11 de mar. de 2012

Historia:Hellé-Nice: um fenômeno esquecido


Hellé-Nice: heroína no Brasil, amaldiçoada na Europa(Divulgação)

A F1, historicamente, é um feudo masculino. De 1950 para cá, apenas cinco mulheres participaram do campeonato e apenas uma, a italiana Lella Lombardi, marcou pontos no Mundial – na realidade, meio ponto em um curto GP da Espanha, no verão de 1975.

Na década de 1930, no entanto, uma mulher não apenas correu entre os homens, mas os derrotou em algumas ocasiões. Hellé-Nice, cognome de Mariette Hélène Delangle, disputou posições com nomes como Tazio Nuvolari e Achille Varzi e causou à época tanto furor quanto os últimos, senão dentro da pista, mas fora dela.
Nascida em um pequeno vilarejo fincado entre os rios Eure e Loire, no centro da França, em 1900, Hellé-Nice se mudou para Paris aos 16 anos, onde trabalhou como dançarina e adotou o nome que a tornou famosa na alta sociedade parisiense.
Em Bugatti Queen, biografia escrita por Miranda Seymour, a francesa é descrita como dona de um sorriso “jovial e sensual”, cujo brilho atraiu as atenções de homens importantes de seu tempo como Philippe de Rotschild, milionário, poeta, produtor teatral e piloto nas horas vagas.
No fim dos anos 1920, Hellé-Nice sofreu um acidente durante uma corrida de ski que acabou com sua carreira como dançarina. À procura de um novo trabalho, Hellé-Nice conheceu Ettore Bugatti, que se encantou com a moça e eventualmente lhe vendeu um T35 por cerca de 1.600 dólares.
De posse do novo carro, a ex-dançarina logo venceu uma série de corridas apenas para mulheres e, posteriormente, resolveu entrar no circuito de GPs, onde teria de enfrentar os homens.
“Tudo que eu peço é mostrar o que posso fazer, sem desvantagens, contra os homens”, disse a piloto à época.
Com o Bugatti e, posteriormente, um Alfa Romeo, Hellé-Nice disputou vários GPs na primeira metade dos anos 1930 e ganhou reputação como uma piloto (ou pilota, como você preferir) rápida, mas segura. Seu melhor momento dentro da pista foi no GP da Picardia, em maio de 1935, quando chegou em quarto lugar com um Alfa Romeo Monza.
Foi no Brasil, porém, no GP de São Paulo, em julho de 1936, que Hellé-Nice viveu o momento mais marcante da carreira. Após ser forçada a um pitstop nos últimos momentos da pista, a francesa se envolveu em uma disputa pelo terceiro lugar com o Barão de Teffé – um dos primeiros heróis do automobilismo no país.
Tirando três segundos por volta em relação ao Alfa de Teffé, Hellé-Nice o alcançou nos metros finais da prova. Os dois entraram lado a lado na reta principal do circuito montado no Jardim América, centro de São Paulo, mas De Teffé rodou na última curva e Hellé-Nice sofreu um violento acidente.
Ninguém parece ter certeza do que aconteceu. Alguns dizem que um fã de De Teffé jogou um fragmento de palha na pista no trajeto de Hellé-Nice, outros falam que um policial entrou na rua para acalmar a multidão. No fim, a piloto francesa perdeu o controle do Alfa Romeo Monza e capotou duas vezes a uma velocidade de 160 km/h, ferindo 34 espectadores e matando seis pessoas.
No impacto, Hellé-Nice foi ejetada do automóvel e caiu em cima de um soldado, que absorveu o impacto do corpo da piloto e morreu na hora. A francesa, com uma fratura no crânio, ficou dois meses no hospital e nunca mais voltou a correr.
O paradoxo a tornou tão popular no Brasil – onde seu nome, aportuguesado como “Elenice”, batizou várias meninas no fim da década de 30 – quanto impopular na Europa. Durante a ocupação nazista na França, ela se mudou para a Riviera (supostamente com dinheiro do governo brasileiro) e ficou por lá até o fim da guerra, sem sofrer ameaça dos alemães.
Em 1949, tentou retornar às pistas no Rali de Monte Carlo, mas foi acusada pelo monegasco Louis Chiron – um dos principais pilotos nos primeiros anos da F1 – de colaborar com a Gestapo, antiga polícia do regime nazista.
Chocada, Hellé-Nice se calou. E seu silêncio foi interpretado como uma confissão de culpa. Com isso, seus patrocinadores a abandonaram, e seu amante, após gastar sua fortuna, a deixou. A ex-dançarina tentou ressuscitar a carreira, mas o estigma a manchou para sempre. Sem dinheiro, adotou um nome falso e mudou-se para um quarto em Nice, onde morreu aos 83 anos, de motivo desconhecido.
As alegações contra Hellé-Nice nunca foram provadas e os alemães negaram que ela tivesse sido incluída na folha de pagamento da Gestapo. Seu estilo de vida selvagem contribuiu para o silêncio dos delatores e ex-pilotos.
“Não acredito que ela pensava em outra coisa além de fazer sexo e se exibir”, disse um concorrente de Nice, Simone des Forest, 60 anos após enfrentar a piloto.
Se vivesse no mundo de hoje, Hellé-Nice poderia ter sido uma espécie de Lady Gaga nas pistas, um fenômeno de marketing. Sua suposta contribuição ao regime nazista, no entanto, a afundou nos mares da história.
Fonte: tazio
Disponível no(a): http://tazio.uol.com.br
Comente está postagem.

Nenhum comentário: