Existem amigos que a gente encontra esporadicamente, mas o sentimento é de que nunca deixamos de estar juntos. E outros com quem a gente convive regularmente, mas é como se estivéssemos cada vez mais distantes. É melhor falar do primeiro caso e passar por cima do segundo. Um exemplo é o Carlo Gancia, amigo de muitos anos e com quem aprendi muito de automobilismo. Ele mora fora do Brasil há 30 anos, nos encontramos de vez em quando, mas estamos sempre trocando e-mails e as mensagens dele, além de muito divertidas, trazem um conteúdo jornalístico da melhor qualidade.
Através do Carlo e também de um grande amigo que temos em comum – o Chico Rosa – eu colori esta minha carreira profissional com algumas revelações em primeira mão na imprensa brasileira. Por exemplo, anunciando a estréia de Piquet na Fórmula-1 em 1978 ou os Fittipaldi comprando a Wolf em 1979 e por aí afora. Na boa, não dá pra citar dez por cento, tantas foram essas informações tiradas do mais íntimo dos bastidores da F1. Tanto o Carlo como o Chico já viviam a F1 de perto na época da estréia de Emerson.
Carlo Villarino Gancia vem de uma família produtora de vinhos na Itália desde 1850. Além dos vinhos, a outra paixão da família, são os carros de corrida. O pai dele, Piero Gancia, foi um dos pioneiros do automobilismo brasileiro, inicialmente como piloto defendendo a marca Alfa Romeo em companhia do amigo Emilio Zambello, também um ídolo com quem tenho o prazer de conviver. Mas a paixão dos Gancia pela velocidade foi além. Lula Gancia, a mãe de Carlo, também disputou corridas. Aliás, o Brasil tinha duas mulheres na pista – Lula e a pioneira Graziela Fernandes. Piero Gancia foi ainda fundador da Confederação Brasileira de Automobilismo, que está completando 50 anos. Piero morreu no ano passado às vésperas do GP do Brasil, que ele havia trazido de volta para Interlagos durante sua gestão como presidente da CBA.
Entre as histórias que dividi com o Carlo, na década de 80, quando eu fazia o “Sinal Verde” na TV Globo, fomos à casa de um tio dele em Milão, que é simplesmente um dos maiores colecionadores de miniaturas de automóveis do mundo. Gravei um programa mostrando as mais de mil miniaturas de sua coleção. Um dia ainda quero apresentá-lo ao Fausto Silva, outro que tem uma bela coleção. Pós-graduado em economia na California, Carlo atuou como executivo de bancos na Arábia Saudita, Luxemburgo e Mônaco, mas nunca se distanciou do automobilismo. Em 93 associou-se ao italiano Guido Forti na Fórmula-3000 e os dois foram parar na F1 com a equipe Forti Corse, estreando em 95. É daí que vem a história mais recente – e inédita – que ele me contou por email esta semana.
No momento em que se discute quem tem o direito do nome Lotus, o Carlo me conta que no final de 94, às vésperas de lançar o carro da Forti Corse, Bernie Ecclestone lhe disse que era possível conseguir o nome Team Lotus se quisesse. Meio desconfiado daquela afirmação, mas sonhando com a possibilidade de conseguir o nome que tinha sido um ícone de sua geração e botando fé no nível de informação privilegiada de seu amigo Ecclestone, ele foi até Tony Rudd, consultor da família Chapman e ouviu que havia muita gente reivindicando o direito, principalmente David Hunt, irmão mais novo do ex-campeão mundial James Hunt. O passo seguinte foi procurar David e pedir preço. A resposta foi curta e grossa – 34 milhões de dólares, nem um centavo menos. Não deu negócio. Isso era mais do que o dobro do orçamento da equipe para todo o campeonato de 95. Ao relatar a Ecclestone como tinha sido o encontro, Carlo ouviu alguns palavrões dirigidos ao jovem Hunt, de quem nunca mais se ouviu falar.
É triste ver o nome Lotus envolvido em disputas tão ou mais enroladas como a de 17 anos atrás. E numa época em que boa parte do público não tem conhecimento do que Team Lotus e Colin Chapman representaram na historia do esporte a motor.
Fonte:sinalverde
Disponível em:http://globoesporte.globo.com/platb/sinalverde/2011/01/13/o-icone-lotus/
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