, mas ele é um rascunho a lápis de um Pagani Zonda lindamente feito pelo Horacio Pagani. E tem a assinatura do próprio Horacio Pagani. Por isso que o pôster é importante: “assinado pelo próprio Horacio Pagani”.
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Eis o que o sr. Pagani tem a dizer no primeiro parágrafo da sua síntese sobre o Zonda. Ele apenas salienta os pontos principais aqui, o básico que você precisa saber sobre seu carro de £800 mil. “E como um amante impetuoso, a performance melodiosa ergue-se do motor e gradualmente aumenta numa crescente fascinante e vertiginosa até que ardentes chamas azul-claro jorram do…” Sim, “jorram”, ele escreveu isso mesmo.
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Compare essas palavras com o que está escrito no site da Lamborghini sobre o Aventador. “Ir muito além do que antes achava-se possível é tão parte da nossa marca como são os nossos valores fundamentais: descompromissado, extremo, italiano”. Marca? Valores fundamentais?
De um lado, temos um homem cujo nome aparece no produto, aparentemente concretando o caminho por onde o seu carro entrega sua potência e jorra fogo azul, e de outro, estamos aprendendo sobre a declaração de missão de uma companhia. Eu não quero uma apresentação em PowerPoint, eu quero que minhas calças fiquem chamuscadas pela total exuberância e emoção e maravilha de tudo isso. É por isso que um Pagani adorna minha parede em um pôster, apesar dele dificilmente adornar minha garagem como um carro de verdade.
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Eu quero que o Hipercarro do Ano traga toda a magia, a mística e a fábula de um unicórnio, que faça parte de sonhos e de fantasias. E se é para ser assim, tem que ser mesmo o Pagani Huayra. Este é o tão aguardado substituto do Zonda. E demorou bastante; ele foi imaginado em 2003, e só virou realidade 10 anos depois. Mas acho que os unicórnios têm um período de gestação excepcionalmente longo.
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Em 2003, Pagani sentiu que o Zonda já deu o que tinha que dar. Ele queria substituí-lo por algo completamente diferente mas que ainda tivesse aquele algo a mais que permitiu ao Zonda juntar ciência com arte automotiva fervorosa. No entanto, o Zonda não teve um fim abrupto. Enquanto a imaginação de Pagani dava forma ao Huayra, a companhia lançou o Zonda Roadster S, o Zonda F, o Zonda R, o Zonda Cinque e o Zonda Tricolore. Agora, finalmente, e só depois que Pagani sentiu que estava realmente pronto, a equipe lançou o Huayra, que é o nome de um deus do vento sulamericano, devido à atenção dada à aerodinâmica e coisa e tal.
É mais comprido e largo e mais potente do que o Zonda, usando um V12 AMG especialmente projetado que produz 740 cavalos. Mas o número mais chamativo é o torque: são 102,03 mkgf.
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O importante é que ele é um passo à frente em relação ao Zonda. Mas esse progresso não veio às custas de sua identidade. Uns predizeriam que esta pequena montadora de supercarros, cheia de exuberância e excitação, fazendo supercarros insanos literalmente na mesma rua que a Ferrari e a Lamborghini, ficaria toda confiante e empresarial após o seu primeiro carro ter sido um sucesso monumental. O seu segundo carro seria mais sensato, mais manso, como um Lambo sob influência da Audi. Não. Não mesmo. Ele continua louco.
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O interior é uma fantasia de couro e cromado escultural; se o Capitão Nemo se juntasse a uma sadomasoquista de alta classe para construir uma sala de cirurgia para o Nautilus, ela seria parecida com isto. Este cockpit não é “bling”, é arte excêntrica. E tem arte pelo carro inteiro; a carroceria, que manteve a cabine avançada, está mais lisa e curvilínea do que a do Zonda, com flaps aerodinâmicos escondidos nos cantos, prontos para atuarem com a suspensão ativa para manter o carro estável nas curvas. É o primeiro carro no mundo a ser feito inteiro de carbotânio: um material composto de fibra de carbono e de tranças de titânio. O resultado é um carro mais leve do que um feito de fibra de carbono, mais rígido do que um feito de fibra de carbono, mas diferente de um feito de fibra de carbono, ele não estilhaça-se se você bater. Mas nunca conseguirei deixar de imaginar que a Pagani escolheu o material principalmente por causa do nome “carbotânio”. Soa incrivelmente futurista, e futurista sempre é bom.
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O motor foi projetado especialmente para o Huayra pela AMG, cujos motores moveram todos os carros da Pagani. Muito trabalho foi feito para manter a entrega da potência bem linear, sem lag (atraso) do V12 biturbo, e a força resultante é chocante a um nível primitivo e instintivo. Na nossa pista, a luz do controle de tração acendeu algumas vezes, avisando-me que estava prevenindo as rodas traseiras de girarem em falso e eu estava acelerando em linha reta. Em 6º marcha.
Ele tem uma relação peso-potência melhor do que o de um Bugatti Veyron, mas ela é servida inteiramente para as rodas traseiras. E eu gosto disso. É um lembrete de que apesar do preço, dos materiais opulentos e da aerodinâmica ativa, isto ainda é obra de arte fantástica, linda e maluca.
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E volto de novo à razão para o Huayra estar entre nós. É movido pela paixão de um homem. Para realizar o seu sonho, ele cercou-se dos melhores designers e parceiros que ele pôde encontrar. Mas ainda assim, é algo que saiu de sua cabeça e foi parar num pôster nas paredes dos nossos quartos, se não, na maioria dos casos, nas nossas garagens. O que ele fez foi nos presentear com este unicórnio e isto torna-o, pelo menos para mim, um carro muito, muito especial mesmo.
TEXTO: Richard Hammond
FOTOS: Justin Leighton/Rowan Horncastle

Fonte: Topgearbr
Disponível no(a): http://topgearbr.wordpress.com
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