Se a Scion vendesse carros como os traficantes vendem drogas, eles
distribuiriam o FR-S para as pessoas experimentarem. Os jornais locais
estariam noticiando “um surto de viciados no Scion FR-S”. E o Keith
Richards estaria tentando cheirar um carro, e não uma carreira, em cima
do traseiro nu de Anita Pallenberg. Eu falo sério, ele (o carro) é
viciante assim.
Isso porque a Toyota e a Subaru fizeram a lição direitinho, e o carro
é tão revolucionário e simples que é difícil lembrar quando foi que
esquecemos que esses esportivos eram tão legais.
Nota de esclarecimento: a Scion queria tanto que testássemos o
FR-S, que eles me enviaram para Las Vegas, me hospedaram no Red Rock
Hotel, e me serviram comida e bebida. Além disso, havia um simpático
representante da Scion a menos de 10 metros de mim sempre que eu estava
em um ambiente público.
Apesar da velha ladainha marqueteira (como o abuso da palavra
“empolgação”) a verdade é que a Toyota aparentemente quis realmente
fazer um esportivo de verdade. Quando digo “de verdade”, me refiro a um
carro leve, bastante potente, mas não definido apenas pela potência,
equilibrado, ágil e relativamente simples. Não um muscle car ou uma nave
especial recheada de supertraquitanas. Apenas um esportivo.
A Toyota olhou para seu histórico em esportivos e escolheu três
inspirações principais: o AE86, tão adorado pelos drifters e pilotos de
fim de semana; o adorável Toyota 2000GT,
que inspirou fortemente o estilo do carro; e o pequeno Toyota Sports
800, cujo motor de dois cilindros opostos foi a inspiração a mecânica do
carro.
Os engenheiros da Toyota nos contaram que o Sports 800 foi o primeiro
carro de tração traseira com motor boxer dianteiro (eles estão
errados), e que este é o carro que os fez perceber os benefícios de um
motor de cilindros opostos. E essa percepção os levou à colaboração com a
Subaru, um dos dois fabricantes que ainda produzem carros com motores
boxer. Também ajudou o fato de a Toyota ser dona de parte da Subaru.
E foi essa escolha do motor boxer que definiu o sentido deste carro. O
motor é mais baixo, e fica posicionado logo atrás do eixo dianteiro,
resultando em uma distribuição equilibrada de peso (53/47) que separa o
carro dos hot hatches e cupês esportivos em sua faixa de preço. O centro
de gravidade é mais baixo que o do Porsche Cayman (e muito próximo da
Ferrari 360), e você pode senti-lo muito bem.
O motor é basicamente um projeto Subaru com o sistema de injeção
direta D-45 da Toyota. O resultado é um motor de dois litros que produz
200 cv e 20,7 kgfm de torque. Para aqueles que gostam de estatísticas,
isso é uma potência específica de 100 cv/l. Ele gira a 7400 rpm,
diâmetro e curso são de 86 mm – um pequeno tributo ao velho AE86 que o
inspirou.
A homenagem “86″ aparece algumas outras vezes, como o diâmetro
interno do escape (em mm) e no centro do emblema da lateral do carro.
O motor soa muito bem, também, apesar de ter sido necessário o
desenvolvimento de um “criador de som”, que é basicamente um tubo para
direcionar o ronco do motor para o cockpit. Os caras que passaram a vida
inteira desenvolvendo material de isolamento acústico devem ter odiado
isso.
Na questão do estilo, você pode ver a influência do 2000GT no perfil
das janelas laterais, em especial. Gostei do perfil do carro, achei este
seu melhor ângulo, já que o carro tem proporções clássicas de
esportivos, como o capô longo e a traseira truncada. Não gostei tanto da
dianteira do carro. Os faróis angulares parecem um pouco deslocados no
contexto, e eu preferia ver alguma influência do 2000GT ou do Sports 800
aqui. A traseira é atlética e bonita, ainda que a luz de neblina seja
um pouco destacada demais. No fim, é um carro bonito, que instiga as
sensações certas.
Por dentro ele é justo, no bom sentido. É mais como se você vestisse
um traje mecânico, em vez de sentar em uma sala, como na maioria dos
carros. E isso é bom. Os materiais não são ruins, a maioria dos
plásticos é suave ao toque e gostei de ver que eles estamparam as
superfícies com um padrão de letras “T” estilizadas (outra referência ao
AE86 e o logotipo ‘T’ da Toyota usado então). em vez de tentar imitar
couro ou algo do tipo. Os bancos são ótimos, com grandes apoios lombares
para uma acomodação mais firme.
O porta-malas é razoável e, segundo a Scion, com os bancos rebatidos é
possível levar um jogo extra de rodas e pneus (para a pista, sacou?). O
banco traseiro, bem, é mais um conceito de banco traseiro. Outro
jornalista (com cerca de 1,80 m de altura) sentou lá, mas manteve o
banco dianteiro rebatido e encostava a cabeça no vidro traseiro. Até
mesmo o diagrama entregue à imprensa mostra as pernas do passageiro do
banco de trás magicamente absorvidas pelo banco dianteiro. Por isso, é
melhor encarar este carro como um dois-lugares com espaço para um carona
de lado ou uma dupla de amigos sem pernas.
