As marcas da China crescem, mas falta a peça fundamental para se estabelecer: um bom sistema de pós-venda
Effa M100 foi presente para a filha, mas irritou comerciante após só trazer problemas |
Sábio Henry Ford! A reflexão é básica: cliente satisfeito é cliente fiel. Se os chineses aprenderam? Ainda não. Para testar a eficiência dos serviços das marcas bastam alguns telefonemas. Faça você mesmo: ligue para as concessionárias e solicite um orçamento de peças. Só não espere retorno rápido – infelizmente, até as montadoras tradicionais ainda cometem essa falha. O mais grave problema dos chineses é outro tipo de espera. “Das peças que você me pediu, tenho apenas uma, o filtro de ar. As outras demoram de 30 a 60 dias”, disse uma funcionária da Chery, em São Paulo.
Esse é apenas um exemplo. Durante duas semanas, ligamos para mais de 20 concessionárias Chery, Effa e Lifan (priorizamos as que vendem carros de passeio), em diversos estados do país. Nossa meta era saber os preços e prazos de entrega de uma cesta básica de peças, com oito itens. Depois de esperar dias por retorno e ouvir incontáveis “pode retornar depois?”, “a fábrica ainda não me deu resposta” e “ih, todas as peças têm demora”, ficou difícil acreditar que ao menos essas empresas estão realmente preparadas para prestar serviços de qualidade.
César Garini vai devolver o carro ao banco: prefere perder dinheiro a seguir com o Effa M100. "É tudo de ruim" |
O preço convidativo do M100 (R$ 25.980) também atraiu a carioca Maria Renata França, 28 anos, que trocou seu Ford EcoSport pelo chinês em janeiro deste ano. “Eu tinha lido muitas opiniões horríveis, mas não tive problema algum, estou adorando.” O carro rodou apenas 3,2 mil km. Mas logo mais Renata pode enfrentar a inconveniência da falta de rede. “Só há uma oficina no Rio, em Irajá, e para agendar minha primeira revisão precisei aguardar por data.”
O Grupo Effa Motors, que importa veículos Effa e Lifan, tem um centro de distribuição de peças em Barueri, interior de São Paulo, que atende 73 concessionárias Effa e 20 da Lifan, recém-chegada ao país. A empresa diz trazer 20 mil peças por mês da China. “O índice de falta de estoque é menor que 0,1%”, garante Bruno Ferreira, diretor financeiro. Mas com uma simples busca na internet é possível encontrar inúmeras reclamações de consumidores. Como? “Aprendemos com nossos erros e buscamos melhorias.” Segundo o executivo, a empresa, que começou a importar Effa em 2007, iniciou uma ampla reformulação na distribuição de peças em 2010, o que inclui investimentos em tecnologia e transporte dos componentes, que agora não chegam apenas por navio, mas também por avião, dependendo da urgência dos pedidos. Ferreira garante ainda que, até abril, todas as revendas serão obrigadas a ter oficina própria e estoque de peças mínimo.
Problema atrás de problema: casos como o de Margarete, dona de um Chery Face, se multiplicam nas redes sociais |
Vontade de servir não apenas no momento de vender o carro. “O tratamento da concessionária mudou completamente quando começaram a aparecer os problemas”, conta a decoradora Margarete Munari, 43 anos. Em junho do ano passado, Margarete trocou seu Prisma por um Chery Face, de olho no custo-benefício. Em 15 dias, voltou à revenda com um “barulho terrível” no freio. Segundo os técnicos, “era algo normal”. Depois o sistema de ventilação pifou. Um dia, enquanto fazia uma curva em baixa velocidade, a direção travou e Margarete bateu o carro na guia. “Eles dizem que foi culpa minha”.
A Chery tem hoje 74 concessionárias com serviço de assistência técnica. Algumas peças foram nacionalizadas, como filtro de ar, velas e palhetas. Todos os meses, 11 contêineres de peças são trazidos da China. Mesmo assim, casos como os de Margarete se multiplicam nos sites de reclamações e redes sociais. “Nunca foi falta de peça. Tínhamos um problema interno, que foi corrigido com mudanças no departamento e tecnologia”, diz Curi.
Note que Chery e Effa usam os mesmos argumentos para justificar tantos problemas. Segundo Valdner Papa, professor do curso de Gestão de Concessionárias da ESPM, vivemos a terceira versão do mesmo filme. “Os japoneses chegaram sem qualidade e levaram dez ou 12 anos para se tornar um dos melhores do mercado. Os coreanos também, mas não levaram tanto tempo assim. O tempo dos chineses provavelmente será menor ainda”. Vamos torcer.
EM DOIS ANOS, O M100... |
- Apresentou problemas no câmbio, para-brisa, válvula termostática, amortecedores, maçaneta e cabeçote; - Ficou mais de cinco meses parado; - Valia R$ 22 mil, hoje é vendido por R$ 15 mil |
UM ANO DE CHERY FACE: |
- Em 15 dias, barulho no freio; - Depois o sistema de ventilação pifou, o para-brisa quebrou e a direção... travou! - Barulhos continuam, vidro do motorista não fecha |
A VOZ DO CONSUMIDOR |
- Casos de clientes insatisfeitos se espalharam pela internet. Basta fazer uma pesquisa rápida nos sites de reclamações e redes sociais. Os depoimentos assustam: tem gente até “doando” o carro por aí. - Alguns reclamam de baixa qualidade do produto, outros de falta de peças e demora na assistência técnica. Mas há algo que irrita qualquer um: a falta de retorno das marcas. Acordem, chineses! |
Fonte:revistaautoesporte
Disponível no(a):http://revistaautoesporte.globo.com/
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