26 de dez. de 2011

Retrospectiva 2011/Automóveis - Na idade da razão

Fotos: Pedro Paulo Figueiredo, Jorge Rodrigues Jorge, Luiza Dantas e Eduardo Rocha/Carta Z Notícias
Retrospectiva 2011/Automóveis - Na idade da razão
Apesar de vendas crescerem pouco, a participação de carros mais sofisticados se amplia muito em 2011

por Rodrigo Machado
Auto Press


A alta foi a esperada: um volume apenas 3,3% maior de vendas em relação ao ano passado. Depois de tudo contabilizado, a previsão da Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – é que serão 3,63 milhões de carros. Mas esses números frios contam apenas parte da história. Mais importante que o volume, foi a mudança na forma de comprar carro no Brasil.
Os lançamentos, e consequentemente as vendas, mostraram que a Era dos Populares, em que hordas de modelos 1.0 invadem as ruas, começa a dar os primeiros sinais de arrefecimento. A tendência é que saiam das lojas carros mais equipados e de motorização mais potente. “Como a situação financeira melhorou, existe a chance e a preocupação de o consumidor buscar algo mais requintado” realça Daniel Gaspar, sócio da consultoria At Kearney, que analisa o mercado automobilístico.

Alguns números de vendas ilustram este amadurecimento do mercado nacional. Na separação entre automóveis de passeio e comerciais leves, 2011 representou um grande crescimento para o segundo grupo – formado em grande parte por utilitários esportivos e picapes. Os automóveis ganharam quase 2% nas vendas, enquanto os comerciais tiveram expressivos 15% de alta. Na divisão por motorização, a preferência por carros maiores e mais completos é ainda mais clara. Entre os modelos até 1.0, aconteceu uma queda de cerca de 13%. Na faixa que fica entre 1.0 e 2.0, a alta foi de quase 9%, enquanto que nos carros acima de 2.0, o crescimento foi na faixa dos 12%. Entre os associados da Anfavea – marcas que produzem carros no Brasil –, 2011 foi a primeira vez, desde 1995 – primórdios dos modelos populares –, que a participação dos carros “mil” ficou abaixo da metade. “A faixa de consumidores que compra carros entre R$ 45 mil e R$ 90 mil foi a que mais se mudou de comportamento. Eles partiram para uma análise mais ampla, que leva em conta equipamentos, itens de conforto, segurança, entre outros. Antes era uma escolha muito mais emocional”, analisa Marcos Munhoz, da vice-presidente da GM do Brasil.


JAC J3

Para sustentar esse aumento de demanda, o Brasil precisou continuar a ser palco de diversos lançamentos. No total, o número de novos veículos ou de carros reestilizados que passaram a ser vendidos aqui rondou os 50 modelos, isso sem contar novas versões de acabamento apresentadas. A Fiat, por exemplo, entrou no jogo dos utilitários esportivos com o Freemont, modelo que já é vendido com sucesso na Europa. Do outro lado, a requintada Audi abaixou o seu preço e aumentou o seu alcançe ao comercializar o hatch compacto A1, por menos de R$ 90 mil.

Nessa faixa de preços mais badalada, a bola da vez de 2011 foi o segmento de sedãs médios. A Renault entrou na briga com o Fluence, modelo feito na Argentina que aposta no bom espaço interno e no custo/benefício. A compatriota Peugeot teve uma proposta semelhante com o 408, que trouxe a marca de volta aos médios. A Volkswagen aumentou o Jetta, mas reduziu o seu preço para fazê-lo ganhar ainda mais competitividade. A Chevrolet tirou o atraso ao lançar o Cruze, modelo que é vendido em 70 países e desde 2008 já vendeu mais de um milhão de unidades no mundo. Além disso, o líder do segmento, Toyota Corolla, foi reestilizado e Hyundai iniciou a comercialização do Elantra. A Honda não quis ficar de fora da movimentação e  apresentou a nova geração do Civic, que só chega às lojas em janeiro. E isso foi o suficiente para derrubar as vendas do modelo antigo. Com tantas novidades, obviamente a participação do segmento aumentou bastante. Este ano é esperada a venda de 200 mil unidades de sedãs médios. No ano passado foram 176 mil. Há cinco anos, em 2006, foram 108 mil unidades.


