14 de mar. de 2012

Teste: Audi RS3 é um abuso de poder

Fotos: Luiz Humberto Monteiro Pereira/CZN
Teste: Audi RS3 é um abuso de poder
Anunciado como o mais rápido do mundo no segmento, o hatch RS3 tem 340 cv e custa R$ 299 mil

por Luiz Humberto Monteiro Pereira
Auto Press


Em outubro do ano passado, a Audi anunciou o lançamento no Brasil do hatch RS3, uma versão esportiva do A3 Sportback – mas as primeiras unidades só chegaram agora em março às concessionárias. Os R$ 299 mil sugeridos como preço do modelo já denunciam que não se trata apenas de mais um hatch médio. Embora seus 4,30 metros de comprimento, 1,79 m de largura e 1,40 m de altura o deixem com um porte similar ao de modelos como Hyundai i30, Volkswagen Golf, Fiat Bravo, Citroën C4 ou Peugeot 308, o distanciamento desses hatches se insinua pelas rodas de liga leve de perfil baixíssimo – inusitados 235/35 R19 na dianteira e 225/35 R19 na traseira.
As mesmas rodas que também revelam hipertrofiados discos de freios com 370 mm na dianteira e 310 mm na traseira. As “más intenções” do modelo da Audi ficam ainda mais explícitas quando se descobre o que está oculto sob o capô. O moderno propulsor 2.5 litros TFSI turbo de cinco cilindros em linha oferece imodestos 340 cv de potência e 45,9 kgfm de torque. Números que fazem do RS3 o mais rápido do mundo do segmento, segundo a Audi.
A “estrela da companhia” do RS3 segue a atual tendência da indústria automotiva mundial de produzir motores mais leves e mais potentes, com menor consumo e menores emissões. Com apenas 49 cm de comprimento, o compacto propulsor 2.5 litros que move o hatch esportivo da Audi pesa apenas 183 kg. Nele, a tecnologia de injeção direta de combustível FSI se combina com um turbocompressor gera até 1,2 bar de pressão, com intercooler. Todas essas soluções de engenharia automotiva proporcionam ao hatch  de 1.575 quilos a impressionante relação peso/potência de 4,63 kg/cv – próxima à de um esportivo como o Porsche Cayman R, de 330 cv, que fica em 4 kg/cv e custa R$ 399 mil. Segundo a Audi, o RS3 faz, em média, 11 km/l de gasolina e emite 212 gramas de CO2 por quilômetro rodado.

A moderna motorização ainda conta com diversas parcerias tecnológicas a bordo. Como a sofisticada transmissão S-Tronic de sete velocidades com dupla embreagem, que deixa as marchas pré-engatadas e permite que as mudanças sejam feitas de forma praticamente imperceptível – há ainda a opção de acionamento manual através de “shift paddles” no volante ou da própria alavanca do câmbio. Ou o sistema de tração integral permanente Quattro, já conhecido de outros Audi, que distribui a tração por cada eixo conforme a demanda. A suspensão traseira é four-link e está ancorada a um subchassi, o que segundo a Audi lhe dá habilidade para lidar com as forças longitudinais e laterais separadamente. Na dianteira, a suspensão McPherson também conta com subchassi separado. Molas helicoidais e amortecedores redesenhados providenciam o suporte vertical.

Tanta engenharia poderia passar até despercebida aos olhares mais desatentos, não fosse o trabalho cheio de sutilezas dos designers da Audi no RS3. Os faróis são de xênon com luzes diurnas em leds e compõe uma frente agressiva junto ao spoiler dianteiro, grade frontal e entradas de ar, todos redesenhados em relação ao A3 Sportback. No perfil, se destacam os para-lamas dianteiros em fibra de carbono com plástico reforçado, os retrovisores em alumínio fosco e o spoiler lateral. As rodas com detalhes em vermelho são opcionais e vão agradar os que gostam de um estilo mais extravagante. Na parte traseira, duas ponteiras de escape elípticas posicionadas à esquerda denotam esportividade de forma discreta e elegante. Alguns pequenos logotipos RS3 espalhados pelo modelo reforçam a exclusividade.

Por dentro, os logotipos RS3 também pontuam a decoração, quase toda em tons de negro, sem maior espalhafato. O volante multifuncional tem a base plana e acabamentos em alumínio. A alavanca de transmissão e o quadro de instrumentos também foram redesenhados em relação ao A3 Sportback. Os bancos dianteiros são em estilo concha, como nos carros de competição. Informações típicas dos carros esportivos de corrida – como pressão do turbo e temperatura do óleo – são disponibilizadas ao motorista. E um contador de voltas com cronômetro se encarrega de provocar ainda mais o fetiche de ser piloto de qualquer pacato motorista. Tudo bem coerente com a instigante proposta esportiva do Audi RS3. No Salão de Genebra 2012, que acaba de abrir as portas, a nova geração do A3 é o destaque da Audi. A renovação da versão Sportback e do RS3 está prevista para o  início de 2013.



