13 de abr. de 2011

Garagem dos sonhos: Auto Union Type C


Um dos mais importantes carros da história do automobilismo só foi concebido graças a um corte no orçamento. Seu desenvolvimento envolve a engenharia alemã responsável pelas máquinas da Segunda Guerra. Seu layout de motor central era inédito até então em carros de competição, e se tornaria obrigatório nos melhores superesportivos  até hoje. Sua velocidade máxima… bom, não vamos falar tudo agora. Leia e entenda porque o Auto Union Type C está em nossa Garagem dos Sonhos. Quem disse que não temos espaço para um carro de corrida?


Para contar a história do Type C, é necessário voltar algumas décadas no tempo — para a Grande Depressão pós-1929. Como em todos os lugares, na Alemanha as coisas não estavam fáceis, e embora Ferdinand Porsche já fosse bastante reconhecido por seu talento para a engenharia, as comissões para automóveis haviam simplesmente desaparecido. Porsche, no entanto, não era de desistir de suas ambições facilmente. Uniu-se a alguns de seus ex-sócios incluindo Adolf Rosenberger e Karl Rabe para formar a Hochleistungs Motor GmbH (Companhia de Motores de Alta Eficiência). Então iniciou-se o desenvolvimento de um motor para competir em GPs, um trabalho levado a sério mesmo sem nenhum contrato.

Em paralelo, as companhias Audi, DKW, Horch e Wanderer formaram a Auto Union em um esforço para enfrentar a tempestade da crise mundial, por meio de finanças alavancadas e, como consequência, aumento em seu poder aquisitivo. Como toda boa companhia europeia recém-formada nos anos 30, a Auto Union recebeu comissão para criar um carro de corrida, e esta veio através de Porsche, que era ligado à Auto Union através da Wanderer. O dinheiro para o desenvolvimento é o que dá a esses carros um lugar especial, talvez até infame, na história. Adolf Hitler, então recém-indicado Chanceler da Alemanha, havia dado comissão à Mercedes-Benz para construir um carro que dominasse as corridas, e forneceu 500 mil Reichmarks para financiar o projeto. Após ser convencido de que duas participações trariam mais benefícios para a Alemanha, Hitler dividiu a grana e Mercedes e Auto Union receberam 250 mil RM cada uma.

Naquela época, o layout “motor dianteiro, tração traseira” era considerado o ápice da arte da engenharia automotiva. Porém, com pouco dinheiro, a equipe da Porsche trouxe à tona alguns desenhos de um carro pequeno, baixo e de motor central — e o projeto seria chamado de Auto Union Type C. Ao colocar o motor na traseira, o tanque de combustível no centro e o piloto à frente, fizeram-se desnecessárias as concessões ao cardã e túnel de transmissão.
E que motor! Um V16 de seis litros, 32 válvulas e cilindros inclinados a 45°, com supercharger Roots e 527 cv em sua forma final. Com a distribuição de peso de 40/60 e a superlativa potência disponível, o carro tendia a sair de traseira e era difícil para os pilotos – acostumados a uma posição de pilotagem mais recuada – determinar os limites de aderência. Antes do advento do diferencial de deslizamento limitado ZF, o carro era famoso por rodar assustadoramente quando em velocidades maiores que 240 km/h.

As suspensões dianteira e traseira também eram o que havia de mais avançado na época. O piloto se sentava sobre um sistema de eixo duplo e barra de torção na dianteira, enquanto atrás o serviço era feito por uma suspensão do tipo duplo wishbone com feixe de molas transversal. A carroceria que cobria esta sinfonia mecânica era cuidadosamente trabalhada no Instituto Alemão de Aerodinâmica e proporcionava tanto refrigeração eficiente quanto um efeito aerodinâmico verdadeiramente invejável. Quando concluído, o carro de 733 kg obteve uma velocidade final de 339 km/h. Em 1936.

A lista de pilotos desta lenda soa como um “quem é quem” dos primórdios do Grand Prix — Hans Stuck, Ernst von Delius, Achille Varzi e, claro, Bernd Rosemeyer. Foi Rosemeyer quem aprimorou o chassi e transformou estes carros em campeões, conseguindo seis vitórias em doze corridas na temporada de 1936. As vitórias levaram a Auto Union a conquistar o campeonato de marcas, e Rosemeyer conseguiu o título de Campeão Europeu. Pelos próximos dois anos, ele ainda venceria mais oito corridas e apenas perderia para a Mercedes em 1938. Neste ano, as equipes empataram em número de vitórias, porém a Auto Union perdeu em número de voltas na liderança para o recém-desenvolvido W125.

O Auto Union Type C, bem como seu concorrente, o Mercedes-Benz W125, representam um marco da engenharia automotiva de inovação que só seria visto novamente nos anos 1980, com os carros de corrida do Grupo B. O Type C foi o bólido que iniciou esta revolução no automobilismo, a transformação necessária para que os carros ficassem mais leves e mais rápidos. A adoção do motor central era inevitável, mas com uma mistura de história, paixão pela engenharia, desempenho irrepreensível e design intimidador, tudo isso feito com um orçamento relativamente limitado, é certo que entre tantos carros memoráveis, o Type C seja mais um dos escolhidos para fazer parte de nossa Garagem dos Sonhos.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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