27 de abr. de 2011

Corrida da minha vida: Fangio em Nürburgring '57



Quando a famosa pergunta de ‘quem foi o maior piloto de todos os tempos’ surge, a velha batalha entre Senna e Schumacher aflora. Juan Manuel Fangio geralmente acaba de fora, afinal quem morava na Europa na década de 50 para vê-lo correndo de perto, não é mesmo?
Mas basta você ler um pouco mais sobre a história da Fórmula 1 para saber quão grande foi este argentino. Um exemplo clássico foi na gigante Nürburgring em 1957, suprassumo de uma pilotagem magistral.
A corrida de Nürburgring era uma das mais esperadas do florescente campeonato de Fórmula 1. Com seus 22810m de extensão, serpenteava uma floresta (Inferno Verde) da província de Nurburg. Na temporada, Fangio dominava com sua Maserati 250F.
Uma vitória na Grande Prêmio da Alemanha poderia selar seu quinto título. Com imortais 46 anos numa época em que a expectativa de vida entre pilotos era drasticamente curta, não podemos chamá-lo de garoto. No treino classificatório que definia o grid de largada para a sexta etapa do mundial, Fangio voou e quebrou o recorde da pista com 9m25s6,  à frente de Mike Hawthorn, seu principal adversário.

A dupla britânica da Scuderia Ferrari (Hawthorn e Collins) era uma grande concorrente para as Maserati (Fangio e Behra) na corrida. O ritmo das Ferrari 801 era tido como melhor na pista alemã. Fangio adotou a estratégia de fazer uma parada nos boxes no meio da prova. Seria algo arriscado, inovador, mas o multicampeão não via outra chance de vencer senão esta. Era o verdadeiro pulo do gato.
Montado com pneus macios, mais rápidos mas que não resistiam toda a prova, e com um tanque de combustível com metade da capacidade, ele iniciou aquela que seria uma das maiores performances do automobilismo.
Nürburgring, por causa de seu extenso traçado, proporcionava poucas voltas de prova. Em 1957, a corrida teria somente 22. Mais leve que os outros, Fangio tratou de abrir vantagem, mas os Ferrari acompanhavam seu ritmo, dentro do limite. O piloto da Maserati acelerava tudo o que podia por dentro do Inferno Verde, abrindo vantagem a cada volta contra adversários que em condições niveladas provavelmente andariam mais rápido.

No 13° giro o argentino abrira cerca de 25 segundos para Hawthorn. Ao final daquela volta seria o momento crucial. A parada nos boxes para reabastecimento e troca dos pneus traseiros surpreenderia a Ferrari.
Temos que lembrar que estamos em 1957. A equipe de box não contava com nenhuma artefato mecanizado que lhe rendesse fluidez em uma troca de pneus. Reloginho cronometrando o tempo da troca? Nem em sonho. Assim que Fangio entrou para os pits, ao final da volta 13, a sua vantagem girava em torno de 30 segundos. O argentino achou seu lugar e lá começou o árduo trabalho de reabastecimento e troca de pneus.
Para colocar combustível, nada de mangueiras de alta pressão. O carro era abastecido com tanques como nos usados pela NASCAR ou Stock Car. Eram tonéis com funis que faziam o reabastecimento. Além de muita força física, o mecânico encarregado tinha que ter muito cuidado. Qualquer descuido poderia ser literalmente fatal.
Enquanto o carro era abastecido, marretadas eram desferidas nas rodas. Era neste estilo, da pancada, que as rodas eram trocadas. Dava-se marretadas na porca até que ela se desprendesse e o conjunto pudesse ser trocado.
Neste momento, a corrida de Fangio parecia ir por água abaixo. Após uma pancada mal dada de um dos mecânicos, a arruela para prende uma das rodas “escafedeu-se”. Até pegarem outra, preciosos segundos eram perdidos. A corrida estava por um fio. Quiçá seu título…

Enquanto isso Hawthorn e Collins passaram por Fangio parado nos boxes. Quando percorreram a reta de chegada, receberam a notícia pelas placas da Ferrari de que Fangio estava abandonando a corrida.
Sabendo que estavam sozinhos na prova, reduziram o ritmo para assegurar que ganhariam a corrida. Mas neste meio tempo, Fangio saia dos boxes. Sem sistema de rádio para avisar os pilotos da Ferrari, a notícia que Fangio ainda continuava na corrida só seria dada na volta seguinte.
O argentino, que antes tinha uma vantagem de 30 segundos, agora tinha um déficit de 45 para retirar. A prova estava perdida, era o que parecia a todos presentes. A partir da volta 14 começa a história imortal. Com uma tocada no fio da navalha em 100% do tempo o argentino voa pela pista.
Sua primeira volta após a parada nos boxes foi fantástica: quebra do recorde da pista, que era do próprio em sua volta de qualificação. Enquanto os pilotos da Ferrari relaxavam pela pista, só foram informados que o argentino tinha voltado para a corrida na passagem seguinte, mas já era tarde.

O ritmo agressivo de Fangio o fez quebrar o recorde da pista nove (!) vezes, sendo sete delas de forma consecutiva (!!). No início da penúltima volta Fangio passaria por Collins e, ao final da mesma volta, chegaria em Hawthorn.
O piloto não entregou fácil a posição. Após a prova Fangio comentou que ultrapassou o inglês em uma curva, mas com somente duas rodas na pista. As outras duas estavam na grama. Hawthorn vendeu caro a ultrapassagem, e tentou recuperá-la, mas sem sucesso. Durante a volta final os dois mantiveram um ritmo semelhante e o inglês chegou a somente a três segundos do argentino.

A prova entraria para o legado da Fórmula 1 como sendo uma das eternas candidatas a melhor performance da história da categoria.
“Eu nunca pilotei tão rápido em toda minha vida e não acredito que conseguirei repetir isso novamente”
Fangio é mito!

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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