Ponto a ponto

Desempenho – A performance do Audi RS3 é singular. O motor responde sempre prontamente às pisadas no acelerador e o ganho de velocidade é brutal. Segundo a Audi, bastam 4,6 segundos para sair da inércia e colocar o ponteiro do velocímetro em 100 km/h, com velocidade máxima limitada eletronicamente aos 250 km/h. O casamento do propulsor com injeção direta e turbo com o câmbio S-Tronic beira a perfeição. Com dupla embreagem, a transmissão automatizada de sete velocidades ainda otimiza bastante o rendimento do motor. Não se percebe delays nem buracos entre as mudanças de marcha, o que possibilita retomadas simplesmente incríveis. E as marchas podem ser acionadas também através das borboletas no volante, o que torna a “brincadeira” bem mais divertida. Nota 10.
Estabilidade – O RS3 é dinamicamente impressionante. Em curvas fechadas, a carroceria torce o mínimo. A suspensão bem acertada favorece o equilíbrio. Em freadas bruscas, o hatch não mergulha e nas arrancadas, apesar da virilidade do motor, a frente não empina. Em retas, mesmo em velocidades elevadas, não há flutuação e o carro parece estar sempre “na mão” do motorista. É necessário ter cautela para não deixar que a aparente confiabilidade do conjunto se reflita em excessiva autoconfiança por parte do motorista, principalmente nas mal cuidadas estradas brasileiras. Controles de estabilidade e de tração e freios com ABS e EBD ajudam a tornar a viagem mais segura. Nota 10.
Interatividade – O hatch alemão oferece uma boa posição para dirigir e uma ergonomia eficiente. A visibilidade dianteira é ampla, enquanto as laterais e traseira são um pouco prejudicadas pelas largas colunas. O quadro de instrumentos tem leitura otimizada, a direção é suave e precisa e o câmbio é excepcionalmente eficiente. A alavanca de regulagem de altura do banco é um tanto mal posicionada – é preciso espremer a mão entre o assento e a porta para fazer o ajuste. Ajustes elétricos para o banco não cairiam nada mal num carro de quase R$ 300 mil. Nota 8.
Consumo – O consumo de 11 km/l, anunciado pela Audi, ficou bem distante da marca de 6,5 km/l denunciada pelo computador de bordo. O fato do modelo ter sido exigido de forma bastante severa deve ter contribuído para a elevação do consumo. Nota 7.
Conforto – A suspensão rígida até privilegia mais uma condução esportiva e alguns solavancos em trechos mal pavimentados são inevitáveis, mas o RS3 não chega a ser daqueles esportivos absolutamente desconfortáveis, que transmitem aos ocupantes qualquer mínima irregularidade do terreno. Atrás, dois adultos e uma criança pequena conseguem viajar sem apertos. O isolamento acústico é correto e os bancos dianteiros em estilo concha ajudam a manter o corpo sempre na posição correta. Nota 7.
Tecnologia – Construído sobre uma plataforma lançada em 2003, a versão top do hatch médio da Audi oferece um moderno motor 2.5 litros em linha, com turbo, intercooler e injeção direta. O conjunto ainda conta com a avançada transmissão S-Tronic de sete marchas com dupla embreagem. Há fartura de itens de conforto e de segurança, mas falta um navegador de painel – algo que a Audi promete para breve. Nota 9.
Habitabilidade –  Os acessos aos bancos dianteiros do A3 são um pouco prejudicados pela suspensão rebaixada do modelo e pelas grandes abas laterais dos bancos dianteiros em formato de concha – que seguram bem o corpo, mas dificultam o acesso. O espaço para pernas para os ocupantes da frente é um pouco restrito, em virtude do avantajado console central. Nos bancos de trás, os acessos e os espaços são corretos. Não há muitos porta-objetos a bordo. O porta-malas de 370 litros é normal para segmento e a iluminação interna é eficaz, com luzes de leitura bem posicionadas. Nota 7.
Acabamento – O revestimento em couro napa negro e os detalhes em aço escovado e cromados reforçam a esportividade dentro do RS3. A qualidade dos materiais é alta e os encaixes são precisos, sem sinais de rebarbas. Nota 9.
Design – O RS3 empresta um interessante aspecto de esportividade ao estilo do A3 Sportback. O perfil do carro, que parece algo entre hatch e uma station wagon, é simpático. E o reforço de spoilers e outros adereços esportivos tornou atraente o estilo. As estranhas rodas com detalhes em vermelho felizmente são opcionais. Nota 8.
Custo/benefício – O Audi RS3 custa R$ 299 mil, valor que o coloca fora de qualquer possível avaliação racional sobre sua relação custo/benefício. Embora seu desempenho e estabilidade sejam notáveis, não há como não achar um despropósito o valor sugerido, quando se pondera os modelos que se pode adquirir por preços similares. O concorrente que mais se aproxima do RS3 é o BMW Série 1 M Coupé, com idênticos 340 cv, que sai por R$ 268.800. Nota 4.
Total – O Audi RS3 somou 79 pontos em 100 possíveis.



Primeiras impressões

Um dia de fúria

por Luiz Humberto Monteiro Pereira
Auto Press


Bertioga/SP - Dirigir o Audi RS3 não é, sob qualquer aspecto, uma experiência comum – pelo menos para motoristas normais, sem acesso cotidiano aos bólidos de competição. Por mais que um cidadão tenha conhecimento prévio dos 340 cavalos indóceis que se abrigam sobre o capô, simplesmente não dá para conceber o que o hatch da Audi consegue realizar quando acelerado de forma vigorosa.

O fato do torque máximo de brutais 45,9 kgfm estar disponível já em 1.660 giros e se manter até os 5.300 giros se traduz da seguinte maneira: qualquer que seja a faixa de giros, basta pisar fundo no acelerador que o RS3 reage de forma furiosa, resoluta, quase assustadora. Fazer ultrapassagens fica tão fácil e simples que pode até tornar-se perigoso – é difícil não se deixar dominar por alguma soberba e onipotência quando se acelera um veículo que esbanja tanta força.



O “efeito colateral” é que, depois de algumas curvas feitas acima dos limites de velocidade convencionais, qualquer motorista se sente um verdadeiro “ás do volante”. Ainda mais quando toda essa potência e torque aparecem em um conjunto suspensivo tão bem equilibrado. O resultado é que o carro parece um “trem bala” que se desloca velozmente sobre trilhos, tamanha a precisão das manobras que se consegue realizar com ele. Seja nas retas ou nas curvas, nas subidas ou nas decidas e até na hora de parar bruscamente, o RS3 se comporta de forma tão sob controle que beira o inacreditável.

Uma experiência nada recomendável, mas bastante reveladora, é experimentar o método utilizado pelos pilotos para conseguir a melhor marca de zero a 100 km/h com o RS3. Com o carro parado – numa reta longa e sem carros ou quaisquer obstáculos por perto –, ativa-se o botão Sport e coloca-se o câmbio no modo esportivo, sempre com o pé esquerdo no freio. Depois, basta apertar o pedal do acelerador até o fundo e deixar o motor rosnar bem alto. Aí é só soltar o pé do freio de uma só vez para ver o torque se despejar para as rodas de forma instantânea, fulminante e avassaladora. O corpo do motorista é pressionado com força contra o banco e a sensação faz lembrar as montanhas russas dos parques de diversões. Segundo a Audi, o zero a 100 km/h do RS3 pode ser feito em apenas 4,6 segundos. Parece menos. Já a velocidade máxima é eletronicamente limitada aos 250 km/h. E o carro aparenta ter total disposição de ultrapassar tal limite.

Ficha Técnica

Audi RS3

Motor: Gasolina, dianteiro, transversal, 2.480 cm³, cinco cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbocompressor e comando duplo no cabeçote. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automatizado de sete velocidades à frente e uma a ré com sistema de embreagem dupla e sistema seqüencial manual com trocas na manopla do câmbio ou através de borboletas na coluna de direção. Tração integral nas quatro rodas. Controle eletrônico de tração.
Potência máxima:  340 cv a 5.400 rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 4,6 segundos.
Velocidade máxima: 250 km/h, limitada eletronicamente.
Torque máximo: 46 kgfm a 1.600 rpm.
Diâmetro e curso: 82,5 mm X 92,8 mm. Taxa de compressão: 10,0:1.
Suspensão: Independente, tipo McPherson, com braços triangulares inferiores, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora, na dianteira, e independente, tipo Fourlink, com braços duplos sobrepostos em alumínio, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora na traseira.
Pneus: 225/35 R19 na frente e 225/35 R19 atrás.
Freios: Discos ventilados na frente e atrás. ABS, EBD e assistente de frenagem de emergência.
Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e quatro lugares. Com 4,30 metros de comprimento, 1,79 metro de largura, 1,40 metro de altura e 3,12 metros de distância entre-eixos.
Peso: 1.575 kg.
Capacidade do porta-malas: 302 litros.
Tanque de combustível: 60 litros.
Produção: Ingolstadt, Alemanha.
Itens de Série: Ar-condicionado automático dual zone, direção elétrica, vidros, travas e retrovisores elétricos, bancos com ajustes elétricos, controlador de velocidade de cruzeiro, rádio CD/MP3/iPod/USB/Aux, bancos em couro, computador de bordo, capas dos retrovisores externos em alumínio, rodas de liga-leve de 19 polegadas, airbags frontais, laterais e de cabeça, alarme, assistente de partida em ladeiras, faróis bi-xenônio, sensor de estacionamento traseiro.
Preço: R$ 299 mil.



Fonte: motordream
 Disponível no(a): http://motordream.uol.com.br
Comente está postagem.

Nenhum comentário: