9 de ago. de 2011

Chery QQ e Daewoo Matiz: qual é qual?

Compacto chinês é um espelho do coreano que chega em breve. Leva a cópia ou espera o original?

Hairton Ponciano Voz // Fotos: Fabio Aro


 Fabio Aro
Lado a lado, é difícil identificar qual é qual. Chery QQ e Daewoo Matiz são tão parecidos que a General Motors (dona da coreana Daewoo) mantém uma ação na China contra a Chery, sobre plágio. Segundo a empresa, ambos possuem “carrocerias, design e componentes fundamentais idênticos”.
Para provar a tese, instalaram a porta de um no outro sem nenhum problema, evidenciando que se tratava de produto copiado não apenas na forma, mas também nas dimensões. Nem precisavam ter tido tanto trabalho. Basta olhar um e outro para ver que eles têm muito mais semelhanças que diferenças.
O estilo do Matiz (posteriormente adotado pelo QQ) foi desenvolvido originalmente por Giorgetto Giugiaro para o conceito Lucciola, protótipo baseado no Fiat 500, e que não foi aproveitado pela marca italiana. Daí o visual simpático de ambos, com seus faróis arredondados que realmente remetem ao Fiat 500, especialmente quando vistos de relance. Já a traseira é mais convencional, e lembra modelos como o antigo Subaru Vivio, que chegou a ser vendido no Brasil no começo dos anos 90.
Visto pela traseira, o Matiz (esq.) se diferencia pelo formato das lanternas, na horizontal
O Chery QQ está à venda no Brasil por R$ 23.990, preço que inclui ar-condicionado, duplo airbag, faróis de neblina, trio elétrico e som com entrada USB, entre outros itens. Em comparação, o Fiat Mille custa R$ 23.490, sem nada disso. Assim, o chinesinho atrai a atenção não só do público, mas também dos concorrentes. É aí que entra o Daewoo Matiz. O compacto de origem coreana ainda não está à venda, mas pode chegar ao mercado em cerca de seis meses. O importador, que por enquanto prefere o anonimato, diz que seu preço será mais alto (em torno de R$ 25 mil), mas garante se tratar de um produto superior.
Confrontados, além das semelhanças eles exibem também muitas diferenças no que diz respeito à qualidade de montagem e acabamento. No Matiz, as folgas da carroceria são lineares. No QQ, a distância entre as peças é exagerada e irregular. O capô, por exemplo, estava bem desalinhado na unidade testada, com um lado muito mais aberto que o outro. A mesma folga pode ser constatada na tampa traseira e nas portas.
 Fabio Aro
Chery QQ tem airbag duplo de série, mas o interior tem vários parafusos aparentes. O painel é digital, porém o velocímetro é impreciso: você para e ele diz que você ainda está andando
A primeira dificuldade no QQ é achar onde se liga o farol. Isso porque o interruptor, no painel, é do tipo giratório, daquele modelo normalmente usado para regular a altura do facho (inexistente no modelo). Já os comandos na alavanca servem para ligar os faróis auxiliares. No Matiz, os controles estão onde se espera que estejam. O modelo testado veio sem faróis auxiliares, mas com ajuste de altura.
 Fabio Aro
Por dentro, o Matiz veio com volante de dois raios e acabamento simples. O quadro de instrumentos é analógico, e os hodômetros são mecânicos
Andando, nota-se que o QQ (“fofinho”, em chinês) também tem muito a evoluir. A suspensão mole faz o veículo oscilar demais após passar por alguma irregularidade do piso, o que transmite sensação de instabilidade. Os dois têm as mesmas características técnicas, como as rodas pequenas (aro 13), os pneus finos (155/65) e o entre-eixos curto (2,34 m). Mas o acerto de suspensão é totalmente diferente. Enquanto o QQ balança muito e chega a passar insegurança, o Matiz é mais firme. A origem pode explicar um pouco a diferença de comportamento: o Chery vem da China, país onde os carros tradicionalmente são mais macios. Já o Daewoo Matiz, que deverá ser importado para o Brasil, é produzido no Uzbequistão, e traz um acerto mais firme, mais voltado para o gosto europeu (e brasileiro).