Audi A1
   
Destaque também para os utilitários esportivos. Foram diversos lançamentos que deixaram o segmento bem agitado. Conhecida exatamente por sua qualidade entre os SUVs, a Land Rover foi uma das que mais se movimentou. Trouxe o Range Rover Evoque e seu desenho arrojado e ampliou a linha do Freelander 2 com uma versão a diesel. Além da Fiat, com o Freemont, a Renault também marcou a sua entrada no setor com o Duster. O modelo parrudo logo ganhou apelo com o público e já conseguiu desalojar o Ford EcoSport da liderança. Para a Volkswagen, foi tempo de renovar os seus jipes. Touareg ganhou geração nova, maior e mais equipada e Tiguan foi reestilizado para tentar manter o bom desempenho de mercado. A evolução dos SUVs no mercado em 2011 foi na ordem de 22,6% em relação a 2010 e de espantosos 209% em relação a 2006 – respectivamente 238 mil, 194 mil e 77 mil unidades.

Uma olhada na lista de lançamentos mais marcantes do ano explicita outro aspecto: a importância dos carros importados. De acordo com a Anfavea, a previsão é que 23% dos carros vendidos no Brasil em 2011 sejam fabricados fora do país. A título de comparação, em 2010, essa participação era de 18,8% e em 2009, 15,6%. O ano mostrou também que carro importado não é só aquele de luxo e muito caro. Fabricantes como JAC Motors, Chery e Kia comercializaram veículos em preços bem competitivos em relação aos nacionais. Destaque para o J3, da JAC, que deixou a disputa dos hatches compactos muito mais feroz e trouxe o preço de alguns concorrentes nacionais para baixo. Eles elevaram a disputa no “miolo” do mercado brasileiro. “Isso acaba beneficiando o consumidor diretamente, principalmente na área da tecnologia. A chegada desses carros obriga as marcas que já estão instaladas no Brasil a acompanhar essas evoluções, pois para o comprador, agora existe um termo de comparação”, aponta Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive. As marcas premium também resolveram criar versões mais baratas de seus modelos e, assim, atingir uma parcela maior da população. O ano de 2011 também marcou a consolidação desse segmento em que os preços rondam os R$ 100 mil.

Entretanto, no segundo semestre, o governo federal aumentou o Imposto para Produtos Industrializados para os carros importados de fora do Mercosul e do México – países que mantêm acordos alfandegários com o Brasil. A justificativa foi que é preciso proteger a indústria nacional. Obviamente, a briga começou logo em seguida, com as marcas importadoras se defendendo ao dizer que não há invasão e que os veículos que vêm de fora do país pouco significam em termos de volume no mercado nacional. “No final, quem perde é o cliente. Afinal, ele fica sem a régua comparativa que alguns carros importados estabeleceram. Com a nova tributação, é impossível manter os atuais preços”, critica Leandro Radomile, diretor de vendas e marketing da Audi do Brasil.


Citroën C3 Picasso

Se no comportamento do consumidor a resposta foi diferente, o mercado nacional seguiu o que já era esperado. Isso quer dizer que o tal “milagre do crescimento” acabou. Bem diferente do que vinha acontecendo. Em cinco dos últimos sete anos, o crescimento do mercado ficou na casa dos dois dígitos. Isso não significa, no entanto, que o ano foi ruim para a indústria. Ao contrário: as fabricantes aumentaram as vendas de modelos mais caros e mais lucrativos. Além disso, diante de outros mercados, Brasil teve um desempenho interessante. A crise financeira internacional deixou o mercado europeu estagnado – exceto pela Alemanha, que está crescendo cerca de 10% – e os desastres naturais fizeram a indústria do Japão perder produção e vendas. No Brasil, o setor automobilístico segue crescendo mais que o PIB, que deve fechar o 2011 com uma alta em trono de 3%. “Não dava para continuarmos com um crescimento anual de dois dígitos. Tava na cara que uma hora isso ia cair. Para 2011, 5% seria uma alta perfeita. Crescer 3,5% não está ótimo, mas é bom”, pondera Marcos Munhoz. “O Brasil é um dos três principais mercados para o Grupo Volkswagen e isso demonstra a importância crescente de nossas operações. Vamos investir R$ 8,7 bilhões até 2016”, prevê Thomas Schmall, presidente da Volkswagen do Brasil.

O principal motivo da desaceleração foi a restrição ao crédito imposto pelo governo no final de 2010, ao restringir o número de mensalidades nas vendas a prazo. Isso reduziu o ímpeto do consumidor, que não conseguiu encaixar mais tão facilmente a mensalidade no seu orçamento. “Foi o crédito facilitado que ajudou a impulsionar a indústria nos últimos anos. Sem ele, fica mais difícil comprar. Além disso, chegamos a um ponto onde o mercado começa a ficar mais saturado”, ressalva Célio Hiratuka, professor do Instituto de Economia da Unicamp. “Estamos passando um momento de ajustes com relação ao fato de o governo querer voltar a estimular a economia. São movimentos de aproximação”, lembra Dario Gaspar, da At Kearney.


Land Rover Freelander 2 SD4

Vendas no Brasil


2011 - 3,63 milhões*
2010 - 3,51 milhões
2009 - 3,14 milhões
2008 - 2,67 milhões
2007 - 2,46 milhões
2006 - 1,93 milhão
2005 - 1,71 milhão
2004 - 1,58 milhão
*Estimativa


Mini John Cooper Works

Participação por motorização entre os fabricantes nacionais

2011

Até 1.0: 45,4%
De 1.0 a 2.0: 53,1%
Acima de 2.0: 1,6%

2010
Até 1.0: 50,8%
De 1.0 a 2.0: 48,0%
Acima de 2.0: 1,2%

2009
Até 1.0: 52,7%
De 1.0 a 2.0: 46,1%
Acima de 2.0: 1,3%

2008

Até 1.0: 50,6%
De 1.0 a 2.0: 47,9%
Acima de 2.0: 1,4%


Fiat Freemont

2007
Até 1.0: 54,0%
De 1.0 a 2.0: 44,6%
Acima de 2.0: 1,4%

2006
Até 1.0: 56,2%
De 1.0 a 2.0: 42,4%
Acima de 2.0: 1,4%

2005
Até 1.0: 55,3%
De 1.0 a 2.0: 44,1%
Acima de 2.0: 0,6%

2004
Até 1.0: 57,3%
De 1.0 a 2.0: 42,3%
Acima de 2.0: 0,4%


Ford New Fiesta hatch

Lançamentos automotivos de 2011

Janeiro:
Jeep Grand Cherokee

Fevereiro:

Chevrolet Celta
Chevrolet Prisma

Março:
Volkswagen Jetta
Fiat Uno Sporting
Toyota Corolla
Volvo S60
JAC J3
JAC J3 Turin

Abril:
Kia Soul Flex
Kia Sportage
Audi A7

Maio:
Volkswagen Passat
Volkswagen Touareg
Mercedes-Benz Classe C CGI
Citroën C3 Picasso
Land Rover Range Rover Vogue TDV8
Renault Sandero
Audi A1
Chery QQ


Chevrolet Cruze

Junho:
Land Rover Freelander 2 SD4
Kia Cadenza

Julho:
Ford Ka
MG6
MG550
Mini One
Volkswagen Polo

Agosto:
Volkswagen SpaceCross
Fiat 500
Land Rover Range Rover Evoque
Fiat Freemont
JAC J6
Audi R8 GT

Setembro:
Nissan March
Kia Picanto
Chevrolet Cruze
Ford New Fiesta hatch


Volkswagen Tiguan

Outubro:
Nissan Versa
Peugeot RCZ
Audi A6
Volkswagen Tiguan
Ford New Fiesta Hatch
Renault Duster
Fiat Palio
Chevrolet Cobalt

Novembro:
Dodge Journey
Honda Civic
Toyota Hilux
Toyota SW4
Mitsubishi Lancer
Mitsubishi Lancer Ralliart


Renault Duster

Fonte: motordream
Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br

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