26 de mai. de 2011

Corrida da minha vida: Clark em Monza '67



Presença certa em qualquer lista a respeito dos maiores pilotos de todos os tempos, Jim Clark é o tipo de personagem cujos feitos não-televisionados acabam um pouco esquecidos com o tempo. Mas não aqui. Em uma atuação primorosa, do mesmo nível da de Fangio em Nurburgring 57, “Jimmy” fez o público do Grande Prêmio da Itália de 1967 se levantar das cadeiras com um feito inacreditável: uma volta atrás dos líderes, recuperou a desvantagem e assumiu a ponta da corrida. E mesmo assim não ganhou!

A temporada 1967 da Fórmula 1 foi por si só um pouco confusa. Depois da prova do Canadá, o circo iria para a Itália para depois voltar aos Estados Unidos e México. Totalmente fora de mão.
Jim Clark já era bicampeão de F1, certamente o mais veloz de todos os pilotos da época, e estava voando nos treinos livres e classificatórios para a prova italiana. Uma pole position certamente não era algo que surpreendesse todo mundo. E assim foi. O inglês que pilotava a rápida Lotus 49 do “Team Chapman” largaria ao lado de Bruce McLaren e Jack Brabham na primeira fila.

Após uma largada caótica, Dan Gurney, que largara em quinto com seu Eagle, aproveitou para assumir a ponta, mas não por muito tempo, já que Clark voltaria para liderar o comboio três voltas depois. Tudo parecia se encaminhar para uma vitória simples de Clark. Mas quando se fala em Fórmula 1, principalmente da antiga, não se pode dizer isso.
Gurney, que poderia dar um gás na corrida, quebrou logo em seguida, deixando a segunda colocação para Graham Hill (dobradinha da Lotus) e a terceira e quarta colocação para os meninos da Brabham (Denny Hulme e Jack Brabham, respectivamente).
Mais atrás vinham Chris Amon, John Surtees, Bruce McLaren e Jochen Rindt. Era difícil crer que, com estes oito grandes pilotos andando tão bem assim que alguma coisa pudesse dar errado… mas não é que deu?

Na 13ª volta, Clark encosta apavorado nos boxes com o pneu traseiro direito furado. Perdendo mais tempo que a Ferrari de Felipe Massa, Jim volta uma volta atrás de Hill, Hulme e Brabham. A corrida parecia perdida para o escocês.
Com a faca nos dentes e sem nada a perder, Clark começa a fantástica arrancada de recuperação. Em pouco tempo já retoma a volta dos líderes e parte para ganhar o terreno perdido para os outros competidores.
Somando-se à destreza de Clark, a sorte parecia sorrir para o piloto da Lotus. Na 31ª volta, a junta do cabeçote da Brabham de Hulme se parte. Poucas voltas depois Jack tem um problema no curso de seu acelerador, que travara aberto, fazendo-o, posteriormente, perder muito desempenho.
Hill se isolava na frente, mas Clark vinha correndo como o vento para recuperar algumas posições. A problemática Brabham de Jack neste momento já sentia a pressão de John Surtees, Chris Amon e Bruce McLaren. Fazendo jus ao seu azar, Amon para nos pits com problemas na suspensão. Logo em seguida é a vez da McLaren BRM de Bruce abandonar com uma ruptura de biela. A vida parecia bem mansa para Hill.

Enquanto isso, Jimmy fazia uma primorosa corrida de recuperação e alcançava Rindt, em dificuldade com os freios, ocupando já a quarta colocação. Na 55ª volta, todo mundo achava que Hill já garantira a vitória. Restava saber quem chegaria em segundo: Brabham, Surtees ou… Clark!

Mas foi a partir daqui que a emoção começou para valer. Na volta 59, Hill aparece lento nos pits, com problemas no distribuidor. Brabham assume a ponta, mas seu rendimento continua bem aquém, e segue perdendo terreno para Surtees. No ritmo que estava, John rapidamente alcançaria Brabham.
Todavia, quem estava ainda mais rápido era Clark, que em uma arrancada sensacional ultrapassara Surtees e, momentos depois, Jack Brabham, para se tornar o novo líder da prova. Deve ter sido o único momento da F1 em que o líder tirou uma volta de atraso em relação aos primeiros colocados. A torcida estava de pé, reconhecendo seu talento.

Resta agora saber quem chegaria em segundo: a três voltas do fim o Honda de Surtees consegue a ultrapassagem em Brabham, uma excelente posição para alguém que passou a corrida como coadjuvante, mas eis que outra reviravolta acontece.
O espumado tanque de combustível da Lotus 49 não estava permitindo ao motor V8 de Clark puxar os últimos litros de combustível. O carro número 20 começou a engasgar freneticamente, para surpresa de todos os presentes. Depois de ter feito a maior prova de recuperação da história da Fórmula 1, o piloto seria sucumbido por míseras gotas de combustível.
“No decorrer de uma inverossímil última volta, Surtees, estreitamente seguido por Brabham, reultrapassa Clark, que roda lentamente. Surtess e Brabham se apresentam na última frenagem da corrida, antes da curva parabólica… na entrada da curva… Mas John não é menos esperto que o australiano, obrigando-o a fazer um trajeto que está cheio de óleo. O Brabham se atravessa, o Honda vai para frente na reta de chegada e consegue conservar 2/10 de segundo de vantagem na linha! Vinte e três segundos mais tarde, Clark a transpõe também, na banguela, sob ovações de um público que, rompendo todas as barreiras, vai literalmente assalta-lo e quase sufoca-lo.” A Fómula 1 Moderna (Artenova 1972) – Rosinski, José.
Seria a última vez que Monza veria uma atuação de James Clark Jr. Seis meses depois, o maior piloto dos anos 60 viria a falecer em um acidente de Fórmula 2 em Hockenhein.


Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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