1 de fev. de 2014

Mercedes-Benz CLA200 First Edition: Estrela de vitrine

Fotos: Eduardo Rocha / CZN e divulgação (interior)

Mercedes-Benz CLA200 First Edition: Estrela de vitrine
Mercedes-Benz CLA200 tem muita tecnologia, desempenho pouco convincente e preço alto demais

por Eduardo Rocha
Auto Press

No mundo inteiro, a função do Mercedes-Benz CLA é rejuvenescer a imagem da montadora alemã e servir como porta de entrada para os sedãs de luxo. Mas não aqui no Brasil. Apesar de ostentar um visual bem moderno, a versão batizada pomposamente de First Edition tem um preço que dificilmente será capaz de atrair um consumidor preocupado com o custo de um automóvel.
São R$ 150.500 por um modelo equipado com um modesto motor 1.6 turbo de 156 cv. Isso é pelo menos 30% acima do valor que se pede por um Classe C180, com o mesmíssimo motor. É bem verdade que o CLA é recheado de equipamentos de segurança e tem “gadgets” bastante desejáveis. Mas também deixa de fora vários outros.
A explicação é simples: não se trata de um erro, mas de uma estratégia. O CLA entra na cota de importados da marca, que conta com modelos muito mais lucrativos que ele, como as classes E, ML e S, entre as várias letrinhas que designam os carros da marca. A solução então foi torná-lo rentável – com um preço bem gordo – para pescar os admiradores desapegados do modelo. Para os demais, é o caso de esperar a chegada do novo Classe C, no segundo semestre, que vai usufruir da benesse do Inovar-Auto. Pelas regras, os modelos em vias de fabricação no Brasil podem ser importados fora de cota e sem sofrer com o IPI adicional nos dois anos anteriores à produção. O volume estabelecido é de 50% do total anual prometido. Como a nova fábrica de Iracemápolis terá capacidade para fazer 20 mil Classe C por ano, são 10 mil unidades liberadas em 2014 e outras 10 mil em 2015.
Como bom carro de vitrine, o CLA200 traz uma enorme quantidade de recursos eletrônicos de auxílio dinâmico e de segurança. Mas não tem o nível de requinte que se espera de um modelo médio de preço tão elevado. A central multimídia com Bluetooth e GPS, com monitor de 7 polegadas, não é sensível ao toque nem comandada por voz, por exemplo. O revestimento dos bancos é em couro sintético, o aplique de alumínio do painel é, na verdade, um plástico mais jeitoso. Tem ausências pouquíssimo explicáveis, como de sensor ou câmara de ré ou de ajustes elétricos nos bancos. 
O motor responsável por animar o CLA200 é o mesmo que movimenta o Classe A200 e também traciona as rodas dianteiras – boa parte dos sistemas de auxílio à condução são exatamente para amortecer o desconforto causado pela transmissão de potência na direção. Seus 156 cv são acompanhados por um torque de 25,5 kgfm entre 1.250 e 4 mil rpm. Mesmo com um propulsor pouco convincente sob o capô, não há como negar o poder de atração das linhas do novo sedã das Mercedes. E é na beleza do CLA que a marca aposta quanto prevê que vai emplacar neste ano 1.400 unidades do modelo – 800 do First Edition e 600 de duas futuras versões, uma mais barata e outra superior, possivelmente com tração integral.
Ponto a ponto
Desempenho – O pequeno motor 1.6 turbo, de 156 cv, acusa o peso de 1.430 kg do sedã. Nas acelerações, o CLA 200 tem um comportamento apenas condizente com a de modelo de entrada em uma linha de luxo. E para isso se vale da boa sequência no escalonamento do câmbio de sete marchas, a ponto de cumprir o zero a 100 km/h em 8,5 segundos. Nas retomadas, porém, este Mercedes decepciona. Demora a responder às solicitações do acelerador e a falta de fôlego obriga a redução de duas ou até três marchas de uma só vez. Nota 6.
Estabilidade – O novo sedã da Mercedes embarca uma boa tecnologia de construção, com braços em alumínio na suspensão e aços especiais na estrutura. O baixo peso estrutural reduz os efeitos da força G no contorno das curvas e a boa rigidez torcional proporciona ótima dirigibilidade. A direção de peso correto e os pneus runflat 225/40 R18 também colaboram na manutenção da trajetória – mas são uma dor-de-cabeça para reparar. É bem verdade que a falta de “espírito esportivo” – inclusive pela tração dianteira – do CLA 200 ajuda também a evitar os limites. Nota 8.
