9 de nov. de 2013

Teste: Tracker e EcoSport travam duelo equilibrado

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“Olha o novo Captiva!”, aponta uma mulher em meio ao burburinho na saída de um evento, enquanto o manobrista me entrega a chave do Chevrolet. Depois foi a vez da minha mãe, que está acostumada com os carros de teste, vir me perguntar: “Mudou alguma coisa no Captiva para você pegá-lo de novo?”. E elas não foram as únicas a confundir que o “Captiva” era, na verdade, o novo Tracker.

Sim, o Tracker ganhou estilo imponente. Lado a lado com o Captiva, eles realmente parecem pai e filho. Mas um filho dessas gerações mais novas, que já tem quase do tamanho pai mesmo quando ainda é adolescentes. Na fita métrica, porém, o novo jipinho ainda teria de comer muito arroz com feijão para chegar lá: o Captiva mede 4,58 m de comprimento por 1,85 m de largura, contra 4,25 m e 1,78 m do novato, respectivamente. Estamos diante, então, da primeira resposta de verdade da General Motors ao EcoSport, exatos 10 anos depois de a Ford ter revolucionado o mercado brasileiro com um SUV compacto e acessível.
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O atraso da GM (e da maioria dos concorrentes, diga-se) fez com que o Tracker chegasse já diante de um novo EcoSport, agora global e desenvolvido sobre a plataforma do New Fiesta. Pois o modelo da Chevrolet também segue essa escola: deriva da plataforma GSV usada pela marca globalmente em modelos como Sonic, Spin e Onix. O Tracker só se chama assim aqui e na Argentina (além da Rússia), por conta do antigo clone do Grand Vitara que era vendido pela GM nesses mercados. Na Europa ele é Trax e também veste a roupa da Opel como Mokka, enquanto nos EUA aparece como Buick Encore. Já o EcoSport leva o mesmo logotipo em todos os mercados em que atua.
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Carros globais, disputa local. E aí o Eco leva vantagem por ser fabricado no Brasil e ter uma gama de opções muito maior não só em termos de mecânica (1.6 manual, 2.0 manual ou automático, 2.0 4×4), mas também quanto às versões (S, SE, FreeStyle e Titanium). Já o Tracker foi traído pela mudança nas regras de importação do México, agora com cotas. “O planejamento inicial previa versões LT manual e automática, com preços a partir dos R$ 60 mil”, revela um fonte ligada à GM. Do jeito que está, o Tracker desembarca da terra da tequila apenas na versão topo de linha LTZ com câmbio automático de seis marchas, bancos de couro, rodas aro 18″ e central multimídia MyLink, a R$ 71.990. Um pacote opcional acrescenta teto solar e airbags laterais e de cortina à lista de equipamentos, chegando a R$ 75.490.
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Nessa faixa de valores, o Tracker combate apenas as versões Titanium Powershift do EcoSport, que respondem somente por cerca de 10% das vendas do modelo. A primeira, com ar digital, controle de estabilidade, assistente de partida em rampa, chave presencial com partida por botão e sistema Sync (entre outros itens), custa R$ 73.900. Na sequência, o pacote Titanium Plus acrescenta bancos de couro e os airbags laterais e de cortina, elevando a conta para R$ 77.690. Consideramos esta última versão para este comparativo, mas, na falta de um carro de frota da Ford no período em que estivemos com o Tracker, as fotos externas são de um modelo diferente do testado. As imagens internas e os testes foram feitos com um Eco Powershift de uso particular.
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Carro ou jipinho?
Se o Eco já um tanto urbano (mesmo na versão 4×4), o Tracker, de aventureiro, só tem o estilão. A posição de dirigir pode ser baixa como a de um sedã (no mínimo de altura do banco do motorista), enquanto as rodas aro 18″ (com pneus 215/55) e a suspensão com somente 13 cm de vão live do solo deixam claras as intenções “asfálticas” do modelo mexicano. Para se ter ideia, é preciso até tomar cuidado com a parte inferior do para-choque nas valetas mais profundas, sob pena de o Tracker raspar o bico. Em compensação, a GM fez um belo trabalho no acerto de suspensão. Mesmo com os rodões exagerados e os pneus de perfil baixo, o SUV negocia muito bem com pisos ruins, absorvendo de forma competente os impactos. Ao mesmo tempo, exibe um controle em curvas que a gente não conhecia nesta categoria, oferecendo segurança e uma estabilidade (ajudada pelos largos Continental 215/55 R18) que faz com que não sintamos tanta falta do ESP – embora o item seja um auxílio precioso em situações de baixa aderência. Para completar, foi mais eficiente que o Eco nas provas de frenagem.
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O modelo da Ford, por sua vez, é mais fiel ao estilo jipinho – tanto no visual quanto no comportamento. Além de levar o estepe preso à tampa traseira (um pedido dos clientes, segundo a marca), o EcoSport é cerca de 5 cm mais alto e 1 cm mais estreito que o Tracker. Já a altura livre do solo é bem maior, de 20 cm, de modo que não há preocupações de raspar os para-choques ou a parte inferior do carro em obstáculos como valetas e lombadas. As rodas são mais discretas, aro 16″, e vêm vestidas com pneus Pirelli de perfil maior (205/60 R16) e banda de desenho misto. Nem é preciso dizer que na terra o Eco leva vantagem, apesar de transmitir mais a buraqueira para os ocupantes. No asfalto, porém, o jipinho feito em Camaçari (BA) é menos confortável (tem o acerto mais “durinho” típico da Ford) e inclina um pouco mais nas curvas, embora a estabilidade ainda seja boa. Para compensar, o ESP é de série e está atrelado ao auxílio de partida em rampa, que mantém os freios acionados por alguns segundos nas saídas em ladeira – no Tracker é preciso segurar o pedal para que ele não recue nas subidas.
