Quem não quer ser pego na Lei Seca encontra nessas cervejas uma alternativa para não dirigir de forma segura, sem deixar de lado o sabor.
Uma alternativa encontrada por muita gente foi então apelar para as cervejas sem álcool. Com elas, o sabor é praticamente o mesmo e o motorista, consciente, não se sente tão fora dos padrões sociais por estar em uma mesa com os amigos beberrões – e ainda não estraga a paquera ao ser flagrado com um copo de suco na mão no meio do bar. Tanta cautela não é à toa: de acordo com dados do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, não há limite seguro para dirigir após beber, porque a metabolização do álcool depende de fatores como sexo, peso, alimentos ingeridos e, claro, quantidade de bebida consumida. Além disso, caso o motorista apresente 0,2 mg de álcool por litro de sangue, já está na berlinda.
Marcos Mello, de São Paulo (SP), sentiu na pele, ou melhor, no bolso, os problemas de beber e dirigir. Por trabalhar com importação cervejeira, ele tem uma tarefa invejada por muitos marmanjos: quando chegam rótulos novos, têm de degustá-los em quantidades mínimas para conhecer as características sensoriais (aroma, sabor, corpo etc). “A gente sempre pensa que nunca vai acontecer com a gente, mas aconteceu há quase um mês. Era uma segunda-feira, por volta das 23 horas e tinha uma blitz que me parou. Pediram pra fazer o teste do bafômetro e achei que por ter bebido pouco na degustação, estaria livre, mas fui pego. Na hora é um susto porque além da multa, existe sempre o medo de perder a carteira e apreenderem o carro, o que, por sorte, não aconteceu”, conta Mello, que também é sócio do site de camisetas Beer Freaks.
Depois da experiência, Mello passou a beber mais cerveja sem álcool e diz não notar a diferença no sabor. “Amo lúpulo e uma das minhas cervejas preferidas, a Nanny State, da marca Brewdog, tem muito deste ingrediente, o que faz com que tenha aroma e sabor que não devem em nada pras cervejas ‘convencionais’”. Ainda assim, alguns hábitos mudaram pra valer. Quando sabe que vai beber bastante, Marcos Mello agora vai de metrô, pra não correr mais riscos, ou fica mesmo só nas cervejas não alcoólicas.Sinal Amarelo nas cervejasPouca gente sabe, mas a legislação nacional deu um jeitinho até nas cervejas. Isso porque segundo o decreto nº 6.871, de 4 de junho de 2009, que regulamenta a lei nº 8.918 de 14 de julho de 1994, as cervejas com graduação alcoólica de até 0,5% de álcool por volume podem ser batizadas de “sem álcool” e não necessariamente são obrigadas a informar isso no rótulo, o que demanda maior atenção e cuidado por parte dos motoristas.
Mestre-cervejeiro do Grupo Petrópolis, farmacêutico e bioquímico, Alvaro Dertinate Nogueira, de Boituva (SP), conta que o mercado de cervejas não alcoólicas tem representatividade em todo o mundo, inclusive nos países islâmicos, onde o álcool é proibido. “O consumo desse tipo de cerveja é uma opção ou uma necessidade. Em almoços de negócios, por exemplo, tomo a Itaipava 0,0% por opção. Quando vou participar de alguma recepção e não tem ninguém pra me levar de volta pra casa em segurança, também fico na cerveja sem álcool”, destaca.
Receita especial para aquecer só os motores
Tem muita gente que torce o nariz só de ouvir falar em cerveja sem álcool, afinal, cadê a graça? Feita de água, malte, lúpulo e levedura, a cerveja nasceu pra ter álcool, já que durante o processo de fermentação, algo “mágico” acontece: as leveduras passam a consumir o açúcar do malte e, como resultado, produzem álcool e gás carbônico, que deixa a cerveja refrescante e com as conhecidas bolhinhas.
O químico e mestre-cervejeiro Alfredo Luiz Barcelos Ferreira e a beer sommelière Kathia Zanatta, professores do Instituto da Cerveja, da capital paulista, contam que para fazer uma cerveja sem álcool é preciso interromper o processo fermentativo, evaporar o álcool por destilação à vácuo ou filtrar a cerveja com uma membrana muito fina e especial. “Apenas esses dois últimos métodos rendem cervejas totalmente zeradas de álcool”, destacam.
Teoricamente qualquer estilo de cerveja pode ser feita sem álcool se o cervejeiro aplicar as técnicas acima mencionadas. Ainda assim, as mais facilmente encontradas são as de trigo e as Pilsen (alemã ou lager americana, como as que temos no mercado).
Freada brusca
Segundo o médico gastrologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC, Rene Crepaldi Filho, da capital paulista, apesar de ser considerada sem álcool, as cervejas a 0,5% podem apresentar riscos: “se o motorista resolver tomar dez garrafas desta cerveja, com certeza poderá ser pego pelo bafômetro”, alerta.
Além disso, o médico pontua que esse tipo de cerveja apresenta menos calorias, mas tem um índice glicêmico muito alto, podendo ser perigoso para quem sofre de diabetes. “O grande perigo está no abuso. Quem sofre de cirrose, de diabetes ou alcoolismo pode encontrar problemas nesse tipo de cerveja. Quem exagerar no consumo também não vai ficar isento de riscos na Lei Seca.”
Alvaro concorda parcialmente: “a ingestão de cerveja sem álcool feita pela técnica de fermentação interrompida não é segura para quem vai dirigir. Todavia, temos que considerar o tempo necessário para ‘adicionar’ esse álcool à corrente sanguínea e a sua consequente transferência ao cérebro. Considere uma garrafa de 600 ml de cerveja e imagine o tempo que uma pessoa normal, saudável e com 75 kg demora para ingerir o volume de dez garrafas com essa quantidade de bebida. Levando em conta ainda o metabolismo do corpo humano, haverá uma degradação constante do álcool ingerido, bem como daquele que já está no sangue, por meio do fígado e dos rins, além da sudorese, que é aumentada nesses casos”.
Disponível no(a): http://revistaautoesporte.globo.com
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