E é justamente nisto que você deveria pensar.
Décadas e décadas antes que o Aston Martin Cygnet tentasse colocar toneladas de opulência em um pacote bem pequeno, a Rolls-Royce já havia pensado em se embrenhar pelo mesmo caminho.
Foi logo depois da Segunda Guerra, e as coisas não estavam muito boas para ninguém na Europa. Mesmo a orgulhosa e poderosa Rolls-Royce precisava ao menos considerar um carro mais acessível para se manter em pé, ao menos nos incertos primeiros anos do pós-guerra. Não vamos esquecer que, nesta época, até a BMW sobreviveu graças ao pequeno e humilde Isetta.
Outro fator que contribuiu bastante foi a aparência de algo que parecia um Rolls-Royce de longe, mesmo que você estivesse bem ao lado do carro: o Triumph Mayflower 1949. O Mayflower foi um dos primeiros compactos do pós-guerra, e seu estilo o fazia parecer muito mais caro, mesmo que as proporções o deixassem quase cartunesco.
A Rolls percebeu o sucesso do pequeno Roller de desenho animado e preparou sua resposta: o Myth. Movido por um motor de 1.497 cm³ que parecia ter problemas crônicos de refrigeração, o menor dos Rolls Royce tinha a carroceria construída pela Park Ward. O visual era o que se esperava de um Rolls-Royce, com para-lamas sinuosos e uma grade alta e vertical, com a tradicional traseira alta que remetia aos tempos do vapor. Exceto que tudo parecia ser feito em escala 1:3. Por isso, o Myth recebeu o apelido de Rolls Royce Relógio de Bolso, o que é impressionante para um carro que só existiu por 10 dias e rodou 655 km. Conseguir um apelido com 10 dias de vida é uma grande conquista, se querem saber.
No final, a Rolls decidiu que projetar o carro pequeno simplesmente não valeria a pena, já que não seria muito mais caro fazer um modelo maior e mais exclusivo e vendê-lo por muito mais. A divisão da sociedade também contribuiu, já que a RR suspeitava que a clientela não gostaria de ver um empregado dirigindo um carro da mesma marca que o seu, mesmo que fosse pequeno, e que ele fosse o 13º dono, e que a pintura já estivesse toda queimada. Existem algumas coisas que quem é rico de verdade não suporta.
Então o Myth morreu. Há duas coisas em que acredito com toda minha força e talvez vocês também: no poder de cura da canja de galinha, e que o dia em que teremos compactos de luxo está cada vez mais próximo. Ainda penso que um dia veremos um carro city car da Rolls-Royce. Enquanto este dia não chega, vamos lamentar a morte do pequeno Rolls-Royce que jamais tivemos.
Fonte: Jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br/
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