Interatividade – É possível fazer praticamente tudo no CLA sem tirar as mãos do volante. Na ponta dos dedos há nada menos que 12 botões que comandam todas as funções do sistema multimídia e do computador de bordo. Um outro ponto positivo foi a Mercedes-Benz ter reposicionado o comando do cruise control, que antes provocava confusão com a haste da seta. Além disso, o modelo conta com paddle shift para trocas de marcha. Só não é justificável, em um carro de R$ 150 mil, os ajustes do banco serem manuais. Nota 8.
Consumo – O CLA não é um carro de comportamento agressivo. E ainda conta com o desconfortável sistema start/stop. Mas a má equação peso/potência, são 9,2 kg/cv, cobra um preço no consumo. E nem mesmo a propalada aerodinâmica, com índice de 0,23 Cx  ajuda a evitar o disperdício. Durante o teste, de aproximadamente 250 km e quase todo feito em rodovias, obteve a média de 10,5 km/l. De fato, nos testes do InMetro, o resultado foi 8,9 na cidade e 10,9 na estrada, sempre com gasolina. Ficou com classificação D na categoria e no geral. Nota 4.
Conforto – Neste ponto, o CLA mostra seu pedigree. A ergonomia, a maciez dos bancos, o silêncio a bordo e a suavidade ao rodar são precisamente dosados. A suspensão comfort poupa os ocupantes dos dissabores da pavimentação típica das ruas e estradas brasileiras. Nota 9.
Tecnologia – O projeto do menor sedã da Mercedes é bem recente, com uma estrutura repleta de materiais de primeira linha. O motor também é moderno, embora nesse modelo sofra um certo abuso. Na área de segurança, o CLA traz o que a Mercedes tem de mais avançado em relação a assistência de condução: controle de estabilidade controle de tração conjugada ao diferencial, assistente de partida em rampa, funções hold, pré-carregamento e secagem para os freios, sistema de monitoramento de fadiga do motorista, sensor de chuva e direção de peso progressivo com auxílio de esterçamento e compensação de tração. Tem ainda sete airbags, luzes de freio adaptativas e pneus runflat. A central multimídia, com uma tela elevada de 7 polegadas no console central, também é bem completa. A única ausência inexplicável é um sensor de obstáculos. Nota 8.
Habitabilidade – Apesar de ser ligeiramente menor que a geração passada do Classe C – ainda vendida no Brasil –, o CLA oferece uma área de habitáculo semelhante. Na frente, motorista e carona usufruem de bom espaço em todos os sentidos. A segunda linha de assentos acaba ligeiramente afundada, por causa do caimento acentuado do teto. Ali, dois passageiros vão bem, mas um terceiro ocupante fica em situação forçada. Os acessos ao interior são bons e a menor altura do modelo não chega a criar dificuldade para entrar ou sair do veículo. O porta-malas tem capacidade correta para o tamanho do carro: 470 litros. Nota 7.
Acabamento – O interior do CLA é quase uma reprodução, em desenho e materiais, do Classe A. Isso significa que segue a lógica de bom acabamento, com alguns detalhes em material refinado mas nada que seja realmente requintado. Os bancos, por exemplo, são em Ártico, um material que imita o couro natural. O tablier é em um plástico texturizado que imita alumínio. O interior preto ajuda o conservar o aspecto de novo por mais tempo, mas só não fica opressivo por causa do teto solar. À noite, ainda é amenizado pelos 17 pontos de iluminação indireta – em maçanetas, piso, etc. Nota 8.
Design – As linhas do CLA são a maior aposta para Mercedes para atingir o público-alvo principal, que são os jovens. A frente, derivada da criada para a SLS anos atrás, recebe um corpo bem musculoso – em certo pontos até lembra o estilo Escultura Fluida da Hyundai. A linha de cintura alta e o teto em curva, como em um cupê, reforçam a imagem de esportividade. Já a lateral das portas e  e o capô com vincos em feixe dão uma certa robustez ao conjunto. A traseira tem linhas rápidas, com lanternas em formato de gota, e é cheia de personalidade. Nota 9.
Custo/benefício – A Mercedes-Benz não se mostra muito interessada em tornar este CLA First Edition um sucesso de vendas. Como não tem possibilidade de importar o modelo em larga escala, pelas limitações de cota, decidiu reforçar o caráter de exclusividade que um preço bem alto pode proporcionar. Por R$ 150.500, o CLA não é para ser um bom negócio nem mesmo entre carros de luxo. É para quem deseja especificamente este modelo. Nota 4
Total – O Mercedes-Benz CLA 200 First Edition somou 71 pontos em 100 possíveis. 
Primeiras impressões

