20 de jun. de 2011

Como a Audi usa os acidentes de corrida para tornar seus carros mais seguros



A feição de Dindo Capello vai da felicidade ao horror. Seus amigos o cercam de perguntas, mas seus olhos estão fixos no monitor, onde uma câmera instalada em um helicóptero sobrevoa o local de um acidente. Capello tenta obter o máximo de informações possíveis sobre a saúde de seu amigo e companheiro na Audi, Mike Rockenfeller.

O replay do acidente surge na tela. É o Audi R18 #1 sendo tocado por uma Ferrari GT mais lenta. A transmissão corta para uma câmera onboard. A Ferrari não manteve seu traçado, cortando o caminho do R18, que gira 360 graus antes de bater de frente na proteção de pista. O vídeo é cortado.
A meia noite se aproxima e estou sentado na Audi Racing Arena, ao lado da entrada dos boxes no circuito de La Sarthe aqui nas 24 horas de Le Mans. Estou separando algumas fotos que tirei durante o brilho dourado do crepúsculo horas atrás. Três metros distante de mim está Capello, vencedor da prova em três edições. Mais cedo na prova, ele e o dinamarquês Tom Kristensen foram rebaixados de deuses do automobilismo a porta-vozes da Audi depois que Allan McNish, o outro piloto do carro, sobreviveu a um acidente espetacular pouco depois da Ponte Dunlop, encurtando as 24 horas do trio. Apesar do resultado, Capello estava com o astral alto, sentado com amigos e descrevendo os prazeres de Le Mans.
Então, sobre seus ombros, surgem as primeiras imagens do que parece ser outro acidente envolvendo um Audi R18. Desta vez, foi na escuridão da reta de Mulsanne. O primeiro pensamento a cruzar a mente de todos: Quem estava dirigindo e será que ele está bem? Mesmo na era do automobilismo ”seguro”, não é impossível morrer em um acidente a 300 km/h. Depois de alguns minutos torturantes, a câmera do helicóptero dá um zoom em Mike Rockenfeller, de pé do outro lado do guard-rail, provavelmente após escapar sozinho do que sobrou do carro. Capello suspira aliviado, e então se enfurece com o erro do piloto na Ferrari. Não havia nada que Rocky pudesse fazer.
Duas da manhã, a prova segue atrás do safety car enquanto as equipes consertam a pista. Levo praticamente todo esse tempo andando até a cena do acidente onde os trabalhadores estão terminando os reparos, depois de substituir 124 peças dilaceradas do guard-rail em menos de duas horas. Foi uma batida feia.

Todo campeonato de corrida afirma que os fabricantes aproveitam tecnologia nos carros de rua. Isso é verdade. Os principais campeonatos criam inovações que ajudam os motoristas comuns em seus itinerários. Mas ao ver quantas dessas inovações saíram de Le Mans, não há dúvidas que corridas de GTs e protótipos são a referência em inovação para os carros de passeio. Desde o lançamento do Audi R10 TDi em 2006 e do Peugeot 908 HDi FAP em 2007, o diesel está na vanguarda das novas tecnologias em provas de longa duração. Mas isso foi há cinco anos, e com novas regras, pode se dizer que o diesel não tem mais a vantagem absoluta que teve. A próxima fase de desenvolvimento está em materiais mais leves e resistentes. A empresa começou a apresentar este esforço sob o termo Ultra, de ultraleve, e até criou um bem sacado comercial para isso.
A Lamborghini, divisão da Audi AG, anunciou no ano passado um novo foco no desenvolvimento de carros mais leves e fortes. O novo Aventador LP700-4 é um exemplo do discurso da empresa: um carro com um chassi monocoque de fibra de carbono desenvolvido pela Boeing e pesquisadores da Universidade de Washington. O novo R18 da Audi tem um chassi semelhante, mas em um estágio mais avançado que o do Aventador. Esse chassi salvou a vida de dois pilotos da Audi durante o final de semana em Le Mans.
Antes da prova, o R18 passou por diversas modificações. A Audi limou praticamente 40 quilos ao alterar o projeto dos painéis da carroceria depois de testes preliminares. O cockpit fechado do carro aumentou a eficiência aerodinâmica, comparado ao R15 do ano passado, enquanto um V6 TDI de volume menor poupou peso e espaço. O chassi do R18 precisa desse espaço para propósitos a longo prazo: cogita-se que ele poderia abrigar uma nova tecnologia de propulsão elétrica em um futuro não muito distante.
A Audi já aproveitou o desenvolvimento do TDi em Le Mans nos carros de passeio, e registra boas vendas de tanto o A3 quanto o Q7 TDi. Agora, a destruição dos dois carros durante a corrida – e o final feliz de seus pilotos – vistos por milhões de pessoas em todo o planeta na TV e na Internet, oferece uma inesperada atenção à sua pesquisa de materiais. Sob risco de parecer insensível, achei que a saída de McNish daquele carro é uma imagem poderosa, uma que a Audi poderia usar para tornar suas pesquisas na área uma causa a seguir. Mas quando a Audi poderá adotar estes novos processos e inovações em seus carros de rua?
No fim, com o R18 restante, a Audi venceu as 24 horas de Le Mans de 2011. A vitória de verdade foi dos engenheiros que projetaram a célula de sobrevivência do R18. O automobilismo nos dá uma visão do futuro de qualquer fabricante. Tudo o que precisamos fazer, como espectadores e fãs, é distinguir claramente o que realmente está acontecendo ao ler nas entrelinhas.
Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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