16 de jan. de 2011

Davi e Golias

Líder quase invencível do segmento, o Toyota Corolla enfrenta aqui o novo e ainda desconhecido Lifan 620. Confira como o sedã chinês se sai neste difícil desafio



Toyota Corolla e Lifan 620. O primeiro, japonês, já é comercializado no Brasil desde 1993 e fabricado no interior de São Paulo há 12 anos. Lidera o segmento de sedãs médios com cerca de 4.400 unidades vendidas todo mês (4.710 no fechamento de outubro). O segundo, chinês, desembarcou no Brasil em meados deste ano, é produzido no Uruguai e, até agora, vendeu apenas 150 unidades desde seu lançamento no País. O Toyota custa a partir de R$ 62.110 (versão XLi, básica - a GLi, intermediária, avaliada e fotografada aqui, parte de R$ 65.950), enquanto o Lifan é vendido em uma versão única de acabamento, por R$ 39.980.
A comparação entre dois carros com currículos e preços tão diferentes começa a fazer sentido quando se analisa o porte quase idêntico dos carros. São praticamente os mesmos 4,50 m de comprimento, 2,60 m de entre-eixos, 1,50 m de altura e 1,70 m de largura. Por dentro, cinco ocupantes têm espaço para viajar ade- EMISSÃO DE CO2 n/d g/km SEM DADOS LIFAN 620 SUGERIDO R$ 39.980 quadamente e suas bagagens vão acomodadas em porta-malas de 470 litros (Toyota) e 650 litros (Lifan). Quando o assunto é aproveitamento de espaço, ponto para o novato. Na lista de itens de série, novamente o chinês leva vantagem. Ambos têm o básico: airbag duplo, ar-condicionado, volante com assistência, trio elétrico e CD player com USB. Mas somente o Lifan traz ABS com EBD, acendimento automático dos faróis e sensor de estacionamento, entre outros itens que aparecem somente nas versões mais caras do Toyota, a partir da GLi avaliada (leia a tabela de equipamentos). Até agora, dois a zero para o chinês.

As linhas de design do Lifan 620 estão um pouco ultrapassadas
No interior, o sedã chinês tem detalhes que imitam madeira, como nos Corolla mais caros. O volante vem com comandos do rádio e do computador de bordo
O painel de instrumentos tem boa leitura e marcadores de temperatura e de nível de combustível são digitais


E o sedã baratinho continua surpreendendo. No habitáculo, o acabamento é bom. O painel é simples, mas o plástico emborrachado na metade superior, o plástico inferior e o revestimento das áreas de contato dos braços são bem semelhantes aos do Corolla. O detalhe plástico que imita madeira é até mais bonito que o usado pelo sedã japonês - apenas em suas versões top de linha.
Quando se analisam os custos indiretos da aquisição do carro, a situação do 620 piora. O preço do seguro do modelo, por exemplo, cotado na Porto Seguro, é bem mais alto. Enquanto o dono de um Corolla gasta anualmente cerca de 2,9% do valor do carro com a apólice, o do 620 gasta quase o dobro disso: 5,2%. O mesmo acontece com o programa de manutenções. A Toyota exige três visitas à concessionária até os 30 mil quilômetros, com um custo aproximado de R$ 928. Já a Lifan obriga o cliente a voltar à revenda quatro vezes dentro da mesma quilometragem (a primeira já aos 2.500 km), cobrando algo em torno de R$ 1.600. Ou seja, o custo por quilômetro rodado do chinês é cerca de 55% maior. Sem contar que o fato de não ser ex pode piorar ainda mais a vida do chinês em regiões nas quais o etanol representa uma economia considerável em abastecimentos. Enquanto isso, o preço das peças garante um certo alento: elas não são tão salgadas como se poderia imaginar. Um retrovisor custa R$ 185 e um jogo de pastilha de freios ca em torno de R$ 67. Claro que, mesmo com todos esses custos altos, o menor preço do Lifan na hora da compra continua atrativo.
Mas, na hora do test-drive... a superioridade do Corolla torna-se indiscutível. Seu motor 1.8 VVT-i de 136 cv deixa o 1.6 de 106 cv do Lifan comendo poeira. Seja na cidade, seja na estrada, o Toyota é sempre superior, principalmente na versão manual. Apesar de mais pesado, tem relação peso/potência mais favorável e uma aerodinâmica invejável. O torque máximo de 17,5 kgfm garante retomadas tranquilas e o rodar é bastante honesto. Seu desempenho não arranca suspiros, issoé verdade, mas, ainda assim, é bem superior ao do Lifan 620, que tem baixos torque e potência especí cos e retoma com lentidão. Em trechos urbanos, até que o chinês vai bem. Os engates das marchas são justos e o escalonamento é razoável, mas, na hora de pegar estrada, é preciso deixar o motor girar alto e aí o ruído e a vibração incomodam.
Nas fotos, a versão com câmbio automático. Neste caso, o desempenho piora (são só quatro marchas, sem trocas sequenciais) e o valor passa dos R$ 70 mil
No Corolla, a iluminação dos instrumentos é mais e ciente apenas o hodômetro e o relógio não são analógicos

O Toyota tem design conservador, embora mais atual que o do rival

Construtivamente, as suspensões têm as mesmas características....


No comportamento dinâmico, o Lifan também perde para o Toyota. Construtivamente, as suspensões são semelhantes, MacPherson na dianteira e semi-independentes com eixo de torção atrás. Mas o acerto do Corolla é melhor. Aliás, o acerto do Corolla está entre os melhores da categoria. É até covardia! Na cidade, o Lifan é confortável, mas na estrada aderna mais que o desejado nas curvas e mostra uma certa instabilidade traseira. Pneus maiores certamente ajudariam nesse quesito. Seus freios a disco nas quatro rodas são e cientes, como os do Corolla, mas, na unidade avaliada, não tinham modularidade adequada.
A conclusão é óbvia. O 620 precisa evoluir muito para ser uma opção ao Corolla. Não dá para imaginar um consumidor do Toyota trocando-o por esse Lifan. Os representantes da marca sabem disso e não têm mesmo essa pretensão. Mas, pelo que custa, o sedã está longe de ser desprezível. Quem compra, por exemplo, um Fiat Siena Fire 1.0 com ar-condicionado e direção hidráulica (cerca de R$ 35 mil) ou um Prisma 1.4 (em torno dos R$ 36 mil) pode ter no Lifan uma alternativa bem mais completa, espaçosa e até mais segura para sua família (considerando que ele vem com airbag, ABS e freios a disco nas quatro rodas), por um valor apenas um pouco superior. Nesse caso, vale fazer uma visita a uma concessionária da Lifan para realizar um test-drive antes de fechar negócio com o concorrente japonês.
...assim como os freios, a disco nas quatro rodas nos dois sedãs



No Lifan, são apenas dois apoios de cabeça traseiros. O espaço é praticamente igual ao de seu rival
No Corolla, o espaço no banco traseiro é bom e o passageiro do meio tem apoio de cabeça do tipo vírgula


Fonte: motorshow.
Disponível em:http://motorshow.terra.com.br/

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