Lógica inversa
 
Itatiba/São Paulo – O Mercedes-Benz CLA tem uma cara feroz, esportiva. A frente, com a moldura da grade projetada, foi inspirada no superesportivo SLS. O perfil em arco traz uma linha de cintura alta, vidros pequenos e musculatura bem-definida por vincos. A traseira, com lanternas em gota, é a parte mais original do sedã com jeitão de cupê. Nada disso, porém, encontra respaldo no pequeno propulsor 1.6 turbo que se acomoda sobre o eixo dianteiro. Nem mesmo o câmbio de sete marchas de dupla embreagem é capaz de fazer o comportamento do CLA200 First Edition corresponder às promessas feitas por suas linhas insinuantes. 
 
 
Nas acelerações, a transmissão é até capaz de cobrir os buracos deixados pelo motor. Nas retomadas, porém, dependendo da urgência da exigência, o CLA se move aos gritos. O modelo nasceu para ser o sedã de entrada da Mercedes. Por isso, vários detalhes que seriam aceitáveis em um carro com esta função perdem o sentido no posicionamento que a montadora desenhou para o CLA no Brasil. A marca até tentou compensar o desajuste com o embarque de muitos recursos eletrônicos. Ainda assim, sobraram detalhes pouco nobres, como o revestimento em couro sintético e o interior recheado de plásticos no acabamento.
 
 
Tudo que diz respeito ao projeto em si, por outro lado, é muito bem urdido. A ergonomia dos bancos e comandos, por exemplo, é excelente. O câmbio foi transferido para uma pequena haste no lado direito da direção e essa mudança abriu um bom espaço no console central para porta-objetos. Isso forma um ambiente em que o conforto é valorizado, no que o teto solar panorâmico também contribui. Em suma: apesar de ser um modelo pensado para jovens, a versão que chegou ao Brasil oferece um uso agradável, mas incapaz de maiores ousadias.
 
Ficha Técnica

Mercedes-Benz CLA200 First Edition

Motor: Gasolina, dianteiro, longitudinal, 1.595 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbo, comando duplo no cabeçote e duplo comando variável de válvulas. Acelerador eletrônico e injeção direta.
Transmissão: Automática com sete marchas à frente e uma a ré. Tração traseira. Oferece controle de tração.
Potência: 156 cv a 5.300 rpm.
Torque: 25,5 kgfm entre 1.250 rpm e 4 mil rpm.
Aceleração de zero a 100 km/h: 9,2 segundos.
Velocidade máxima: 210 km/h.
Diâmetro e curso: 73,7 mm X 83,0 mm. Taxa de compressão: 10,3:1.
Suspensão: Dianteira com braço de controle transversal com barra estabilizadora e amortecedores e traseira do tipo double-wishbone com molas helicoidais e barra estabilizadora. Oferece controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 205/55 R16.
Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás. 
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,63 m de comprimento, 1,77 m de largura, 1,43 m de altura e 2,70 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina de série.
Peso: 1.525 kg.
Capacidade do porta-malas: 470 litros.
Tanque de combustível: 50 litros.
Produção: Kecskemét, Hungria.
Lançamento mundial: 2013.
Lançamento no Brasil: 2014.
Itens de série: Ar-condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, vidros, travas e retrovisores elétricos computador de bordo, direção elétrica, luzes diurnas em led, volante com regulagem de altura e profundidade, ESP, ABS, EBD, airbags frontais, laterais e de cortina, rádio/MP3/USB/iPod/AUX/Bluetooth e GPS. 
Preço: R$ 150.900.
 

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