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Conforme prometemos no primeiro teste do Chevrolet, quando ele foi medido com gasolina no próprio Campo de provas da GM, refizemos as medições com etanol desta vez. De fato, o desempenho foi ligeiramente superior, com a aceleração de 0 a 100 km/h baixando de 11,8 s para 11,5 s e a retomada de 80 a 120 km/h melhorando de 9,0 s para 8,4 s. Vale lembrar que o motor Ecotec 1.8 16V Flex, mesmo do Cruze, rende 140 cv e 17,8 kgfm de torque com gasolina, números que sobem para 144 cv e 18,9 kgfm quando abastecido com gasolina. Mas, se a performance ficou em níveis razoáveis, o consumo com o combustível vegetal se mostrou um tanto alto, com médias de 5,7 km/l na cidade e 8,9 km/l na estrada.
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Nesta equação entre andar e beber, o EcoSport fez valer seu conjunto mecânico mais apurado. Com litragem maior, o motor Duratec 2.0 16V da Ford entrega 146 cv e 19,7 kgfm de torque, e ainda tem dois aliados: a transmissão Powershift de dupla embreagem, que realiza trocas mais rápidas (até 0,2 s) e não perde potência para o conversor de torque como o Chevrolet, e a direção elétrica, que também não consome energia do propulsor. Além disso, o Eco pesa 1.316 kg, contra 1.390 kg do Tracker. O resultado é uma vitória de certo modo tranquila do Ford nos testes, com 0 a 100 km/h em 10,7 s e retomada de 80 a 120 km/h em 7,6 s. E isso com um consumo bem mais tolerante que o do rival, chegando a 7,2 km/l no circuito urbano e 10,5 km/l no rodoviário, também com etanol.
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Agilidade x conforto
No dia-a-dia, as diferenças percebidas na pista ficam ainda mais claras. O Eco parece sempre mais leve e esperto nas saídas e ultrapassagens, sem contar o fato de sua direção elétrica sem bem mais leve e afiada que a do Tracker. Ainda assim, o motor demora a subir de giros, não acompanhando a esperteza do câmbio – quando virá o Duratec Direct flex do Focus para o Eco, Dona Ford? O GM sente o maior peso nas acelerações e retomadas, enquanto a direção hidráulica, apesar de precisa e com bom peso na estrada, deixa a desejar em maciez nas manobras. Fora isso, a transmissão do Eco apresenta funcionamento “liso” em praticamente em todas as situações, enquanto a caixa GF6 da Chevrolet (que eu havia elogiado na pista de GM) dá alguns trancos em baixa velocidade, no para e anda do trânsito. Por fim, o Powershift tem o recurso do modo esportivo, em que a sexta marcha é desativada e as trocas ocorrem em rotações maiores, acompanhando o motorista numa tocada mais animada. Trocas manuais? Sim, mas os dois trazem o recurso pelos nada práticos botõezinhos “+ e -” na lateral da alavanca.
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Até aqui o EcoSport está cantando vitória, mas quando analisamos os carros internamente o Tracker volta à briga. A cabine do Chevrolet é claramente mais espaçosa (principalmente no banco traseiro) e aconchegante, com bancos maiores e um acabamento que, se não chega a se destacar, supera o do Ford com facilidade. A amplitude interna se deve não só ao entre-eixos 3 cm maior, mas também ao fato de que a carroceria do Tracker é efetivamente maior, visto que parte do comprimento do Eco é “perdido” pelo estepe lá atrás. Da mesma forma, o porta-malas do GM é visivelmente mais volumoso, embora a Chevrolet declare somente 306 litros e a Ford 362 l – certamente há uma alguma diferença no critério de medição das marcas. No quesito porta-objetos, temos como exclusividades o porta-luvas refrigerado no EcoSport e um compartimento acima do porta-luvas no Tracker, onde fica a entrada USB – bacana para esconder seu celular ou MP3 player de olhares de cobiça. Ambos trazem uma gavetinha sob o banco do passageiro.
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Em ambos o painel é bicolor, sendo claro na parte de baixo e escuro em cima no Eco e o inverso no Tracker. Plásticos rígidos dominam a cabine dos dois, mas no GM as peças são mais bem encaixadas e a textura do material do painel e da forração do teto são mais agradáveis. Apliques imitando aço escovado enfeitam o interior do GM, enquanto o Ford vai de “black piano” no centro do painel. Os quadros de instrumentos possuem iluminação azulada, com velocímetro digital no Chevrolet – ambos de boa leitura. Falta sentida no Eco é de uma central multimídia (apesar do sistema Sync com comandos por voz), aspecto em que o Tracker ganha fácil com o prático MyLink de tela sensível ao toque e câmera de ré. Só o Ford, porém, vem com ar digital. Bancos de couro e comandos do som no volante são de série nos dois.
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Diante do confronto apertado, a conclusão é que o EcoSport enfim encontrou um rival à altura. O Tracker é uma opção mais acertada para famílias em busca de conforto e espaço, além de apresentar uma construção mais esmerada. O Eco ainda leva a melhor em desempenho, consumo e desenvoltura na terra, sem falar na maior lista de equipamentos. Com o GM limitado pelas cotas de importação do México, por enquanto o Ford vai continuar nadando de braçada nas vendas. Mas se a Chevrolet produzi-lo no Brasil e providenciar versões mais acessíveis, essa disputa tem tudo para embolar no futuro.
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Por Daniel Messeder
Fotos Rafael Munhoz e autor

Ficha técnica – Chevrolet Tracker LTZ
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.796 cm3, comando duplo variável, flex; Potência: 140/144 cv a 6.300 rpm; Torque: 17,8/18,9 kgfm a 3.800 rpm; Transmissão: câmbio automático de seis marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos sólidos na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Rodas: aro 18 com pneus 215/55 R18; Peso: 1.390 kg; Capacidades: porta-malas 306 litros, tanque 53 litros; Dimensões: comprimento 4.248 mm, largura 1.776 mm, altura 1.647 mm, entreeixos 2.555 mm
Medições CARPLACE
Aceleração
0 a 60 km/h: 5,0 s
0 a 80 km/h: 8,0 s
0 a 100 km/h: 11,5 s
Retomada
40 a 100 km/h em Drive: 8,5 s
80 a 120 km/h em Drive: 8,4 s
Frenagem
100 km/h a 0: 40,3 m
80 km/h a 0: 25,4 m
60 km/h a 0: 14,3 m
Consumo
Ciclo cidade: 5,7 km/l
Ciclo estrada: 8,9 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,5 s
Consumo cidade: N/D
Consumo estrada: N/D
Velocidade máxima: 189 km/h
Ficha técnica – Ford EcoSport Powershift Titanium
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 1.999 cm3, 16 válvulas, flex; Potência: 140/146 cv a 6.250 rpm; Torque: 18,9/19,7 kgfm a 4.250 rpm; Transmissão: câmbio automatizado de seis marchas, dupla embreagem, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: Independente Mac Pherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: disco na dianteira e tambor na traseira, com ABS; Peso: 1.316 kg; Porta-malas: 362 litros; Dimensões: comprimento 4,241 mm, largura 1,760 mm, altura 1,696 mm, entreeixos 2,521 mm;
Medições CARPLACE
Aceleração
0 a 60 km/h: 4,7 s
0 a 80 km/h: 7,4 s
0 a 100 km/h: 10,7 s
Retomada
40 a 100 km/h em Drive: 8,9 s
80 a 120 km/h em Drive: 7,6 s
Frenagem
100 km/h a 0: 42,8 m
80 km/h a 0: 26,5 m
60 km/h a 0: 14,9 m
Consumo
Ciclo cidade: 7,2 km/l
Ciclo estrada: 10,5 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,4 s
Consumo cidade: 6,7 km/l
Consumo estrada: 8,0 km/l
Velocidade máxima: 180 km/h

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