27 de jan. de 2013

CITROËN DS5 VERSUS EUROCOPTER EC145

Levamos o top de linha para ver como alguns pilotos se sentiriam no comando dessa nave e aproveitamos para compará-lo a outro francês de luxo
por JULIO CABRAL| OSWALDO LUIZ PALERMO (FOTOS)


O helicóptero se esforça para chamar mais atenção que o Citroën (Foto: Oswaldo Luiz Palermo/Autoesporte)
Ele é produzido na França, tem vidro para todos os lados, sai por um preço que somente os ricos podem pagar e leva até 10 pessoas. Se não fosse esse finalzinho, poderíamos estar falando tanto do Citroën DS5 quanto do Eurocopter EC145.
Quando chegou na Autoesporte, o DS5 foi logo apelidado de disco voador. O estilo quase alienígena para o segmento de executivos de luxo garantiu esse apelido. Só que, ao olhar bem para o interior desse francês, logo outra inspiração do pessoal da Citroën ficou bem clara: o mundo aeronáutico. Após pilotarmos essa nave, pensamos em buscar a opinião de quem entende realmente de cockpit, os pilotos de aeronaves e aproveitar para ver suas semelhanças com um helicóptero de alto luxo.
Fomos para a Helicidade, na Zona Oeste de São Paulo, onde nas vésperas de feriados são feitas mais de 200 operações de pouso e decolagem. O lugar faz justiça ao nome: repleto de helipontos e grandes hangares, por ali circulam dezenas de helicópteros de vários tamanhos. Incluindo o Globocóptero, um Esquilo AS350. Aproveitamos para procurar os pilotos dessa máquina.
O piloto Fabiano Possi não se fez de rogado e logo quis dar uma olhada no DS5, antes que chegasse a hora dele decolar em busca de reportagens. Durante o nosso contato com o crossover, pintaram algumas dúvidas sobre a grande quantidade de comandos. Será que havia mais botões do que em uma aeronave pequena? Um piloto precisaria de um “voo de instrução” para decorar tudo aquilo?
Fabiano Possi não se confundiu na cabine lotada de comandos do DS5  (Foto: Oswaldo Luiz Palermo/Autoesporte)
Que nada. Habituado a decifrar paineis mais incompreensíveis do que hieróglifos em pirâmides, Fabiano logo começou a apontar para que servia cada um daqueles comandos. Foi logo na regulagem do head-up display (HUD), lâmina de policarbonato na qual são projetadas informações na linha de visão do motorista. “Que legal, já estou mexendo no HUD sem você me falar. A maioria das aeronaves pequenas ainda não tem isso, mas tem jatos executivos que investem no equipamento”, afirmou o piloto.
Comparando diretamente o painel do DS5 ao de uma aeronave, Fabiano viu mais semelhanças. Perguntei a ele se ele precisaria fazer um check-list antes de sair dirigindo. “Não, até porque os comandos são setorizados, cada uma das áreas num canto, como é num helicóptero ou avião”, disse Fabiano, que acredita que o fato dele ser piloto também ajuda na hora de entender todos aqueles botões.
Sentado no confortável banco que mais parece um patchwork de couro, Fabiano lembrou que algumas aeronaves investem alto no conforto. Afinal, não são raros os voos longos. Ao colocar o carro em movimento, comenta sobre o volante, um manche a moda antiga. Chaves de comando estilo switch, console no teto e o botão do freio de serviço ao estilo Boeing foram outros pontos de semelhança lembrados.
Habituado a jatos, Marcelo Nanini achou que o head-up display deveria trazer mais informações (Foto: Oswaldo Luiz Palermo/Autoesporte)
O estiloso Citroën logo começou a atrair outros pilotos sem esforço. Caso do Marcelo Nanini, que deu logo deu uma volta no carro. Na direção, ficou impressionado com o HUD. “Esse carro tem recursos de aviões mais caros. Não estou falando de jatinhos não. Falo de jatos de longo alcance, como um Gulfstream”, afirmou o piloto de aviões. “Só que seria legal ter mais informações, uma exibição mais completa. É muito equipamento só para exibir o velocímetro”, criticou. Realmente, na Europa esses displays costumam apontar dados da navegação, distância dos outros veículos, entre outros.