A mesma crítica vale para os freios. Embora o ABS seja de série, o QQ apresentou fading (superaquecimento) durante as provas de frenagem, o que aumenta a distância de parada. Outro ponto negativo é a falta de modulação do pedal. Até o meio do curso o pedal é leve e não faz nenhum efeito. O sistema só entra em ação no final do curso do pedal. O Matiz testado não estava com ABS. Precisou de mais espaço até parar completamente, mas não apresentou sintomas de fading, e tem melhor modulação de pedal, transmitindo mais sensibilidade.
Fabio Aro
QQ está à venda no Brasil por R$ 23.990, com farois de neblina, trio elétrico e som com entrada USB, entre outros itens de série
O motor 1.1 de 16 válvulas e comando duplo do QQ não decepciona. Embora tenha potência contida (68 cv), o QQ mostrou bom desempenho, enfrentando rampas inclinadas com fôlego convincente. Contribui para isso o baixo peso: apenas 890 kg. A prova de 0 a 100 km/h, em 14,6 segundos, é outro bom indicador. A alavanca de câmbio tem longo curso entre as marchas, mas de bons engates. O que incomoda um pouco é o ruído da transmissão, que invade a carroceria. O Daewoo é mais silencioso.
No Matiz, o motor é menor (800 cm3), tem apenas três cilindros e rende 51 cavalos. Na pista, a aceleração de 0 a 100 km/h foi feita em 19,8 segundos. Da mesma forma, as retomadas também são mais lentas. No entanto, ele dá o troco no quesito economia. Na estrada, o consumo foi quase idêntico (15,9 km/l no Matiz; 15,7 km/l no QQ), mas na cidade o modelo da Daewoo leva clara vantagem: fez média de 15,4 km/l, contra 12,9 km/l no QQ. Note que ambos são automóveis tipicamente urbanos: foram muito econômicos na cidade (especialmente o Matiz), mas não mostraram economia excepcional na estrada. Isso ocorre porque, para andar a 120 km/h, motores de baixa cilindrada precisam de rotações maiores, e aí parte da economia obtida nos centros urbanos se esvai. Isso explica o consumo urbano e rodoviário muito próximos, no caso do Matiz.
Fabio Aro
Daewoo Matiz foi projetado por Giugiaro, nasceu na Coreia do sul e é feito no Uzbequistão
O painel digital dá um aspecto de modernidade ao pequeno QQ, mas o funcionamento também deixa a desejar. Como na mecânica, falta refinamento ao sistema. O velocímetro é muito impreciso e demora a responder. Exemplo: o carro para bem antes de o velocímetro chegar ao “0”. Nas provas de frenagem, a falha era ainda mais evidente: o QQ parava completamente e o velocímetro ainda estava em cerca de 30 km/h. O Matiz tem mostradores convencionais, analógicos, e hodômetros mecânicos.
Internamente, o QQ deixa expostos vários parafusos, evidenciando falta de cuidado com questões de aparência. No Matiz, há um pouco mais de atenção com o revestimento. O carpete do porta-malas, por exemplo, é menor que o espaço a ser coberto. O chinês tem bom preço, mas precisa melhorar em muitas coisas. Falta copiar a qualidade.

Ficha técnica e números de teste
Compacto chinês é um espelho do coreano que chega em breve. Leva a cópia ou espera o original?


Daewoo Matiz Chery QQ
Preço inicial Indisponível R$ 23.990
Motor Dianteiro, transversal, 3 cilindros, comando simples, 6 válvulas, gasolina Dianteiro, transversal, 4 cilindros, comando duplo, 16 válvulas, gasolina
Potência 51 cv a 5.900 rpm 68 cv a 6.000rpm
Torque 6,8 kgfm a 4.600 rpm 9,1 kgfm de 3.500/4.000 rpm
Comprimento  3,53 m 3,55 m
Largura 1,49 m 1,49 m
Altura 1,48 m 1,48 m
Entre eixos 2,34 m 2,34 m
Porta-malas 190 l 190 l
NÚMEROS DE TESTE 
Aceleração 0 a 100 km/h 19,8 s 14,6 s
Consumo cidade 15,4 km/l 12,9 km/l
Consumo estrada 15,9 km/l 15,7 km/l
Fonte: revistaautoesporte
Disponível no(a):http://revistaautoesporte.globo.com/

Nenhum comentário: