17 de fev. de 2011

Teste: Chevrolet Cruze para recuperar o prestígio

Teste: Chevrolet Cruze para recuperar o prestígio
Modelo quer resgatar os "bons tempos" quando a montadora dava as cartas entre os sedãs

por Eduardo Rocha
 
Houve um tempo em que a Chevrolet do Brasil dava as cartas em todas as faixas do mercado em relação aos sedãs. Mas a concorrência foi ficando cada vez mais feroz e a marca literalmente se apequenou. Ou seja, passou a dominar apenas os segmentos de carros compactos e perdeu a hegemonia entre os modelos médios e grandes. Nos últimos meses, no entanto, a General Motors decidiu retomar a briga. Trouxe o Malibu e o novo Omega para os segmentos superiores e prepara a chegada de seu modelo mais internacional. O Chevrolet Cruze pode ser visto circulando em todas as partes do mundo. Está na China, na Europa, no Oriente Médio e até nos Estados Unidos, onde é considerado compacto. No Brasil, o modelo deve estrear ainda este ano e marca o início de uma grande renovação na gama da marca.

A função do Cruze é clara: enfrentar os também internacionais Honda Civic e Toyota Corolla. O modelo da Chevrolet, lançado em 2008, é produzido em nada menos que seis países: Casaquistão, China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Tailândia. Em outros dois é vendido com outras marcas: na Austrália como Holden Cruze e na Coreia do Sul como Daewoo Lacetti Première. Por ser um modelo verdadeiramente planetário, como os rivais, a General Motors pôde apostar um pouco mais alto na hora de projetar uma plataforma moderna em termos de engenharia e versátil na linha de produção. Esta mesma plataforma é utilizada para o Chevrolet Volt e também para o monovolume Orlando – cotado para substituir as minivans Meriva e Zafira no Brasil no ano que vem.



    Por ter essa característica multinacional, as linhas externas do modelo evitam os exageros. Buscam um equilíbrio entre sobriedade e modernidade para não desagradar em canto nenhum. O perfil é dominado pelo teto em arco perfeito. A linha de cintura reta, paralela ao chão, cria volumes planos à frente e atrás e dá ao conjunto um grande equilíbrio. A frente traz a identidade de marca internacional da Chevrolet, com a grade bipartida horizontalmente, tem uma dose bem medida entre a agressividade e o desenho clássico. Já a traseira é dominada pelas lanternas horizontais, que engordam nas extremidades externas.

    Com a chegada do Cruze ao Brasil, a GM deve interromper a produção do Astra e trazer o Vectra para a base do mercado de médios. O novo sedã, nesse caso, entraria na briga direta com os japoneses e com Peugeot 408, Citroën C4 Pallas e Ford Focus de topo. O Vectra ficaria na briga com Renault Fluence, Nissan Sentra e ainda atacaria os sedãs compactos mais completos e caros, como Honda City, Fiat Linea, Ford New Fiesta e Volkswagen Polo. Em um segundo momento, em 2012, esta mesma plataforma seria utilizada na nova minivan da marca, Orlando, que deve ter versões de cinco e de sete lugares.



Ponto a ponto


Desempenho – Com um bom motor turbodiesel sob o capô, o Cruze mostrou muita força em todas as faixas de giros. O turbo entra logo cedo e os 39 kgfm de torque máximo já estão totalmente disponíveis aos 2 mil giros. E como são seis marchas para escalonar o trabalho, o motor está sempre cheio de vigor. Daí o zero a 100 km/h em 9,4 segundos. Essas características fazem Cruze funcionar bem tanto no trânsito urbano quanto no rodoviário. Mas como é normal em propulsores diesel, o ímpeto cai bastante em velocidades mais elevadas. A máxima fica em 209 km/h, o que, a rigor, já extrapolar as possibilidades das vigiadas "autoroutes" francesas. Nota 8.

Estabilidade – O Cruze tem o centro de gravidade baixo, o que ajuda a deixar o carro muito bem equilibrado. O conjunto suspensivo – McPherson e multilink à frente e atrás – é bastante eficiente e vem se tornando o preferido no segmento. Nas curvas, o sedã médio da Chevrolet suporta um bom nível de aceleração lateral até ceder à rolagem. Nas retas, em velocidades dentro da lei – até 130, 140 km/h – não há flutuação alguma. Nota 8.

Interatividade – Até por influência da Opel, braço europeu da General Motors, o modelo da Chevrolet segue a cartilha alemã para posicionamento dos comandos. Os controles de vidros e espelhos ficam na porta, enquanto o comutador de luzes está instalado à esquerda do volante – em um carro francês, seria na haste do pisca. Som, ar-condicionado e navegação têm os comandos no console central. Tudo estritamente no lugar. O GPS, porém, não tem uma operação intuitiva e acaba tirando demais a atenção do motorista. O volante multifuncional poderia ser mais efetivo: tem apenas ajuste do sistema de som e do controle de cruzeiro. Nota 7.

