26 de jan. de 2013

Impressões clássicas: Volkswagen Type III 1972

TL (1) cópia

Primeiro: este carro tem um nome. É claro que tem um nome. Este adorável Volkswagen Type III fastback laranja se chama Edna, em homenagem à senhorinha que era a antiga dona deste carro. A Edna humana vendeu a Edna carro para  Joy Ivy há oito anos, quando o VW tinha apenas 24 mil km no hodômetro. Joy pagou US$ 4.500 por ele (em torno de R$ 9.000) – um valor que, para um carro desta idade e tão pouco rodado, é uma pechincha.

Vamos logo com isso: eu sou apaixonado por este carro há muito tempo. Eu o via andando pela vizinhança há anos, e fiquei em êxtase quando consegui abordar suposta dona em um estacionamento. Acho que ela me bateu. Mas valeu a pena. Este é um dos Type 3 mais bem conservados que eu já vi. Sim, ele tem algumas modificações, mas de bom gosto (para-choques com visual mais antigo, rodas, película), mas tudo feito com classe e respeito.
Tenho certeza que os leitores sabem o que é um VW Type III: nada mais é do que um TL, o fastback que a Volks fabricou no Brasil entre 1970 e 1976. Mas a maioria das pessoas que encontram o carro de Joy na rua não sabem do que se trata, e o chamam de Fusca ou Volvo. E, realmente, o estilo é meio que um amálgama do Fusca com um Volvo Amazon. O Type III foi feito para ser o Fusca mais caro da VW nos EUA, um refúgio para os compradores que estava cansados do besouro.
Joy, designer gráfica, cuida muito bem do carro. Ela é meio que uma curadora, porque sabe o quanto um Fastback (eles costumam chamá-lo assim nos EUA) automático original é raro. Tudo esta lá – a forração no porta-malas traseiro, os adesivos no batente da porta, e até o manual do proprietário original! Ver uma coisa dessas é como entrar em uma cápsula do tempo pintada de laranja e voltar a 1977 ou algo assim. Ele agora tem 70 mil km rodados com o motor nunca refeito.
TL (2)
Nota: eu queria tanto dirigir esta maravilha cor de laranja que espionei esta mulher por meses com meu carro. Se forem fazer algo do tipo, é melhor serem mais sensatos do que eu.
Mecanicamente, é um puro boxer a ar VW, mas com uma adição importante: ele foi o primeiro carro produzido em massa do mundo a ter injeção eletrônica de combustível, em 1967, e tinha 65 cv. Na frente, o Type III tinha freios a disco e braços arrastados melhores, enquanto na traseira o motor/transeixo era montado em um subchassi com amortecedores para manter o ruído e as vibrações sob controle.
Muitos amigos de Joy acham que ela é meio doida e se perguntam como ela teve coragem de abandonar seu Mini Cooper por esta antiguidade. Lá no fundo, tenho certeza que Joy sabe que seus “amigos” estão mortos por dentro, como seus vizinhos que reclamam do cheiro de gasolina e alumínio da garagem onde o Type III passa a noite. Danem-se eles! Esta coisa linda é uma verdadeira joia, e eu respeito muito a mulher que cuida dele muito bem e, mais importante, o dirige todos os dias.

Por fora

TL (3)
Sempre gostei do visual dos velhos Type III. Claro, é meio antiquado, meio britânico e sueco, mas acho que funciona. E eu gosto muito da versão Fastback, pois ela era um sopro de juventude na então conservadora VW.
O Type III é um Fusca melhorado, e teve algumas mudanças significativas. A maior delas é, claro, a carroceria, que abandonava os para-lamas separados em favor de uma carroceria “ponton”. É bonito e limpo e, com um pouco de imaginação, o Fastback remete aos 911/912 da época. Ele poderia ser o irmão mais velho e careta do 911, do tipo que está pagando a fiança do Porsche.
Este exemplar foi feito depois do facelift de 1970, que esticou e achatou as extremidades da carroceria para conseguir mais espaço para carga, e incorporou novos para-choques, mais pesados, que quase ninguém aprovou na época. Joy trocou os seus pelos modelos mais antigos, com protetores. Acho que os para-choques mais antigos ficaram muito bem, e as rodas Empi de época mais a suspensão levemente rebaixada deixaram o pacote bem agradável. Não sei o nome exato da cor, mas “Laranja Sem-vergonha” ficaria muito bem.
Este carro mistura caretice com esportividade, e eu gosto.

Por dentro

Deixar o interior do Fusca mais caro e completo é bem fácil. Na verdade dá para fazer quase qualquer coisa, e foi exatamente isto que a VW fez. Ele tem um painel de verdade, e três clústeres com belos mostradores. A VW até se deu ao luxo de colocar um relógio no painel, então precisaram cortar alguns gastos. Por isso, a maioria dos controles vem direto do Fusca. Até os indicadores das setas piscam em conjunto como é no Fusca.
Mas o banco traseiro tem descanso de braço dobrável. Hmmm…
TL (4) cópia
A sensação dentro do Fastback é muito boa. O painel está como novo, não tem nenhuma rachadura, e o metal laranja exposto na carroceria evita que tudo se torne um mar de vinil preto. O forro de teto branco impecável e a curvatura do teto tornam o ambiente be, arejado. É bom estar dentro dele e, com as grandes janelas laterais e traseira , a visibilidade é excelente. Joy trocou o volante por um Empi de época, o que dá um toque bacana.
TL (5) cópia
A melhor parte, porém, são os dois porta-malas. Melhorar o espaço para a bagagem era bem importante para a VW na época, e eles se esforçaram. Montando a ventoinha direto no virabrequim e redesenhando todo o sistema de refrigeração, eles conseguira, fazer um motor do tamanho de uma mala. É bem impressionante, de verdade. Isto permitiu que o carro tivesse dois porta-malas: o tradicional dianteiro e um acima do motor.

Como anda

Este é o calcanhar de aquiles desse carro. É a parte que dá ao nome Fastback a ironia que todo mundo curte. Ele é lento, e grande parte da culpa é da caixa automática rústica, porém aceitável, que a VW colocou em alguns deles, mas aqueles 65 cv do motor também não saem ilesos.
TL (6)
No começo não é tão ruim. Quer dizer, de 0 a cinco metros. Então o ritmo cai um pouco, e o carro retoma fôlego por volta dos 50 a0s 70 km/h… contanto que você não encontre uma subida. Eu peguei uma das ladeiras mais íngremes da vizinhança, sentei a bota e o carro parou nos 30 km/h.
Mesmo assim, para usar na cidade está bom. É só dirigir sabendo aproveitar a potência de forma gradual.

Freios

Sinto muito mesmo por esta parte, porque este foi o único quesito em que o carro teve problemas. Normalmente, os freios a disco fazem um bom trabalho ao frear um Type III automático, mas o carro da Joy estava com um dos discos empenado e dançava um pouco nas frenagens. Trocando o rotor, tudo vai ficar bem.

Conforto

Foi aqui que eu fiquei surpreso. Tem tanta coisa nesse carro que remete a um Fusca maior e melhorado – a identidade visual, os botões, os materiais, os cheiros – que eu acabei esperando barulho e vibração de Fusca. Mas não.
Assim como no interior do carro, não é muito difícil fazer algo melhor do que um Fusca em termos de conforto. Com o motor montado em um subchassi a vibração do boxer já é muito reduzida, e como este motor fica bem longe dos ocupantes, debaixo de forrações e de um porta-malas, o ruído do motor a ar não incomoda nem um pouco. De verdade, depois de décadas dirigindo um Fusca, eu fiquei bem impressionado.

Comportamento dinâmico

Sim, é um carro com motor traseiro e pode sair bastante de traseira sob as circunstâncias exatas. Mas se você sabe disso, e gosta mesmo de um carro que sai de traseira, o Type III oferece alguns benefícios interessantes: o centro de gravidade é bem baixo – o motor é um retângulo achatado que fica perto do chão. Os eixos na traseira têm juntas duplas para evitar a “roda presa” e outros problemas comuns nestes carros, e as barras anti-torção na dianteira são redondas e sólidas, e não os feixes usados nos primeiros VW e Porsche.
Embora a dirigibilidade não seja incrível, você pode se divertir com um desse, e há melhorias o bastante para não transformá-lo em uma armadilha mortal. E, se querem saber, ele é lento demais para te meter em alguma enrascada maior.

Câmbio

Caixas automáticas do início dos anos 70 nunca foram muito boas, e esta aqui não é exceção, de verdade. A coisa mais positiva que já ouvi a respeito dela foi que a fricção era tão baixa que dava para mudar as marchas com a mão. Portanto este câmbio não rouba tanta potência quanto poderia.
TL (7)
Mas isto não quer dizer que não atrapalhe e, para quem gosta de dirigir, o manual é muito melhor. Porém – e este é um grande porém – este câmbio, neste carro, é perfeito. Faz parte do charme dele, é bem raro, e provavelmente evitou que os netos de alguém acabassem com ele no início dos anos 90. Além disso, a alavanca é bem legal.

Praticidade

TL (8)
Este carro é bem prático. Dois porta-malas de bom tamanho, interior decente com espaço para você e mais três ou quatro (bem apertados), direção leve (embora a dona insista que esterçá-lo seja um bom exercício) e uma postura de direção bem relaxada e fácil – uma maneira estilosa de se locomover na cidade sem apelar para um carro moderno e sem graça.

Personalidade

Este Type III exala charme. A cor viva, as modificações de época, o estado impecável de todo o carro, e o fato de mesmo assim ele ser usado diariamente e não ser uma “garage queen”, tudo se junta para criar um pacote cativante.
TL (9)
E você poderia ser o Rei Idiota do Planeta Estúpido e não fazer nem ideia do que é um carro e mesmo assim, no momento em que visse este objeto, entenderia que ele é algo que alguém adora do fundo do coração. E ver algo assim sempre te faz se sentir bem. Foi muito bom dirigir este carro, mesmo que por pouco tempo, e eu sou uma pessoa mais feliz por saber que ele ainda está por aí, mandando ver. É isso.

Ficha técnica

Motor: 1.584 cm³, refrigerado a ar, quatro cilindros opostos
Potência: 65 cv a 4.400 rpm
Torque: ?????
Transmissão: automática de três marchas
0 a 100 km/h: melhor esperar sentado
Velocidade máxima: 130 km/h
Conjunto motriz: motor traseiro, tração traseira
Peso: ~1000 kg
Fonte: Jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br/
Comente está postagem.

Nenhum comentário: