5 de jul. de 2012

Como usar o câmbio manual do jeito certo: punta-tacco


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Nada é mais regozijante para um motorista que o doce som do tapa no acelerador que casa a rotação do motor com a velocidade das rodas, seguido de uma redução de marcha perfeitamente sincronizada, sem trancos, sem interrupções. É a assinatura sonora de um verdadeiro profissional. Aprenda agora como fazer isso direito.

Para a maioria dos amadores, a hora da troca de marchas é o momento em que a mão direita agarra com força a alavanca em busca do engate preciso, os pés se movem de um modo confuso e automatizado e o motor soa como se estivesse acabado de explodir.
Tudo mundo já se embananou em trocas de marcha, e isso é uma das coisas mais frustrantes conhecidas pela humanidade. Em nossa defesa há o argumento de que muitos carros têm o pedal de freio e acelerador mal posicionados, dificultando ou até mesmo impedindo a prática do punta-tacco.
Então talvez seja uma boa hora para tentar explicar a técnica do punta-tacco para aqueles mais inseguros. É importante ter em mente que o aprendizado não é fácil e requer muita prática. Mas quando dominada, a técnica é maravilhosa.
Para reduzir a marcha, você sabe, é preciso desacoplar a transmissão pressionando a embreagem, mover a alavanca de câmbio para uma marcha menor, e depois soltar a embreagem para acoplar novamente a transmissão ao volante do motor. Parece simples, e você já deve estar achando que este é mais um post para americanos que não sabem dirigir carros manuais.
O problema é que ao pressionar a embreagem o motor gira solto, independente da velocidade das rodas, e por isso a rotação tende a cair. Quando a embreagem for liberada, é preciso casar a rotação à velocidade do motor, digamos 4000 rpm, por exemplo. Então é preciso dar um toque no acelerador para elevar a rotação às hipotéticas 4000 rpm para garantir que a velocidade do motor seja equivalente à da transmissão/rodas.
Se você fizer isso errado, causará um tranco forte quando os componentes dessincronizados forem acoplados, enquanto as rodas sofrerão uma brusca frenagem pelo motor. Em um carro de tração traseira sob frenagem, isso acaba em uma embaraçosa derrapagem fumegante.
Por isso precisamos desse toque no acelerador durante a passada de marcha. O problema é que você não tem três pés e precisa manter o pé esquerdo na embreagem o tempo todo. Isso significa que você precisa frear com o pé direito e ao mesmo tempo dar esse “tapa” no acelerador com o mesmo pé – sem aliviar o pedal do freio.
Para fazer isso você precisa girar o calcanhar do pé direito em direção ao acelerador enquanto mantém a ponta do mesmo pé firme no freio. Pratique o movimento com o carro parado para pegar o jeito. Em uma pista, você vai notar que pode – e precisa – ser mais agressivo nesse toque no acelerador. A chave é conseguir apertar o acelerador com a intensidade ideal sem afetar a frenagem. E claro, fazer isso o mais rápido possível sem ferrar tudo.
Depois de conseguir girar o pé sem soltar o freio, é preciso acertar a intensidade do toque no acelerador. É preciso usar a força certa na hora certa. Se você pisar forte demais, o motor vai girar muito rápido, e o acoplamento da embreagem vai resultar num tranco. Se o toque for fraco ou rápido demais, o giro não será suficiente e você vai acabar freando o carro com o motor (sim, o freio-motor). Se você acelerar cedo demais, o giro volta a cair e todo o esforço não serviu para nada. Se acelerar tarde demais, com transmissão acoplada você vai simplesmente acelerar o carro na entrada da curva, e isso pode (e vai) ser desastroso.
Quanto mais você praticar (numa via fechada, por favor), melhor desenvolverá a percepção do momento certo de tocar o acelerador.
Se você é novato e ainda está confuso, sugiro que procure por “heel and toe” no YouTube. Pegue uma cerveja e tente resistir à tentação de abrir o “russian girls” em outra aba. Isso você já nasce sabendo. Você precisa aprender a fazer o punta-tacco e por isso deve gastar um bom tempo olhando para os pés de pilotos em carros de corrida.
Em seguida, vou explicar como a redução de marcha pode te ajudar a atrasar a frenagem. Logicamente a forma principal de desaceleração é o freio, mas o freio-motor é uma ferramenta muito eficaz e deve ser incluída na técnica.
Reduzir a marcha no começo da área de frenagem exige uma boa subida de giro, já que a velocidade ainda é alta, e por isso o motor estará girando alto. Quando o motor gira, ele tende a desacelerar, em parte devido ao efeito da compressão nos cilindros. Isso cria um torque negativo, e quanto mais alta a rotação, maior o torque negativo. Portanto, ao antecipar a redução, com giro alto, vamos usar muito do torque negativo para desacelerar o carro.
Isso significa que podemos atrasar a frenagem, e também que seremos mais rápidos.
Depois também podemos pular marchas. Por exemplo, é possível reduzir de quarta para segunda se fizermos o punta-tacco corretamente. Isso pode ser útil na zona de frenagem, quando você tiver pouco tempo para fazer todas as reduções antes do ponto de viragem. Não é algo para se fazer o tempo todo, mas é uma carta na manga numa competição de verdade, para quando houver necessidade.
Até agora falamos apenas das reduções, mas não podemos esquecer a subida de marcha. Trocas lentas gastam um bom tempo de volta. Cada vez que se sobe uma marcha, o carro fica momentaneamente sem torque do motor, o que significa que não estamos acelerando. Ao longo de uma volta completa, isso representa décimos de segundo que fazem a diferença. Ao concentrar-se em trocar as marchas o mais rápido possível, você conseguirar cortar um décimo de segundo por troca. Faça a conta agora e calcule quanto tempo se perde por volta em sua pista favorita.
Ainda tem mais: alguns carros têm potencial para o chamado flat shifting, ou engate em aceleração plena. É quando o piloto mantém o acelerador pressionado e pisa rapidamente na embreagem apenas o bastante para desacoplar a transmissão e engrenar a marcha maior. Você precisa ser cauteloso com isso, já que é fácil errar e perder o controle do carro. Não vá tentar fazer isso em uma rodovia na hora do rush! Isso também exige muita força da caixa, por isso é fácil quebrá-la. Também é mais fácil em carros cuja transmissão usa engrenagens de dentes retos. O uso desse recurso depende da sua vontade de sacrificar garoupas em sua busca pelo melhor tempo de volta.
Usar o câmbio manual com propriedade é um dos aspectos mais recompensadores ao dirigir rápido. Se você não tem muita experiência, não desanime com a dificuldade inicial. Com algum tempo os movimentos tornam-se praticamente automáticos.

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