25 de jan. de 2012

WRC-Uma nova esperança

Marcio Kohara
Sébastien Loeb em Monte Carlo(McKlein/LAT)
Na última semana, tivemos o Rallye Monte Carlo, a abertura da temporada 2012 do Campeonato Mundial. Claro que a ação dentro da pista foi importante, com mais uma grande vitória de Sebastien Loeb em um rali sensacional. Mas o que chamou mais a atenção foi a visita de Jean Todt a Valence - a primeira sede do evento - e suas declarações na entrevista coletiva concedida pelo Presidente da FIA na manhã da sexta-feira.

Foi a primeira aparição de Todt para comentar a crise vivida pelo WRC nos últimos anos e o seu trabalho para reverter este quadro. O Mundial passa por um momento ruim, que corroeu a grandeza e a força daquele que ainda se mantém como o segundo campeonato da FIA, muito longe do status que mereceria. Os últimos meses foram críticos, de forma que os mais pessimistas chegaram a duvidar da continuidade da competição. Todt e Michelle Mouton, a grande dama do rali mundial, que ocupa o cargo de gerente do WRC pela FIA desde o ano passado, trabalham para fazer que o WRC volte aos tempos gloriosos de outrora.
Debelando crises
Nos últimos meses, foram deflagradas duas crises seríssimas que têm a sua origem interligada. A falta de capacidade do atual detentor dos direitos comerciais do Mundial fez com que a situação chegasse a um nível alarmante - e Todt e Mouton tiveram que trabalhar como bombeiros.
Primeiro, a relutância tanto da Ford quanto da Mini para assinar a continuidade de seus programas dentro do Mundial, depois, a quebra do detentor dos direitos comerciais, o que fez com que os dois meses da inter-temporada fossem tomados por estes assuntos - que poderiam significar uma eventual inviabilização do campeonato, tamanha a seriedade deles. E, se por um lado não tinha muitos resultados concretos a serem mostrados, pelo menos, o francês não se escondeu ao comentar os assuntos perguntados pelos jornalistas.
A Ford decidiu ficar no campeonato sem maiores problemas, apenas a amarração entre a matriz de Detroit e a M-Sport que demorou mais do que o recomendado. Mas a Mini só segue no WRC graças aos esforços da FIA. A marca inglesa viu a sua controladora, a BMW, quase desistir do Mundial ao perceber a falta de cobertura televisiva em território alemão, além da complacência da entidade máxima do automobilismo com a falta de alguns detalhes que poderiam impedir a participação da marca inglesa no campeonato. E, graças à amarração política feita pela FIA com todos os competidores, a Mini recebeu o aval para seguir no campeonato, sem participar de todas as etapas.
Ainda não existiam resultados concretos com relação à negociação do promotor do Mundial. Mas os efeitos da gestão Todt já podem ser sentidos. Afinal o pessoal presente na coletiva não estaria ali em Valence e depois em Mônaco cobrindo a abertura do Mundial não fosse a atuação de Jean Todt para costurar um acordo com o Automobile Club de Monaco e Monte voltar a dar as caras no calendário do WRC.
Outro incêndio no qual Todt também tem trabalhado é o acerto do contrato do detentor dos direitos comerciais da categoria. Mas, apesar de não ter sido fechada, a negociação estaria avançada e deve ser fechada ainda antes da próxima etapa do Mundial, o Rali da Suécia (entre 9 e 12 de Fevereiro). De toda a forma, não há mudanças na situação relatada na semana passada. A escolhida deve ser a Eurosport Events de Marcello Lotti, que deve ser ungido a novo Bernie do WRC.
Desenhando o futuro
O mais interessante da entrevista de Jean Todt foi saber o que o Presidente da FIA pensa do futuro do Mundial de Rali. Um futuro ambicioso, de longo prazo, um projeto que nunca houve para a categoria. E que nesse futuro a categoria não sirva de moeda de troca de politicagens, como aconteceu na gestão anterior da FIA.
