6 de abr. de 2011
Café na cruz
A Curva do Café se tornou a Tamburello de Interlagos. Repulsa, apedrejamento moral, trauma, dor, foi este tipo de pensamento que mutilou o trecho de alta do autódromo de Ímola. O resultado, vocês sabem: chicanes e “esses” picotaram a pista, que se tornou monótona para muitas categorias – principalmente as mais velozes. Virou um autódromo desenhado por pais e mães de pilotos.
O atual presidente da CBA, Clayton Pinteiro, já tinha pedido à FIA em julho de 2009, para que uma chicane fosse construída no Café. Para o bem de quem gosta do automobilismo, sua solicitação não foi atendida. Tanto que ele mesmo mudou de idéia pouco tempo depois. E agora?
Em entrevista recente ao site Grande Prêmio, Pinteiro declarou novas palavras, que fazem mais sentido – porque ouviu os pilotos, como Luciano Burti e Cacá Bueno (nota: pra mim, a direção de federações de automobilismo deveria ser restrita a pilotos aposentados). Disse ele: “Na minha opinião, a solução é afastar aquela arquibancada para criar uma grande área de escape. Ou então fazer uma chicane antes, mas aí você acabaria com a graça do automobilismo, que é a competitividade. Eu tenho que conciliar competitividade com segurança, e acho que a área de escape pode resolver.”
Tire aquele “ou então…”, pelo amor de Deus.
Ele solicitou a visita de técnicos e inspetores da FIA – uma vez que alterações no circuito só podem ser feitas com o aval dos mesmos – e até que o novo projeto para o trecho se concretize, optou por uma decisão polêmica: enquanto houver carros próximos e/ou disputando posição, o local terá bandeira amarela permanente. Não acho que isso vá surtir algum efeito na prática – nenhum piloto irá aliviar o pé no Café, e quase nunca acontecem ultrapassagens por ali. Talvez na primeira volta?
Uma recomendação no briefing já resolveria este ponto – no caso, a bandeira amarela é para inglês (público e jornalistas) ver. Mas enfim.
O que se passa no Café?
O desafio do Café é que ele começa em uma subida, que suaviza exatamente no ponto de tangência. Isso, combinado ao fato de ser uma curva do tipo “flat out”, feita de pé embaixo, induz os carros de turismo a sair de frente. Quanto mais potência, pior este comportamento.
E os perigos? Sair do traçado é muro na certa, pois há muita sujeira fora da linha ideal. Foi o que aconteceu com Ricardo Malanga, piloto de um Puma da Força Livre, durante uma ultrapassagem. A consequência pode ser vista na foto acima. E sua topografia em cume, somada ao guard-rail do lado interno, resultam em visibilidade preventiva quase nula – você só vê quando já fu#@#, se é que vocês me entendem.
…mas o problema não está no Café…
Até o acidente de Rafael Sperafico, sua área de escape contava com uma barreira de pneus angulada, antes do muro – que jogou o carro de Sperafico de volta para a pista, em direção ao impacto fatal. No acidente deste domingo, já não havia mais a barreira de pneus , mas a mesma tragédia em T aconteceu: por quê?
Bem, o ângulo de saída do muro continua o mesmo, apesar de suavizado. Da forma que está, ele joga o carro de volta à pista, com muitas chances de colocá-lo no ângulo “perfeito” para um acidente na perpendicular.
A solução, aparentemente unânime entre os pilotos, seria uma área de escape asfaltada (hoje, ela é de grama) com alguns poucos metros a mais de recuo, que seguiria paralela à pista por uma distância maior. Entre ela e o traçado, apenas uma faixa pintada de separação. O muro, que já está refeito em soft wall, deveria seguir rente à pista – no caso de um impacto, as chances do carro ficar colado na parede seriam maiores, tais como os acidentes na Nascar e Indy.
Desta forma, um acidentado ficaria colado no muro, mas fora da área efetiva da pista. Esta proposta não livra a possibilidade de outro carro atingir o acidentado, mas diminui – muito – as chances de um impacto em T.
Sou terminantemente contra que se mexa no traçado. Interlagos já é uma pista carente de curvas de alta. Duvida? Vamos lá: a Curva do Sol começa lenta, os carros desenvolvem velocidade ao longo dela. O Laranjinha é desafiador, mas é de média. O Mergulho é sensacional, mas é antecedido pela curva mais lenta do autódromo – o Bico de Pato. O que resta? O Café.
Interlagos só possui estes dois belos pontos de ultrapassagem – a freada para o S do Senna e para a Curva do Lago – porque a velocidade de aproximação é alta. Coloque uma chicane na saída da Curva do Sol, e acabe com as ultrapassagens no fim da reta oposta. Faça o mesmo na saída da Junção, e reduza bastante as chances de disputa ao final da reta dos boxes.
Fica o meu apelo. Façam alguma coisa no Café. Mas não matem Interlagos.
Fonte: jalopnik.com.br
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br
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