Logo chegou Marcelo Micchi. Ansioso, o comandante já tinha pensado num bom embate. Em vez de comparar o DS5 ao AS350 produzido pela Helibras em Itajubá (MG), Micchi propõe um EC145, outro projeto da Eurocopter. É que o 145 é feito em Marignane, que fica a mais de 600 km de Sochaux, também na França, onde é produzido esse Citroën. O que é essa distância para um helicóptero capaz de voar em velocidade de cruzeiro de 250 km/h? Além disso, Micchi lembrou que somente helicópteros mais caros como os da Augusta e o próprio EC145 costumam possuir detalhes como o console superior.
Micchi mal precisou sentar no carro para fazer comparações. Em principal a ambientação. Em vez de teto solar, o DS5 exibe um teto envidraçado subdividido em partes. Assim quem está na frente ou no banco traseiro comanda, individualmente, uma persiana que vai regulando a iluminação interna. “Isso é que nem num helicóptero, onde as janelas de inspeção deixam você ver o hélice e também o que está a sua volta”, explica. Um ponto que chamou a sua atenção foi o relógio analógico. “É tão fácil de ver que ainda é analógico também no helicóptero”. A maioria dos comandos e informações, contudo, são exibidas em telas. O mesmo ocorre nos helicópteros e aviões, que há muito adotaram o conceito de glass cockpit, repleto de telas.
Comandante Micchi lembra que a ampla área envidraçada é uma característica comum aos veículos (Foto: Oswaldo Luiz Palermo/Autoesporte)
A disputa pelo melhor conforto interno é equilibrada. O helicóptero aperta bem nove passageiros e um tripulante na sua fuselagem de apenas 2,96 metros de comprimento. Porém, os bancos de couro são estreitinhos e não chegam perto das poltronas do Citroën, que fica devendo mesmo é um pouco mais de espaço no banco traseiro. Claro que o Eurocopter pode vir em arranjo executivo e tem direito até a uma versão cujo interior para apenas quatro passageiros foi criado pela Mercedes-Benz.
Em matéria de equipamentos, a navegação, vital nas aeronaves, também é feita por GPS. Nesse ponto, o aparelho integrado ao console do Citroën mandou melhor do que o do Eurocopter, destacado acima do painel. Se você ficar parado no engarrafamento a bordo do DS5, há recurso de massagem, que foi utilizado - e elogiado - por todos os pilotos. O EC145 tem a vantagem de passar por cima disso tudo sem engarrafamentos. “Há um tráfego intenso, ainda mais na véspera de feriados. Mas sem crises ou congestionamentos. Como tem várias rotas demarcadas e todos falam na mesma freqüência, fica mais fácil”, analisa Micchi. Porém, na hora de decolar, bases como o Campo de Marte podem congestionar.
Citroën DS5 encara o conterrâneo Eurocopter EC145 (Foto: Oswaldo Luiz Palermo/Autoesporte)
Comparar o desempenho seria uma maldade. O DS5 se vira com o motor 1.6 THP de 165 cv e 24,5 kgfm de torque já a baixos 1.400 giros, tudo regido por um câmbio automático de seis marchas. No nosso teste, não empolgou e marcou 10,1 segundos na aceleração de zero a 100 km/h, distante dos 8,9 s declarados pela marca. A velocidade máxima oficial é de 211 km/h. Já o EC145 também acredita na turbocompressão e investe em duas turbinas Turbomeca que geram o equivalente a 747 cv cada uma. São quase 1.500 cv para levar o peso máximo de decolagem de 3,5 toneladas a até 268 km/h. Em alcance, vantagem para o estradeiro: 870 km para o Citroën (que fez 14,5 km/l de gasolina na estrada) e 680 km para o Europter com tanque padrão (pode ser ampliado). Porém, se você achou muito os R$ 124.900, se prepare para assinar um cheque de pelo menos US$ 5,5 milhões pelo helicóptero - sem impostos, frete ou revisões tabeladas.
* Agradecimento a Helicidade por ter cedido a pista para esse encontro

Fonte: Revista AE
Disponível no(a): http://revistaautoesporte.globo.com
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