7 de jun. de 2011

Brasil pode dominar mercado de etanol até 2020, diz ex-ministro

Para José Goldemberg, demanda mundial pode triplicar até 2020. Ele cobrou mais iniciativas para reduzir poluentes por parte das montadoras.

Ligia Guimarães
A tecnologia brasileira atual para biocombustíveis é suficiente para que o Brasil triplique sua produção e domine o mercado nos próximos dez anos, estimou nesta terça-feira (7) o físico José Goldemberg, professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro do Meio Ambiente.

Há uma janela de oportunidade. Com a tecnologia atual, que vai bastante bem, o Brasil pode dobrar ou triplicar sua produção"
José Goldemberg
Na avaliação do professor, o país precisa aproveitar a “janela de oportunidade” que se abre no mercado energético. Conforme estimativa apresentada pelo especialista durante o Ethanol Summit, a demanda por etanol no mundo pode saltar dos de 70 bilhões atuais para mais de 200 bilhões de litros até 2020, se forem cumpridas as metas dos países que determinaram mandatos de mistura do etanol à gasolina até o fim da década.

“Há uma janela de oportunidade. Com a tecnologia atual, que vai bastante bem, o Brasil pode dobrar ou triplicar sua produção. Durante os próximos dez anos, o Brasil está tão na frente que domina o mercado nos próximos dez anos”, avalia.

De acordo com Goldemberg, os 200 milhões em volume de etanol em 2020 seriam suficientes para substituir ainda 20% do 1 trilhão de litros da gasolina prevista para ser consumida no mundo por ano até 2020 e até 7% de todo o petróleo. “Um terço da energia do mundo é usada para transporte, principalmente em carros, e praticamente toda ela vem do petróleo”, destacou.
Mais pressão
Na opinião do ex-ministro, faltam políticas mandatórias para que o setor privado reduza as emissões de gás carbônico na atmosfera. Para o pesquisador, o setor automotivo brasileiro está “confortável” e poderia agir mais para melhorar a eficiência energética dos motores, se fosse mais cobrado pelo poder público.

“Falta mais pressão sobre a indústria automotiva, que de modo geral, tem vantagens grandes”, afirmou Goldemberg após sua apresentação no Ethanol Summit 2011.

Para Goldemberg, o caminho seria buscar modelos similares ao que foi adotado em São Paulo, onde a redução de 20% suas emissões de gás carbônico (CO2) até 2020 é prevista em lei.

Contrapartida

Como exemplo de postura mais rígida que poderia ter sido adotada pelo governo, o pesquisador citou a desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os automóveis realizada a partir do final de 2008 para conter os efeitos da crise e estimular as vendas. “O governo desperdiçou uma extraordinária oportunidade, devia ter exigido que a redução do IPI fosse acompanhada de uma melhoria de eficiência energética em contrapartida”, analisa ele, que destaca que a eficiência dos veículos brasileiros é bem menor se comparada com a de outros países, como os EUA.

Na opinião de Goldemberg, são os usineiros e pesquisadores que têm liderado o avanço do setor de combustíveis no país, e não as montadoras, que estão “confortáveis”, segundo ele. ”Os usineiros em SP foram os motores do desenvolvimento. Durante 30 anos, a produtividade do etanol de cana-de-açúcar cresceu 3% ao ano. Ninguém cresce tanto assim, a não ser bebês”, disse durante debate no evento.

Investimentos 'enormes'

De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, que participou de debate com Goldemberg, as montadoras dedicam investimentos “enormes” à melhoria da eficiência energética em avanços tecnológicos a serem aplicados já no curto prazo.

Na avaliação de Belini, a tecnologia atual atende às necessidades do mercado brasileiro no curto prazo. “Montadoras estão investindo muito na inovação e tecnologia para melhorar a eficiência de seus veículos”, afirmou Bellini, ao deixar o Ethanol Summit.

Segundo o presidente da Anfavea, há atualmente uma frota de 15 milhões de veículos flex fuel no Brasil, e a previsão é de que em 2017 o etanol responda por 31,4% da matriz de combustíveis brasileira, contra 12,8% da gasolina. Em 2008, a gasolina respondia por 25,6% e o etanol por 17,9%.
Fonte: G1
Disponível no(a):http://g1.globo.com/carros/

Nenhum comentário: