11 de set. de 2011

A história do motoboy que desafiou os Sertões



No já distante ano de 1996, certas coisas não pareciam tão impossíveis. Por exemplo, um motoboy disputar um dos maiores e mais difíceis ralis do mundo – e sobreviver para contar como foi. O que você vai ver a seguir é um relato entusiasmante, inspirador e absurdamente engraçado a respeito dos desafios e das vontades que alimentam o fascínio dos esportes a motor.

O depoimento de Marcos Martines Neto foi publicado originalmente três anos atrás, no fórum do Clube XT600. Tentamos entrar em contato com o herói, mas não obtivemos retorno – pelo menos por enquanto. Demos uma leve editada no texto, arrumando o que era necessário, e adicionamos as fotos que o próprio autor postou no fórum.
De qualquer forma, vale conferir o tópico de discussão completo (são mais de 20 páginas) e ler sobre as duas pequenas aventuras anteriores que iriam formentar no então motoboy o desejo de participar de uma das competições off-road mais difíceis de todos os tempos sem nem ao menos saber como navegar, e com uma moto duas vezes mais pesada que a da maioria dos concorrentes.
Reserve os próximos minutos, e boa leitura!
__________________________________________________________________________________________
Estava realmente decidido a fazer um levantamento sobre os custos de uma participação no Dakar, como aqueles pilotos privados da Europa que conseguiam participar pelo espírito de aventura mesmo. Eu já li sobre um cara que trabalhava em restaurante (lavando copos) e que, para os padrões de lá da Europa, seria como um trabalhador normal aqui. O que mais me animou foi que gente comum conseguia se inscrever também – só tinha me esquecido de que lá é 1° mundo e aqui não…
Por ser um apaixonado por aventura de moto e até certo ponto ingênuo, comecei a planejar minha aventura. Eu já era fã do Klever Kolberg e do André Azevedo e não sei como descobri o telefone do Klever. Um dia, achando que o cara teria tempo para me dar umas dicas, liguei para ele… kkkkkkkkkkkkk… não sei, não entendi até hoje, mas acho que ele achou que eu fosse um louco psicopata que estaria planejando um seqüestro… kkkkkk… Não consigo parar de rir aqui… Digamos que o tratamento que recebi como um simples fã não foi o que eu esperava. O cara não me deu a mínima atenção, fiquei muito indignado… (estou rindo, na verdade).
Mesmo assim ,já estava planejando sobre o que seria mais barato, levar a Teneré de navio ou avião – naquela época o Real era quase pau a pau ao Dólar, e eu modéstia à parte ganhava uma grana como motoboy por ter 2 empregos e trabalhar na pizzaria que melhor pagava seus motoqueiros. Éramos 13 entregadores e para sair de lá, só morrendo mesmo, pois todos os motoboys da cidade queriam trabalhar lá.

Deixa eu explicar uma coisa que muitos de vocês vão entender. Tem aquele negócio de você ter a sua moto, seu xodó. A sua moto é a mais bonita, é a mais inteira, é a melhor, é a que nunca quebra, é ela que nunca te deixou na mão, enfim, é a MELHOR MOTO DO MUNDO! Para uma aventura dessas, tem que ser com a sua moto, não adianta ser outra. Eu queria correr no Dakar com a MINHA Ténéré. Poderia fazer como outros que compram uma moto ou alugam mesmo só para o Rali alguma toda preparada , pronta, etc… Mas eu não. Não, tinha que ser com a Ténéré, tinha que ser com essa moto, a minha moto , a mesma do Pantanal e da Lagoa dos Patos. Se não fosse assim, perderia metade da graça…
Quando eu ligava para a Confederação e falava sobre o Dakar, os caras ficavam me especulando, tipo “Opa! De onde você é? Você trabalha em quê?” Kkkkkkkkkkkkk… Comecei a esconder o jogo sobre no que eu trabalhava só para pensarem que eu poderia ser alguém da grana e me darem atenção para o que queria saber. Não me lembro bem, mas teve um cara gente boa la que estava falando sobre o preço da inscrição, acho que na época era algo em torno de 10 ou 15mil dólares para motos, aí falei que era motoboy aqui… (rindo). Sabe aqueles vendedores que acham que vão fazer aquela venda mas depois descobrem que estava conversando com o faxineiro? Mas o cara foi gente finíssima mesmo assim. Ele chegou e me disse: seguinte cara, por que você primeiro não faz o Rally São Francisco aqui e depois você pensa em Dakar?
“Que rally é esse?”, perguntei.
Ele me explicou então que existia um Rally aqui no Brasil que estava em sua 3° edição e que agora se chamaria não mais Rally Alto São Francisco, e sim um tal de “Rally dos Sertões”, e que estava para sair a IV edição. Também me disse algo que me interessou muito: “ele tem as mesmas regras do Dakar, só que é no Brasil e é mais curto, algo em torno de 5000km”.
Pronto! Tava feita a merda!! Decidi que faria esse primeiro e depois faria o Dakar (estava escolhendo até, é mole?)
Então esse cara me passou o telefone de quem seria o meu GURU no Rally dos Sertões, o cara que me daria as dicas e tudo o que eu quisesse saber sobre a prova. Seu nome: Ernesto. O Ernesto morava em Paranaguá, a 90 km daqui, então combinamos de conversar sobre a chance de eu participar do Rally pois ele já havia participado e poderia me dar dicas preciosas a respeito. Realmente o Ernesto me contou tudo sobre como era a prova, e mais do que nunca decidi que iria correr.
Tinha um amigo meu, o Luis, que trabalhava comigo na pizzaria e também curtia o fora-de-estrada, então convidei ele para nos inscrevermos juntos no tal Rally dos Sertões. Engraçado era que eu nunca tinha ouvido falar dessa prova aqui… A largada seria em São Paulo, então liguei para o pessoal da Dunas Race (a organizadora da prova) e falei com o Dionizio Malheiros, que foi o criador dessa prova.
Encomendei a fita do Rally e assisti ela umas 30 vezes ou mais, analisava cada imagem, cada trecho, o solo, etc. Lembro do dia em que fui depositar o valor da inscrição, R$ 850,00 na época, e era uma graninha viu… minha casa estava lá, só no reboco, chapiscada, os tijolos aparecendo, sem forro, vc via as telhas… kkkkkkkkkkkkkk… e eu gastando grana em inscrição de Rally. Para me livrar das críticas da esposa na época, comprei um guarda roupa invocado nas Casas Bahia e pronto, a muié me deu um tempo, ficava ela lá passando lustra-móveis no guarda roupa e eu preparando a Ténéré.
Por ingenuidade de minha parte e do Luis, e por já passarmos algo em torno de 12 a 14 horas por dia em cima da moto, imaginamos que não seria muito difícil esse Rally, achávamos que a parte de resistência seria mole. Então, depois de inscritos, veio a parte da burocracia: documentos, planos de saúde, carteirinha de piloto… epa! Piloto? Como assim piloto? Isso mesmo, deveríamos nos filiar na Federação aqui para ter carteirinha de endurista. Até me lembrei do primeiro “enduro“ que fiz.
Vou contar essa : “ENDURO DA MEIA NOITE“
Não sabíamos ler planilha e nos inscrevemos nesse enduro que era conhecido por aqui. Não tínhamos equipamento, mas era só colocar em uma prancheta a planilha e vambora! Fui eu, o Luis e um retardado chamado Batata. Só que bancamos os espertinhos. Explico: pegamos a planilha um dia antes e fomos durante o dia escondidos na trilha para ver ser descobríamos o caminho correto para não se perder (tô passando mal aqui enquanto escrevo, pois tenho que puxar pela memória essas trapalhadas).

Na noite da largada, trabalhamos na pizzaria até as 23:30h. Apenas retiramos a caixa de entregas de pizza das motos e fomos direto para a largada da prova! Eu tirei a carenagem da Ténéré, coloquei borracha nas laterais do tanque com durex para que não riscasse o tanque em caso de queda não riscasse o tanque. Me lembro de quando chegamos lá… cheio de enduristas com suas motos preparadas para trilha, e eu com aquele tanque de guerra.. Não estava nem ai , mas ouvi um cara la falar algo me encheu de razão ….” Olha o Peterhansel do Dakar aí gente…”, em tom de brincadeira, mas pior é que eu gostei!
Então largamos e já sabíamos de cor o caminho – pelo menos até uma parte. Chegamos em uma entrada de trilha, todos os enduristas pararam e estavam em dúvida, mas nós sabíamos por onde ir e entramos primeiro. Veio aquele bando atrás da gente… kkkkkkk. Veio uma subidona de pura lama e o Batata subiu na frente. De repente, vi umas quatro motos rolando ladeira abaixo com pilotos rolando junto, e o Batata descendo na contramão!
Desculpa pessoal mas tenho que registrar a risada, nesse exato momento vou parar de escrever porque tô chorando de tanto rir…
A cena foi muito engraçada. O animal estava fazendo o enduro de trás pra frente! Muita lama, muita mesmo. Continuamos seguindo, estávamos perdidinhos na verdade, e ficamos na proa até as 4:30h da manhã pois eu havia entrado em uma poça de lama que só lamento não ter fotografado (imagine uma Ténéré aparecendo somente o farol e a carenagem em uma poça de lama), então parei em uma trilha e tinha um piloto na dúvida se encarava a lama ou cortava caminho. O cara olhou p/ mim e disse: vai você na frente que sua moto é maior. Eu todo corajoso fui… e fiquei… o cara não me ajudou, sumiu, acho que foi rindo embora do bobão aqui.
Mas valeu a experiência. Agora eu era PILOTO (estou rindo de novo). Voltando ao Sertões, eu já estava inscrito e tinha que preparar a moto e conseguir o resto da grana para bancar a prova. Tinha uma certa certeza de que conseguiria uma parte com patrocínio e de que não seria tão difícil – meu maior erro. Começamos o que foi a pior escalada dessa aventura: bater de porta em porta nas empresas. Olha pessoal , o que teve de neguinho que prometeu ajudar mas na hora amarelou…
Foi realmente muito, mas muito desgastante mesmo para mim essa corrida paralela atrás de grana para completar o pacote. Tá certo que ninguém era obrigado, o problema era nosso, ninguém mandou se inscrever em algo que você não pode pagar, mas prometer e deixar na mão, NÃOOOOOOO.
A data estava chegando e não conseguimos um centavo sequer para completar os gastos, gasolina, peças de reposição, gasto com alimentação, deslocamento até Sampa… nem roupa tínhamos!

