11 de abr. de 2011
Alfa Romeo GTV, o meu amor adolescente não-realizado
Ei, alguém mais por aqui também ama a marca do cuore sportivo? No Brasil, o trio esportividade + marca tradicional + luxo é frequentemente associado às fábricas alemãs, como Audi, Mercedes e BMW. Bom, eu costumo lamentar, dolorosamente e em segredo, por quê não temos mais a marca da cruz e serpente por aqui…
Quando o assunto é Alfa Romeo, há uma espécie de charme outsider, uma paixão underground, um amor para iniciados. O mala do seu vizinho vai fazer questão de falar que são automóveis frágeis, de manutenção difícil, ruins de vender, enfim; de invejosos e experts de botequim o mundo está cheio. Se todo amor é cego, minha resposta é: são carros temperamentais – tão amados quanto odiados. É o que veremos neste post.
Minha paixão pela marca começou pra valer quando eu tinha uns dezesseis anos. Já contaminado pelo vírus da ferrugem, gostava de visitar uma pequena loja de carros antigos que ficava na zona sul de São Paulo. Acho que o nome era Gold Car, ou Golden Car. Golden Retriever. Sei lá. Lembro-me de um Mustang hardtop 1967 vermelho que ficava por lá, juntando poeira. Foi o meu sonho de consumo por longos seis meses. O preço de R$15.000 era absurdo, comparado aos outros carros da loja. Hoje, um carro destes é vendido por quase cem mil reais.
Mas enfim. Eis que um belo dia, surgiram duas novas jóias na não-sei-o-quê Car. Não os conhecia, e meu coração generoso bateu forte por ambos. Um Mercury Cougar XR7 1970 branco, e uma Alfa Romeo GTV 1974 vermelha, com interior caramelo. O gigante e a pequena donzela. Eu estava completamente dividido. Se o Cougar inspirava sensação de poder, maldade e grandeza, a Alfa me fazia sentir bem só de entrar no carro, e ver todos aqueles instrumentos redondinhos, madeira no volante, e a alavanca de câmbio quase colada à direção. E todo aquele perfume de curvim e couro.
A GTV é um carro pequenino. Ao vivo é menor que nas fotos. Baixinho e charmoso – fosse uma mulher, seria a Winona Ryder. Ou a Audrey Hepburn. Qualquer um fica cabeçudo dentro de uma (Alfa), e os ombros ficam muito próximos aos do passageiro. Um automóvel com um tremendo de um motor, todo de alumínio, cabeçote “hemi” com dois comandos de válvulas. Tração traseira, como todo esportivo deve ser. E o charme das linhas de Bertone, com uma história de muito sucesso nas pistas de corrida, subidas de montanha e até ralis; em suas variações GTA, GT Junior, etc.
Mas o incrível é que eu não sabia nada disso. Foi amor à primeira vista, sem explicações, razões técnicas, sem nada senão a mais pura sintonia humano-mecânica. Empatia, cumplicidade, um monte de sentimentos que humanizaram o charmoso carrinho. Tudo o que eu sabia é que eu queria aquele carro, mais do que tudo. Por R$6.000.
SEIS.
MIL.
REAIS!
Dói meu estômago só de lembrar a merreca que se pedia por um carro com a pintura ainda original (apenas desgastada), com interior impecável e motor roncando direitinho. Mas eu, estudante, sem carta de motorista, sem emprego, apenas podia sonhar. E continuei sonhando.
Alfa GTAm do grego Rokkos Anavasi. Um míssil.
Passado poucos anos, eu já tinha formado na minha cabeça que queria uma Alfa GTV. E por um acaso, meu pai conheceu o autor de um pocket book chamado “Alfa Romeo – Toda a História”, que até hoje não sei se era apenas uma tradução ou se era realmente um trabalho autoral. De qualquer forma, liguei para ele. Para a minha profunda dor e tristeza, o maledetto transformou a ligação em uma genuína sessão de linchamento automotivo! Ah, a lata apodrecia fácil, bah, o motor era uma porcaria, argh, a elétrica é a mesma coisa, cada frase que ele pronunciava me cortava até os ossos e rasgava em mais um pedaço o meu sonho alfístico.
Naquele momento eu pensei “puxa, ainda bem que eu falei com ele antes”. Hoje, minha opinião é… bom, melhor não publicá-la. Com o passar dos anos, quando já tinha o meu igualmente amado Charger R/T (antes do Dart), fui conhecendo donos de Alfas GTV. Pilotos, colecionadores, entusiastas, donos de todo tipo; com apenas uma coisa em comum: todos extremamente felizes com os seus pequeninos italianos. Claro, probleminhas sempre acontecem – é assim com todo carro antigo. Mas no geral, o GTV entrega muita diversão pelo pouco que cobra de zelo.
Toda vez que vejo uma passando na rua, sinto aquela doce pontada no coração. O amor adolescente não realizado. Platonismo. Saudades.
É, meus amigos. Por trás daquele projeto brutamontes V8 de 500cv, pneus slick, gaiola e fibra de vidro por todos os lados; reside um coração alfista. E digo-lhes uma coisa: hei de possuir uma em minha garagem antes de partir.
Você tem alguma paixão automotiva adolescente não-realizada? Puxe uma cadeira, sirva-se com uma dose de vinho e me conte!
Fonte: jalopnik.
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br
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