10 de ago. de 2011

Diorama: mundo pequeno


Diorama: mundo pequeno

Nas horas de folga, empresário recria universo paralelo de carros na escala 1:18

Por Maria Paola de Salvo | Fotos: Marco de Bari


Imigrante italiano, o mecânico Giovanni vive em sua oficina especializada em Jaguar. No local, tomado por pôsteres dos Beatles, é possível encontrá-lo sempre entretido com o reparo de algum motor ou rodeando o torno. Giovanni é tão dedicado que não se desgruda de seu negócio para nada. Literalmente. O personagem é um boneco de resina que faz parte de um dos seis dioramas, miniaturas de oficinas na escala 1:18, criados pelo empresário Marcelo Baiamonte, 40 anos, de Santo André (SP).


Um Ford Mustang 1964 aguarda a troca de pneus na Terry Tires: À uma banheira para localizar os furos, as rodas foram usinadas na metalalurgica de Marcelo e a vidrasas quebrada dai o clima de abandono

A paixão começou em 1993, quando Marcelo passou a comprar carrinhos na escala 1:18. A coleção cresceu tanto que atingiu 400 exemplares. Sem saber o que fazer com a minifrota parada, Marcelo pensou em criar cenários para ambientá-la. "Foi um jeito de dar vida aos carrinhos", diz ele, que costuma se dedicar ao hobby nos fins de semana.

As peças impressionam pelo realismo e são tão detalhistas que, cada vez que as observamos com calma, notamos um novo elemento. O último trabalho de Marcelo, uma oficina de hot rods Ford antigos chamada Monster Gigio, tem 1400 itens, que vão de uma geladeira da Coca-Cola da década de 50 a minúsculas caixas de óleo com os logotipos das marcas da época. Ele costuma levar em média um ano em cada diorama. "Como concilio isso com o trabalho, às vezes passo meses sem mexer neles", diz Marcelo. "É algo que exige paciência."

Pronta em dezembro, a oficina Monster Gigio Hot Rods seu legitimo  trabalho e tambem  o que levou mais peças: são 1 400, como a geladeira de Coca-Cola da decada de 50 produzida na metalurgica, as placas de carro e as pranchetas com projetos

Basta dar uma olhada nas pecinhas, algumas menores que uma unha, para ter certeza disso. Embalagens da lanchonete Burger King e da Dunkin’ Donuts, com rosquinhas dentro, estão espalhadas sobre uma pilha de pneus - todos retirados das miniaturas de sua coleção. Nas paredes, não faltam nem os tradicionais pôsteres das pin-ups das revistas PLAYBOY da época, além de flâmulas e adesivos.

As latas de refrigerantes, de óleos e de fluidos ele faz em sua metalúrgica, que se tornou fornecedora particular de objetos para os dioramas. De lá já saíram tambores, bancadas, postes e ainda um torno mecânico, idêntico ao original, que equipa a oficina de Giovanni. "Quando vou a exposições, todos se apaixonam por ele", afirma Marcelo, que só tira suas obras da caixa para exibi-las em mostras de miniaturas, como a que acontece anualmente no bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP).

Chevrolet Camaro 1968 na oficina especializada em muscle-cars

O trabalho de Marcelo começa na internet, onde vai buscar referências de oficinas, objetos e ferramentas que deseja retratar. Com esses elementos, ele cria uma cena na cabeça. "Tudo que está aqui eu inventei", diz. "Não me baseei em nada que já existiu, como fazem os dioramas de inspiração militar." Como gosta de reproduzir oficinas dos Estados Unidos da década de 60, as casinhas abrigam muscle cars, como um Camaro 68 e um ‘Cuda 71. Há ainda modelos clássicos de Dodge, Ford e Plymouth. A reprodução do cenário começa pela estrutura do espaço. As "colunas" e "vigas" das garagens são feitas de madeira para aeromodelos, assim como as escadas e os mezaninos. Do ferromodelismo, vieram a grama e as pedrinhas que enfeitam os jardins.

O irmão mais velho do empresário, Giancarlo, se encarrega da iluminação. Todos os miniestabelecimentos têm lâmpadas que acendem. As luzinhas vêm de rádios e de aparelhos pequenos. Para fazer a rede elétrica, Marcelo desmonta um transformador antigo e separa os fiozinhos, da espessura de um fio de cabelo. Depois eles são esticados e embutidos na estrutura da madeira ou escondidos pela pintura.

Jaguar sendo desmontado

Vários outros objetos de uso cotidiano são adaptados. O assoalho de alguns dioramas é feito de pastilhas vendidas em lojas de artesanato. Correntes de roldanas e de guinchos são gargantilhas femininas que ele costuma comprar na rua 25 de Março. Os telhados são de lixas, dessas vendidas em lojas de materiais de construção. E o relevo dos tijolinhos à vista são obtidos graças às massinhas de modelar. Todas as peças são modeladas em separado e depois fixadas uma a uma na estrutura com cola especial. Cerca de 90% dos itens são produzidos pelo empresário. Ele só compra os bonecos, ou seja, os "mecânicos" das oficinas e alguns acessórios.

Efeitos da passagem do tempo e desgastes também são reproduzidos. Há pôsteres se soltando da parede, janelas sujas, vidraças estilhaçadas e pisos com gotas de óleo. Ele não se importa de envelhecer alguns exemplares de sua coleção. Com a ajuda de tintas e glitter laranja e marrom, enferrujou a lataria de uma picape usada como guincho de socorro da borracharia Terry Tires - ele gosta de dar nomes aos locais. E até pintou portas de cores diferentes para dar a ideia de que haviam sido reparadas. "Quero passar o máximo realismo", afirma ele. Depois de prontas, as estruturas recebem os carros, que podem ser trocados ao gosto do freguês.

Por enquanto, esses ambientes só podem ser vistos pela internet, por meio do site www.modellautos. com.br ou pelo fórum www.mundoemminiatura.com.br. O empresário já começa a riscar os próximos projetos: um posto de gasolina Texaco dos anos 50 e a Batcaverna de 1966, o quartel-general onde Batman costumava estacionar seu Batmóvel, com direito a garagem giratória. "Esse vai me garantir diversão para mais de um ano", diz ele.
Fonte: quatrorodas
Disponível no(a):http://quatrorodas.abril.com.br

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