Quanto ao painel de instrumentos, este é um dos poucos carros com
dois velocímetros. No meio está o conta-giros, que tem um velocímetro
digital integrado. À esquerda fica o velocímetro comum, mas eu mal olhei
para ele. A Toyota poderia tirá-lo de lá sem problemas – o conta-giros e
o velocímetro digital são tudo o que você precisa. A alavanca do câmbio
está bem posicionada e tem um execelente curso encurtado, e o freio de
estacionamento está logo ao lado, com uma alavanca surpreendentemente
grande. Acho que a Toyota espera que eles se tornem máquinas de drift.
Testei o carro em quatro situações diferentes: rodovia, pista,
skidpad molhado para drifts e um circuito de autocross. Vamos ver um por
vez.
O que você percebe nas ruas é que você pode usá-lo perfeitamente no
dia-a-dia. Com todos os sistemas de tração e estabilidade ativos, ele é
bem-comportado e rápido. Chegou a 190 em uma rodovia deserta com muito
giro para queimar ainda. Não é o carro mais rápido do mundo na
arrancada, mas a aceleração é boa e o perfil rebaixado do carro somado à
sua agilidade conseguem divertir no tráfego.
Na pista é onde o carro brilha. Com os controles desligados o chassi
ganha vida. É perfeitamente neutro, o manejo é preciso, mas você pode
aliviar o pé e virar o volante para soltar a traseira e tornar tudo mais
divertido. O motor boxer e o baixo centro de gravidade fazem a
diferença aqui. Ele é leve, mas parece estar grudado à pista por imãs.
Pouquíssima rolagem da carroceria, que é surpreendentemente recuperável
quando você exagera no sobre-esterço.
A direção em si é precisa e muito direta, o que vai contra minhas
queixas à direção eletroassistida, que eu geralmente acho sedada demais.
O volante é o menor da Toyota (eles se empolgaram com isso) e tem uma
pegada decente, mesmo que não tenha uma conexão tão visceral quanto a de
um conjunto totalmente mecânico. Mas no mundo real isso não é ruim.
O trambulador de seis velocidades é rápido e preciso, e a posição dos
pedais é ótima – tem até o falso pedal para apoiar o pé. Testei tanto o
manual quanto o automático, e fiquei surpreso com a eficiência da caixa
automática funcionando sozinha, sem que eu interferisse pelas aletas.
Ele reduz exatamente quando se precisa, e se mostrou muito mais
eficiente do que eu poderia imaginar. Acho que esse carro anda melhor
com o câmbio manual, mas o automático não estraga a brincadeira.
Eu nunca havia driftado um carro antes, portanto isso foi desafiador.
A Scion nos deixou sob o comando de Ken Gushi, que faz essas coisas de
um modo muito natural. Quando chegou a minha vez de derrapar, eu rodei
violentamente. Quase no final da minha volta, eu achei que estava
começando a pegar o jeito, mas o importante mesmo é que eu estava
gargalhando. Mais ou menos do jeito que as pessoas imaginam quando
digitam “LOL” na internet. Foi a coisa mais divertida que eu fiz com um
carro nos últimos tempos.
Na pista de autocross, a agilidade do carro se tornou óbvia, mas
também havia o perigo de arrumar encrenca se o provocasse. Em certa
altura, minha relação de agressividade/talento saiu de controle e eu
perdi a dianteira, batendo em uma fileira de cones. Consegui recuperar
rapidamente, mas foi um bom aviso do chassi, que tem a capacidade de
recompensar os talentosos na mesma intensidade que pode punir os
idiotas. Em um esportivo isso não é ruim, mas é algo a se lembrar,
especialmente quando se considera que o carro é voltado a um público que
tem mais vontade que competência. Como eu.
Recentemente testei o Fiat 500 Abarth nessa mesma pista, e embora eu
tenha me divertido muito com ele, não há comparação entre um carro
econômico e veloz de tração dianteira, e um carro que foi projetado
desde o início para ser ágil e veloz. Parece os antigos esportivos que
eu já dirigi, mas com a modernidade necessária para inspirar alguma
confiança. Ah, e ele não tem aquelas capas de plástico estúpidas sobre o
motor.
O negócio é que a Scion (e a Subaru, e a Toyota) está atrás dos
entusiastas. Qualquer cara que curta carros verá que este é um esportivo
puro, que promete muita diversão e prazer ao volante. Esta parte é
fácil. Mas como eles vão fazer para que a maioria dos consumidores – dos
quais muitos jamais dirigiram um carro de tração traseira – entenda por
que esse carro é incrível?
O Toyobaru tem potencial para trazer de volta o conceito de
“divertido de dirigir” a toda uma nova geração. É possível comprar
vários outros sedãs pelo mesmo preço, mas por que fazer isso? Por que
não comprar um carro capaz de transformar um passeio de carro em um
domingo no parque?
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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