Os 3 minutos de fama

Então eu tive uma idéia : Vamos para a mídia !!!!! Mas como? Indo, oras…..
Banquei o João sem braço com um canal de TV aqui. Eu mesmo liguei para o canal e disse: “olha, vocês estão sabendo sobre a participação de dois entregadores de pizza aqui de Curitiba que vão participar do MAIOR RALLY DO BRASIL????”
O repórter respondeu: “não… como é isso? Quem são os caras? Onde eles trabalham? Interessante… Como posso achá-los??” Morderam a isca! Era a deixa e a chance para tentar pedir apoio. Veio um pessoal da Globo local fazer uma matéria com a gente e ficou muito legal. Eles filmaram nós entregando pizza de noite e fazendo trilha de dia e contando que iríamos participar do Rally dos Sertões. Fez sucesso, viu? E não contávamos que iria passar depois em nível nacional no Esporte Espetacular no domingo (não sei se é verdade o que ouvi lá em São Paulo, mas o pessoal disse que nossa matéria foi a primeira sobre o Rally dos Sertões a passar para todo Brasil)
No dia que passou a matéria na TV, tiveram que retirar o fone do gancho na pizzaria porque congestionou todos os pedidos. As pessoas ligavam pedindo pizza, mas exigiam que quem deveria entregar a pizza fossem os caras do  rali. E olha que na matéria não apareceu o nome do restaurante nem o telefone…
Mas, e daí? Mesmo com a matéria na TV, nada de patrocínio, só ficamos nas promessas de alguns. A coisa estava ficando feia, já estávamos pensando em ligar para a Dunas e cancelar as inscrições. O restaurante adiantou as nossas férias, uma loja cedeu um pneu, meti a mão na poupança e usei toda a grana que tinha lá. Mais uma esmolinha aqui e outra ali…

A preparação da Ténéré

O que e como fazer com a moto para ela aguentar a prova e você não ser pego de surpresa? Simples: basta usar a Lei de Murphy e tentar prever tudo o que pode ferrar, quebrar, desgastar, faltar, piorar, acabar e acontecer de errado. Simples. Eu sentava na frente da moto e imaginava todos os tipos de tombos e como seria a queda com a Ténéré e ia listando tudo o que poderia quebrar na queda. Tirei as pedaleiras da garupa, piscas, bagageiro e coloquei bateria e pneus novos
Detalhe: usei pneus Rallycross da Pirelli, principalmente porque testei esse pneu e ele aguentava rodar com a Ténéré mesmo furado por quilometros sem sair do aro. Levantei uns 5 cm o para-lama caso chovesse, e uma das coisas que mais tiveram valia: coloquei silicone em toda parte elétrica, fios, cabos e cachimbo de vela para não ser pego em algum rio e a moto falhar. Vi alguns pilotos com a moto afogada no meio dos riachos por falta desse detalhe, e principalmente por a Ténéré 90 não ter pedal de partida, não poderia me dar ao luxo de deixá-la apagar no meio da água.

Outro detalhe , no caso da Ténéré, é dar uma geral no motor de partida, pois imagine você no areião e não tendo como fazer pegar no tranco. Nesse rali eu não vi esse detalhe, nem no rali de 97, mas tive problemas depois no dia a dia, agora imagine você ficar fora da prova por um detalhe desses. Estava mais preocupado em colocar logo os adesivos nela do que na preparação, não via a hora de ver ela toda invocada – eu era apaixonado por aquela moto!

O treino

O Ernesto me falava como eram as especiais de velocidade, então eu usava a estrada de Guaraqueçaba para testar minhas habilidades – se é que eu tinha alguma. Era uma estrada de cascalho com costelas, curvas, pedras soltas e descidas, 80 km de puro off road. Dava para andar forte lá porque ninguém costumava freqüentar essa estrada.
O Ernesto explicou que quando se perdia, seguia o rastro dos pilotos da ponta. Acho que por isso eu não esquentei a cabeça em dominar a navegação nos treinos. Eu sabia que eu era um piloto de ponta, mas da PONTA DE TRÁS. Uma corda tem 2 pontas não tem? Deixe que os pilotos de ponta da ponta façam o caminho porque eu vou curtir o MEU PARIS DAKAR. Na verdade, só queria sobreviver e chegar até o final.
Então chegou o grande dia de ir para São Paulo com as motos. O Ernesto veio com um amigo de Paranaguá em uma van. Colocamos as três motos apertadas dentro e seguimos para a largada. Sorte que teve esse amigo do Ernesto, pois eu estava planejando ir rodando até a largada. O Ernesto foi com uma KDX200, o Luis com uma XL 350 e eu com a Ténéré. Fomos os primeiros a chegar no Vale do Anhangabaú, mas a largada promocional era só às 20h. Lembro quando subi na rampa e o cara do microfone disse “”Ô loko meu… o que é isso meu Deus!“.
Seguimos para Resende pela Dutra à noite. Ali seria realmente o começo do deslocamento até Petrópolis (RJ). Esse era um deslocamento de 247 km para os pilotos aferirem seus odômetros, uma estrada cheia de mata-burros, subidas e descidas. Estava curtindo muito porque até ali para mim era como a estrada de Guaraqueçaba. O momento engraçado foi o Luis… ele estava na frente e o helicóptero da organização acompanhando, então ele acelerou forte em uma ponte em curva e se empacotou. Tombo feio, quase caiu com moto e tudo dentro do rio, entortou o guidon da moto dele. Tive que parar para rir – sabe aquele negocio de você querer rir do seu amigo mas não poder? Então, tive que pensar num monte de coisas ruins e sem graça para não rir dele, pensei até na minha avó de bikini, mas não deu, acabei rolando no chão, kkkkkkkkkkkkkk….
Continuamos firme até Petrópolis, onde aconteceu um prólogo em circuito fechado para determinar a ordem de largada no dia seguinte. Era uma pista de lama, e não nego que entrei nela com medo de cair. Sentia uma certa ansiedade de algumas pessoas em querer ver como os motoboys se sairiam na lama. Fiz uma volta tranqüila e não caí (odeio lama), mas tinha medo pelo joelho que nunca ficou bom desde a queda no Pantanal. Se não me engano, tinha 55 motos nessa edição, falavam em 70, e devo ter ficado em trigésimo e alguma coisa nesse prólogo.
O engraçado foi que um piloto (e bota piloto nisso!) ficou indignado com alguns repórteres sobre por quê eles não vieram entrevistá-lo e sim a nós… Eu e o Luis, por termos aparecido no Esporte Espetacular antes do rally, ficamos meio que como alvo da imprensa que acompanhava a prova. Todo final de etapa eles procuravam saber se os motoboys ainda estavam vivos.
A etapa entre Petrópolis a Diamantina tinha 700 km e uma especial cronometrada de 70 km. Está difícil lembrar das etapas pessoal… só sei que o Ernesto se empacotou e o Luis então nem se fala. Eu não tinha caído ainda, mas na Serra do Cipó aconteceu algo tipo “aborto da natureza”. Só sei que alguns pilotos de verdade e perderam enquanto eu seguia uma trilha no meio daquelas pedras. Acabei me dando bem em relação a alguns pilotos da “ponta”: fiquei em 17 ° na geral, e no dia seguinte larguei na frente inclusive do Juca Bala e do Jean Azevedo (não andei melhor que eles não, apenas eles se perderam na navegação e eu, além de nem olhar para o odômetro, escolhi o caminho certo). Quando acabou essa especial, até o Ernesto veio me elogiar dizendo que estava impressionado comigo… sorte (ou CAGADA mesmo).
Na etapa Diamantina /Taiobeiras, entrei para o clube dos fazendeiros. Levei uns tombos meio que um seguido do outro (é muito ruim cair , baixa o moral mesmo). Na largada, quando me chamaram, teve um pessoal que falou “olha o cara da Ténéré … tá largando na frente do Juca Bala!”, mas foi só por 5 minutos porque depois eu vi os caras detonando atrás de mim e passando como se eu fosse um inseto. Os caras aceleram mesmo.