Todt negou que haja a intenção (ou faça parte da negociação com a Eurosport) uma eventual fusão entre o WRC e o International Rallye Challenge da Eurosport. Há a possibilidade da fusão entre o IRC e o ERC, o Campeonato Europeu de Rali, o que parece uma possibilidade mais óbvia já que agora o IRC está concentrado no continente europeu e o ERC não está tão bem das pernas. Mas a Eurosport ficaria responsável pela promoção do campeonato, o que incluiria geração e distribuição das imagens nas mais diversas mídias, inclusive internet. Seria uma boa ideia para popularizar a categoria.
Ainda sobre futuro, mas na seara mecânica, Todt definiu uma data sobre a entrada das tecnologias híbridas no WRC. O francês imagina que em 2015 a FIA estará pronta para abrir o Mundial de Rali para as tecnologias ecologicamente amigáveis. Pode se dizer que a entidade máxima do automobilismo mundial tenha demorado demais para permitir esta mudança, mas o fato é que a FIA não poderia implementar este tipo de mudanças em uma categoria em crise. Até lá, a expectativa é de que a situação esteja mais calma e os investimentos mais fáceis.
Parece claro que a atual situação - de, numa temporada de 13 ralis, 10 deles realizados dentro do território europeu - é inviável. Ainda mais nesse momento de dificuldades econômicas no velho continente. Claro que a solução ecclestoniana de cinco etapas europeias em vinte é inviável também, ainda mais para uma categoria tão eurocêntrica quanto o WRC é hoje. Mas, se no longo prazo acontecer um equilíbrio entre os ralis dentro e fora do continente europeu, seria positivo para a modalidade.
A volta da Mãe África ao mundial, uma etapa em território russo ou chinês - e, por que não sonhar, uma etapa brasileira - seriam alvos óbvios para os próximos anos. Ralis 'multinacionais', formato que será testado na próxima etapa na Suécia, que terá especiais em território norueguês também, podem indicar uma tendência futura. Ralis como o da Alemanha e da França estão bem próximos geograficamente – em torno de de 20 kms entre a especial de um e a do outro - e poderiam ser 'fundidos' no futuro, abrindo vaga para uma etapa extra-europeia, por exemplo.
Todt parece ser bem a favor de um tipo de rali que não foi bem recebido pelas equipes, o chamado rali-maratona. Este tipo de evento mudaria o formato atual 'concêntrico', que tem apenas uma sede fixa e deslocamentos de pilotos e carros, fazendo com que as equipes completas (mecânicos, engenheiros, direção) se deslocassem também. As equipes são contra, devido ao aumento dos custos, que aumentariam dramaticamente no novo formato. É algo que ainda ocupará as manchetes.
Outra ideia de Todt é pelo fim do SuperRally/Rally 2, que é a permissão para que um piloto que abandonou o rali possa voltar no reagrupamento de fim de período seguinte. Todt argumenta que não faz sentido um piloto abandonar e depois ser readmitido no rali - o que até faz sentido - e foi implementado com sucesso pela organização do Rallye Monte Carlo.
Porém, para os promotores e organizadores, é interessante a volta dos pilotos, até pela falta de equipes competitivas no campeonato. Mais gente competitiva significa mais pilotos capazes de brigar por vitória ou pódios. Todt parece ter razão, apesar da F1 também ter um sistema leniente com o erro dos pilotos e que permite a volta de alguém que deveria ter sido eliminado da corrida - as áreas de escape asfaltadas -, mas acredito que esta é uma discussão que ainda vai dar pano para manga.
Ainda são ideias embrionárias, que devem ser aprovadas por todos os envolvidos na competição - FIA, a divisão de ralis, o promotor e as equipes. Mas não dá para negar que é uma nova era se iniciando, com todos comprometidos com o futuro do WRC. Uma ótima notícia.
Fonte: tazio
Disponível no(a): http://tazio.uol.com.br
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