Consumo – A média de 11,3 km/l de diesel é apenas razoável para um modelo que é até peso leve no segmento. E fica bem distante da média prometida de 15 km/l. Nota 6.

Conforto – A suspensão tem pequeno curso e não filtra muito bem as irregularidades do piso. Por outro lado, o isolamento acústico é razoável e os bancos são firmes e confortáveis. Nota 7.

Tecnologia – A equação que a Chevrolet faz com o Cruze não permite um grande embarque de tecnologia. Mas o sedã médio oferece o que o segmento efetivamente consome. Os sistemas de segurança, como ABS, oito airbags, controle de tração, de estabilidade, são de série. Já boa parte dos equipamentos de conforto são opcionais na versão LS e de série na LT testada. Nota 8.

Habitabilidade – O acesso é dificultado pela pequena altura do carro. Como, além disso, o teto em parábola tem um caimento muito intenso, o banco traseiro teve de ser afundado para que um adulto ali sentado não raspasse com a cabeça no teto. De qualquer maneira, o espaço é bom para quatro adultos. O porta-malas, de 450 litros, é bastante aproveitável mas no habitáculo faltam porta-trecos. Nota 7.

Acabamento –
É o ponto fraco do Cruze. Os plásticos no interior são duros e desagradáveis ao toque – acabamento "soft-touch" é uma exigência neste segmento. Nas partes em forração, usou-se um tecido grosso, extremamente áspero. Os muitos detalhes em pintura metalizada também não ajudam a dar uma imagem de requinte ao modelo. Para vingar no Brasil será preciso dar um capricho maior nos materiais e no acabamento. Nota 5.

Design – O Cruze é o carro mundial da Chevrolet e, como tal, não pode ser ousado ou conservador demais, pois tem de agradar tanto no mercado norte-americano quanto no chinês, brasileiro e francês. Com linhas bem harmoniosas e geometricamente bem-traçadas, o Cruze pode não encantar, mas também não vai espantar a freguesia. Nota 7.

Custo/Benefício –
Na Europa, a versão top LT com a motorização TD 2.0 começa em 22.700 euros – cerca de R$ 52 mil –, valor bem razoável para o nível de equipamento com que o Cruze é entregue. O modelo testado, que possuía ainda navegador e pintura metálica, chega a 23.895 euros – R$ 55 mil. Com teto solar e acabamento em couro, chega a 25.715 euros, ou R$ 59 mil. Não é exatamente um automóvel barato. Nota 6.

Total – O Chevrolet Cruze somou 69 pontos em 100 possíveis.






Impressões ao dirigir

Projeção pela base


Paris/França – A primeira impressão que se tem do Cruze não é a melhor possível. O tecido que reveste os bancos e as partes "moles" do acabamento interior, uma espécie de linhão, é grosseiro ao toque e à visão. Até o cheiro é desagradável. Os outros materiais que compõem o acabamento também não ajudam, com peças em uma pintura metalizada altamente reflexiva e plásticos pretos duros e ásperos.

    O lado bom do Cruze aparece na parte de pura engenharia, quando é posto em movimento. A versão em questão tem um motor 2.0 turbodiesel de 163 cv. Ele se porta de forma semelhante a um propulsor a gasolina, mas com um melhor torque em baixa e com ganho de velocidade mais lento. Independentemente do poder de aceleração, o comportamento dinâmico do Cruze chama atenção pelo equilíbrio. A carga bem dosada do conjunto suspensivo dianteiro faz com que o Cruze não embique nem empine em freadas e arrancadas. E a suspensão traseira multilink responde muito bem nas curvas e retarda ao máximo a rolagem lateral.

    No interior, nada de trepidações ou ruídos aerodinâmicos. Mas a vida a bordo no Cruze não é muito generosa com os ocupantes. O espaço só é amplo para os passageiros da frente. Os de trás ficam em um banco afundado e com o teto próximo às cabeças. Esse foi o preço para manter no design a parábola perfeita da primeira à última coluna. Os bancos não são muito macios, mas seguram bem o corpo e permitem uma postura mais relaxada. Apesar da localização dos comandos básicos facilitar a vida, já que estão nos lugares tradicionais, os comandos do GPS não têm nada de intuitivo. É preciso um certo tempo até achar a rota para os comandos do aparelho.

    No fim das contas, o Cruze de mostrou um carro com um ótimo compromisso dinâmico e com um belo design, mas que peca na parte de acabamento e de escolha de materiais. Uma coisa simples de alterar no processo de abrasileiramento do modelo. Hoje é preciso enxergar através dos materiais para ver um concorrente à altura dos sedãs médios da Honda, Toyota, Ford ou Citroën.













Fonte: motordream
Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br

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