Nessa etapa, atravessamos o rio Jequitinhonha e algumas motos ficaram por la. Água no motor, pane elétrica, o piloto Mauricio Fernandes perdeu a moto para a correnteza e achou ela somente vários metros adiante graças aos moradores. Eu, Luis e Ernesto passamos pelo rio. Nesse rally, as especiais eram curtas, mas o que matava eram os deslocamentos. Não ligava para horários, fazia a especial e pronto. Chegava depois do meu horário ideal mas não sabia que estava sendo penalizado. Andei na frente de alguns pilotos nas especiais, mas no final do dia ficava atrás deles na classificação. Apenas estava contente em estar ali, vivo e participando .
Em cada vila de moradores no Sertão eu dava autógrafos. Nunca pensei que daria autógrafos… Alguns sertanejos me perguntavam: “tá em que lugar?” Eu respondia na brincadeira: “tô em primeiro, deixa eu ir senão os pilotos vão me alcançar…”. Mas é muito legal você estar lá, o povo te vê como um super herói.
Teve uma passagem que nunca esqueço. Atravessando uma balsa, havia uma única bomba de gasolina no vilarejo. Alguns pilotos paravam ali e tinha aquela multidão de gente e mulheres (gatas, ruivas , morenas, feias, lindas…) pedindo autógrafos, crianças dando tchau, o pessoal aplaudindo a passagem das motos… Parei para abastecer e quase não dava para descer da moto de tanta gente em volta querendo ver o piloto de perto e sua moto. Tinha três policiais ali do lado da bomba justamente para evitar tumulto quando algum piloto abastecia.

Então vi uma mãe com uma criança de cadeira de roda segurando uma bandeirinha do Brasil. Eles estavam distantes do agito porque a criança estava na cadeira e não tinha uma visão boa dos pilotos que passavam, então desci da moto e fui lá perto do menininho, peguei o boné dele e escrevi “Uma lembrança do Rally para meu amiguinho. Ass: Motoboy”.
A mãe dele não acreditava de tão contente que ficou, e a criança então nem se fala. O coitadinho ficou paralisado, não acreditava que um competidor parou, desceu da moto e veio falar com ele. Muito legal foi aquilo, as crianças de lá viam você como um tipo de Robocop, ou Homem de Ferro, com todas as roupas, coletes, botas…
Bem, onde estávamos? Ah sim, devo estar em meu 6° tombo já. Tanque amassado e eu adorando… Para quem tem Ténéré, a porca da mesa do guidon… sabem qual é, né? Então, foi-se. A moto estava começando a desmontar.
Teve uma etapa Taiobeiras / Lençóis que acabou com a graça para mim. Além de levar mais um tombo, ainda nos perdemos e andamos acho que uns 150 km a mais graças a navegação do SENHOR TUCA PORRETA, né Tuca? Se lembra??? Terminamos a especial e formamos um grupo para deslocamento até o final da etapa, eu,Ernesto, Luis, Tuca Porreta e tinha mais um piloto. Então pegamos um trecho de asfalto e passamos do ponto. Rodamos além do que devíamos… só rindo mesmo.
Cheguei em Lençóis (BA) às 23:30h. O Luis não conseguiu me acompanhar, ficou em uma cidade antes e resolveu dormir por lá. O dia seguinte seria de descanso e no outro dia de manhã ele apareceu.
Nesse mesmo dia um piloto chegou a dormir na moto e acertou uma placa de sinalização. Acreditem, você pode dormir mesmo em cima da moto. Eu apaguei uma vez em um deslocamento de asfalto. Depois da metade da prova começa a bater o cansaço. A cada etapa ouvia falar em mais clavículas quebradas.

No tal do dia de descanso, fiquei dando uma geral na Ténéré, reapertando parafusos, raios, limpando filtro, regulando transmissão, etc etc. O que estressava era que eu, Ernesto e Luis, por não termos apoio, levamos ferramentas no caminhão da organização, e para achar o caminhão e pegar as ferramentas era bem demorado. No dia seguinte seria a etapa que iria separar pilotos com sorte dos pilotos com azar, os homens dos meninos.

A etapa Lençóis / Barra

Essa etapa tinha a maior especial de velocidade (170 km de extensão) no meio de trilhas de areia, muitas trilhas que faziam zig-zag e se misturavam e se encontravam cercadas de espinhos. Trechos de pedra, areia, areia, areia que não acabava mais, numa etapa em que o tempo máximo seria de 4h30 para percorrer e não ser penalizado. Estava previsto o reabastecimento no meio da especial devido a autonomia das motos (os apoios dos pilotos saíam de madrugada para esperar seus pilotos no meio da especial com gasolina para o reabastecimento). Como eu tinha o enorme tanque da Ténéré, nem esquentei a cabeça com reabastecimento.
Foi nessa etapa que o Juca Bala ganhou o Rally, pois ele fez em 2h26 se não me engano. Foi muito contestado esse tempo entre os pilotos, pois o comentário era de que ele cortou caminho. Bem, isso foi briga de profissionais… vou contar como foi a minha especial.
Fiz ela em 4h32 se eu não me engano, quase outro milagre pois se eu conseguisse terminar ao menos dentro das 4h30, ficaria classificado muito bem pois 90% dos pilotos se perderam e não terminaram no tempo. Esses dois minutos eu perdi porque parei a moto quase na chegada para dar gasolina para um piloto que teve pane seca – muitos tiveram!

Larguei na especial confiante, pois queria mesmo uma assim, bem longa e desgastante, para me testar. Nesse dia estava andando como eu defino EMBUTIDO NA MOTO. Explico. Quando você larga, depois de alguns minutos, com o sangue já quente e a adrenalina dosada e constante, você e a moto formam um corpo só. Você fica embutido na moto e tem o controle quase que total desde a aceleração até o equilíbrio, uma pilotagem perfeita no seu ritmo. Quando você não se sente embutido na moto, parece que qualquer buraco, pedra ou areião ficam mais difíceis, é como se dois corpos separados mas dependentes absorvessem os impactos… é horrível.
Outro detalhe que não comentei. Quando largava a última moto , 10 minutos depois começavam a largar os carros! Os pilotos retardatários sempre levavam susto depois de algum tempo porque os carros mais rápidos começavam a ultrapassar as motos. O Luis sabe bem o que é isso. Segundo ele, nessa etapa teve que se jogar da moto para não ser atropelado.
Larguei nessa especial e fui tocando um ritmo bom e sem cair. Navegação? Zero. Seguia os rastros, estava mais preocupado em andar rápido do que ver para onde estava indo. 30km, 50km… calor, muito calor, 80 km… então comecei a desidratar. Levei um tombo de propósito para não acertar de frente em uma rocha numa curva traiçoeira.
Acidentes, atropelamentos de animais( um piloto destruiu a moto)… O Luis quebrou antes da metade, e o Ernesto eu não vi mais. Passava por tanta pedra e buraco que pensava “não é possível que não quebre um monte de gente nesse lugar”. Pelo caminho fui só contando as motos quebradas e sem gasolina, e eu passando. Ainda tinha energia de ficar de pé nas pedaleiras no areião, mas estava desidratado e morrendo de sede. Juro que beberia minha urina ali. Nunca havia sentido SEDE de verdade……
Vi um piloto americano (não vou arriscar escrever o nome dele) parado ao lado da moto , com cara de acabado mesmo, vermelho igual a um pimentão. Não sei o que aconteceu, mas eu passei reto.

Sorte e azar

Essa etapa foi a mais difícil. A maioria dos pilotos se perderam e foram parar próxima de Xique-Xique ao invés do destino certo, que era Barra. Os pilotos não observaram na navegação um desvio importante, e os que vinham atrás seguiam os rastros e se perdiam também!
A minha sorte é que eu não aguentava mais de sede e já não andava mais com aquela pose na moto em pé nas pedaleiras. Estava em frangalhos, vi um casebre de barro e parei para pedir água. O pessoal da casa veio com uma água amarela e falaram que eu poderia beber porque era dessa cor por ser de raiz de uma planta. Sem problemas: se fosse água de privada eu beberia… e acreditem: foi a água mais gostosa que eu bebi na minha vida!!! Matei a sede e o restinho eu queria jogar na cara e molhar a cabeça, mas por respeito a eles – que estavam tirando água deles para me dar – eu bebi tudo.
Então um senhor me disse “olha moço, Barra fica pra lá , naquela direção! Os pilotos estão entrando ali e ali vai para Xique –Xique… eles estão indo para o lado errado!”. Eu parei bem no desvio e não sabia de nada, teria errado o caminho também se não fosse por esse senhor. Então segui a dica dele e e segui para Barra, voltando a acelerar. Ainda ultrapassei uns dois pilotos que já haviam se perdido e estavam retornando para o caminho certo. Chegamos em um estradão com o pó mais fino que eu já vi, dei bobeira e deixei um deles me passar. Fiquei cego na poeira… resultado: tombaço!!!
Eu sabia que estava a uns 10 km da chegada, então vi uma cena tétrica (kkkkkkkkk): um piloto no meio da estrada com os braços abertos e gritando para eu parar pelo amor de Deus! Quando parei a moto, ele me pediu um pouquinho de gasolina… a moto dele estava amarrada em um jegue e pronta para ser rebocada até Barra!!! A Ténéré estava quase seca já, mas eu acabei doando gasolina para ele. Foram esses 2 a 3 minutinhos, mais o tombo, que me fizeram não terminar no tempo essa especial. Uma pena. Mas o que me impressionou foi o desespero desse piloto. Não precisava ficar assim: tinha muitos pilotos lá atrás. Muitos chegaram só de madrugada, resgatados pelos carros-vassouras que percorrem a trilha resgatando o resto das motos e pilotos que vão quebrando e ficando pelo caminho.
Perdi a porca do pinhão da Ténéré e para não perder o pinhão , eu ficava com a bota no eixo para ele não escapar.  Andei quilômetros assim até chegar numa vila que tinha um soldador. E assim sobrevivi à pior etapa dos Sertões. Estava muito orgulhoso de mim mesmo!
Cheguei na beira do Rio São Francisco e lembro que me joguei da moto, deixando o corpo cair ao lado dela. Lá fiquei deitado por uns 10 minutos pensando no desafio que venci…..

E vai rolar a festa

Para os solteiros é o paraíso. Para os casados, uma provação. Muitas mulheres querendo se aventurar com os pilotos… Não sei por que, mas elas ficavam alucinadas com os pilotos no final de cada etapa. Sempre tinha uma festa regada a musica regional comemorando a passagem do Rally.
Tinha uns caras lá que estavam com uma Saveiro “preparada”. Soube que se desentenderam durante a prova porque parece que um deles se engraçou com uma sertaneja e não queria mais continuar, queria ficar mais dias na cidadezinha enquanto os outros queriam continuar a prova.

Na etapa seguinte, entre Barra e São Raimundo Nonato, no Piauí, dei o nó na parte da especial. Estava meio traumatizado com a etapa de Barra (é, não nego que fiquei meio acovardado mesmo). Com a Ténéré eu fazia duas vezes mais força do que qualquer piloto que estava ali com motor bem mais leves. Eu e o Ernesto andávamos juntos nos deslocamentos e nas especiais, cada um no seu horário de largada. O Luis já estava com a moto dele no caminhão da organização e vinha de carona com o pessoal. Então, quando chegamos na largada da especial, resolvemos seguir para o final da etapa e por outro caminho (que era pior que a especial, acreditem). Areia, areia, areia… meu Deus, tinha até carros de apoio atolados naquele mar de areia!
Chegamos em um posto de gasolina no meio do nada e parei para abastecer. Veio uma moça me pedir um autógrafo e com um ar de despeito me disse: “É… agora vocês vão para a cidade das mulheres, né?”. Eu não entendi e perguntei: por que cidade das mulheres? Ela apenas me respondeu: “você vai saber quando chegar lá”, com um sorriso sem graça. Era São Raimundo Nonato , uma cidade que estava preparando uma recepção para a caravana do Rally que parou tudo!
Faltavam 70 km para chegar no final da etapa. Enrolei o cabo para chegar logo e procurar as ferramentas para fazer a manutenção na Ténéré. A essa altura , ela estava precisando de troca de peça na suspensão traseira. A mola do amortecedor estava cansada, eu vinha sentindo os impactos quando passava forte em buraco ou erosão. Não me importei e continuei como se estivesse em uma especial de velocidade. A estrada era bem ruim e tinha algumas erosões. Faltando algo como uns 20 km para chegar, saltei uma erosão e a moto deu um estouro e…  morreu. Pronto, já era. Senti uma pancada forte da suspensão e fiquei pelo caminho, esperando o carro vassoura para me resgatar.
Cheguei na cidade e nunca vi coisa igual.Vi um cordão humano na entrada do asfalto até a entrada da cidade formada por pessoas aplaudindo cada piloto que saía da trilha. Coisa emocionante mesmo!
Quando desci a moto, tive problemas com as fãs do Rally… Não só eu, como todo piloto que chegava. Nunca vi tanta mulher em uma cidade como aquela, e não estou exagerando não: os pilotos tinham que se esconder! Rasgaram a jaqueta de um lá. Cheguei a perguntar para o pessoal: por que só havia mulher na cidade??
Eu sabia que o problema da moto era no CDI (Sistema de Ignição por Descarga Capacitativa), porque na Ténéré ele fica embaixo do banco e havia trincado. Então achei que estava fora do Rally. Onde eu iria encontrar um CDI ali e largar no dia seguinte?
Estava tão desesperado que falei para o Luis tirar a moto dele do caminhão para tentar consertar, pois na minha cabeça eu poderia ir com a moto dele até o final. Seria desclassificado mesmo, mas que se dane, eu só queria ir até o final.
Estávamos na frente de uma pousada onde dormiríamos. Desmontei a moto toda, mas sabia que era o CDI. Nesse tempo, os pilotos descansam, os mecânicos trabalham e as pessoas da cidade ficam observando os carros e as motos e o pessoal trabalhando. Estava lá, com o CDI na mão, e um monte de curiosos só observando. Povo simples, querem até ajudar. Veio um cidadão e me perguntou: “o que aconteceu aí amigo?”
Estava nervoso e nem olhei para ele, continuei abaixado, olhando o CDI. Ele insistiu. “É o CDI que quebrou?” Eu tava ficando nervoso e pensava: DE QUE ADIANTA RESPONDER SE NÃO VAI ADIANTAR NADA? E como ele sabe que é um CDI isso aqui?
Então ele falou: “Ei….você não é aquele motoboy do Sul que saiu no Esporte Espetacular?”. Respondi que era eu mesmo. O cara começou a rir e chamou um monte de gente para me ver. “Olha o cara da pizza aí!!! Olha o cara da pizza aí!!!”. Então ele me disse: “É o seguinte meu irmão, vamos consertar esse CDI aí, eu tenho uma oficininha, vamos levar lá que eu soldo isso pra você
Ainda não acreditava nele. Nunca tinha visto alguém consertar um CDI… mas tudo bem, tiramos o CDI, já tinha um carro me esperando para me levar na oficina. No carro, uma moça que dirigia perguntou se eu não me incomodava de ela fumar um cigarro. Kkkkkkkk… me senti um semideus ali, não sabiam o que fazer para me agradar, é mole?
Acreditem: o Bolinha (esse era o apelido dele) descascou o CDI e em um trabalho cirúrgico, soldou todo o circuito impresso. Enquanto isso, me levaram para dar uma volta na cidade para ver a festa. Para eles, era a maior moral andar ao lado de algum piloto do Rally. Pior é que eu estava todo sujo e empoeirado, nem banho e nem a roupa eu tinha tirado. Entramos em um bar e tive que tomar um gole de pinga com limão e sal, para não ficar feio…
Lá pela 1h30 da manhã, finalmente recolocamos o CDI na Ténéré. Dei a partida… e ela funcionou!!!!!!!! Esse Bolinha me salvou!!!! Devo esse rally a ele…
Quando cheguei em casa, mandei uma foto agradecendo o cara e comunicando que eu havia terminado a prova graças a sua ajuda. Isso foi uma lição para mim, um tipo de tapa na cara. Julguei o cara errado…
De São Raimundo até Teresina foram 538 km, e o que matou mesmo foram os deslocamentos em um asfalto pior do que as trilhas, muito ruim mesmo. O Ernesto estava com problemas de furo de pneu, e eu estava levando na sorte. Nessa etapa tomei o melhor gole de cerveja da minha vida depois de tomar a melhor água da minha via. Estava na estrada e vi um doido no meio do asfalto com um copo na mão acenado para os pilotos que passavam. O cara estava mamado! Entrou na minha frente e me ofereceu um gole, kkkkkkkkk…
Em Teresina comi o melhor pedaço de Melancia da minha vida também. Com sede, tudo que tiver líquido tá valendo.

Na última etapa entre Teresina e Fortaleza, foram 870 km, com dois trechos especiais cronometrados. E a segunda especial era nas dunas. Chega uma hora que parece que você vai ficando meio bunda mole de tanto sofrer, mas eu encarei as dunas, e não caí. Passava por aquelas lagoas e não caía, mais areia, muita areia, sempre seguindo rastros formados na areia. Cheguei até o final vivo! Um repórter me disse o seguinte: “cara , tu é duro na queda hein?? Quando vi você nas dunas, preparei a maquina para tirar uma foto de você caindo e não consegui….queria fotografar um tombo seu e não consegui… ” Mui amigo esse cara! Eles ficam como urubus na carniça querendo ver tombos e capotamentos.
Lembro que o Dionizio Malheiros (o organizador ) estava na chegada do final das dunas, então ele me deu os parabéns – ele certamente estava torcendo para que os motoboys terminassem o rally. Desci da moto, me ajoelhei e o Ernesto tirou uma foto! Ainda tinha o resto de deslocamento até Fortaleza e mais um furo de pneu do Ernesto. Nos atrasamos, mas chegamos à noite.

No dia seguinte tinha uma pequena especial em circuito fechado nas dunas para o pessoal assistir, mais uma exibição mesmo. Então o Luis apareceu com a moto andando… incrível, ele tirou ela do caminhão e funcionou. Sei não hein? Ela quebra mesmo, Luis?
Não atolei nas dunas. Dei umas voltas e estava curtindo o finalzinho. Não passei vergonha. Após exatos e contados dez tombos, sobrevivi ao IV Rally dos Sertões
Só no final comecei a entender sobre as penalizações, e por saber que andei na frente de alguns pilotos que receberam troféus, fiquei com uma pontinha de frustração. Ganhei uma medalha de participação e o Ernesto conseguiu um troféu na sua categoria, mas eu realmente estava orgulhoso de ter completado a prova. Pilotos muito mais experientes ficaram pelo caminho. É preciso ter sorte, garra e um pouco de braço – não foi fácil segurar a Ténéré, mas ela me levou até o final.

É como eu disse: você começa andando de uma maneira, e termina andando melhor no final, mas não percebe. E pode ter certeza, você não volta a mesma pessoa! Havia conseguido fazer o meu “Paris-Dakar pessoal”, e tive uma visão do Brasil que muitos não conhecem.
A Ténéré eu vendi para um cara de Paranaguá e soube que ele foi para o Nordeste com ela e voltou na boa. Não sei se ele descobriu o jeitinho no CDI até hoje…
__________________________________________________________________________________________
O supermotoboy Marcos Martines Neto também disputaria a edição seguinte dos Sertões, e este segundo relato também foi publicado no fórum do Clube XT600. Quem quiser que a gente dê um tapa e publique o próximo capítulo dessa aventura por favor se manifeste.
Fonte: jalopnik.com.br
Disponível no(a)http://www.jalopnik.com.br

Nenhum comentário: