As equipes da IZOD IndyCar Series seguem insatisfeitas com a vida. Desta vez, a fúria se concentra sobre a Dallara, a fornecedora única de chassis da categoria. O jornalista Robin Miller, comentarista da categoria para o Speed americano, escreveu um artigo que tratava da rinha de galo entre os donos de equipes, a Dallara e a categoria com relação aos custos elevadíssimos envolvendo a compra de peças sobressalentes para o chassi DW12.
Recentemente, os dirigentes das escuderias se reuniram para discutir sobre futebol, mulheres, Big Brother Brasil e o que poderia ser feito para reduzir os gastos com as peças do DW12. O consenso é que a IndyCar Series não estaria se esforçando muito para tornar os equipamentos tão baratos – vale lembrar que os organizadores previam que um DW12 novinho em folha custaria algo em torno de 349 mil dólares, mas a realidade alcançou cifras 150 mil dólares maiores. As peças, obviamente, seguem a mesma tendência. Logo, se as equipes quisessem custos menores, elas mesmas teriam de arregaçar as mangas e fazer pressão aqui e acolá.
Durante o final de semana da etapa de Iowa, alguns donos de equipe foram à organização e exigiram uma redução de custos da ordem de 40% em relação a várias peças importantes, como suspensões e partes aerodinâmicas. A Indy aceitou conversar e telefonou para os italianos gorduchos e emotivos da Dallara para ver o que seria possível fazer. A resposta: 40% é muita coisa. Oferecemos algo entre 10% e 20%, o que acham?
Os donos de equipe recusaram. Quarenta por cento ou morte! Então, quem entrou no meio para tentar negociar foi ninguém menos que Brian Barnhart, ex-diretor de corridas da Indy e maior inimigo de Hélio Castroneves. Barnhart, que começou a se relacionar bem com os donos de equipe a partir daquela crise entre Randy Bernard e John Barnes, assumiu a tarefa de negociador e voltou a conversar com a Dallara, desta vez com um pouco mais de ternura e suavidade. Diz Barnhart que já conseguiu algo bem próximo de 40%. Ainda assim, Hélio Castroneves continua o odiando.
Em uma coluna há algumas semanas, critiquei duramente as equipes por instabilizarem uma categoria que sempre lhes deu muito espaço para palpitar, ou ao menos um espaço bem maior do que na Fórmula 1. Dessa vez, contudo, não há como discordar delas. Afinal de contas, são os chefões que estão custeando tudo. E alguns desses chefões nem são tão “ões” assim: perguntem para Dale Coyne, Sarah Fisher ou Bobby Rahal o que o atual patamar de custos significa para seus orçamentos.
Um dos grandes motivos de reclamação é monetário. Algumas peças importantes do DW12 são fabricadas na Itália, mais precisamente na comuna de Varano de’ Melegari. Os custos de produção são de tantos euros por peça. Euros. Na cotação de hoje, 2 de junho, o euro está valendo 1,26 dólar. Você não precisa ser um expert em economia para entender que um dólar desvalorizado em relação ao euro é prejudicial ao importador, que acaba tendo de gastar mais para adquirir algo produzido na União Europeia. E olha que a situação já foi pior. As recentes emissões de títulos por parte da EU derrubaram a cotação do euro, que chegou a estar em 1,48 dólar há exatos 12 meses.
Quando os donos começaram a receber seus DW12, em dezembro do ano passado, o euro estava custando algo em torno de 1,30 dólar. O patamar se manteve o mesmo nos primeiros meses de 2012, exatamente o período em que foram feitos os primeiros testes coletivos da Indy na temporada. Você pode até achar que os donos de equipe estão reclamando de barriga cheia, pois os brasileiros são obrigados a importar dos EUA pagando dois reais por dólar. Pois saiba que, há exatos dez anos, o euro custava 0,94 dólar, 38,3% menos que o patamar atual. A culpa é do governo americano, que cansou de emitir moeda de lá para cá, especialmente após a crise de 2008. Mas chega de falar de economia monetária. Em poucas palavras, comprar peças italianas está caro pra chuchu e as equipes estão reclamando.
Uma solução que vem sendo discutida por trás das cortinas é o uso de peças que não sejam produzidas pela Dallara. Elas poderiam ser terceirizadas, roubadas ou simplesmente fabricadas nas garagens das equipes. Vale lembrar que o chassi anterior, que vigorou na Indy entre 2003 e 2011, era customizável em várias partes. As equipes maiores costumavam produzir suas próprias peças e acabavam economizando uma bolada. Infelizmente, isso ainda não é possível com o DW12: o regulamento atual diz que é proibido utilizar peças que não sejam originais. Logo, apenas a Dallara pode vendê-las. E ela acaba praticando o preço que quiser.
Os donos de equipe até aceitariam comprar peças apenas da fabricante italiana, mas exigem a tal redução de 40% nos custos. Vamos ver até onde isso vai. É bom lembrar, no entanto, que as equipes que estão choramingando são as mesmas que vetaram o uso dos kits aerodinâmicos terceirizados para 2013.
Você, que acompanha a categoria, deve saber do que estou falando. Uma das propostas do projeto ICONIC, que pautou a criação do novo carro da categoria, era permitir que as equipes tivessem total liberdade para escolher as partes aerodinâmicas que seriam instaladas em seus DW12. Lotus e Chevrolet, as duas novas fornecedoras de motores, chegaram a anunciar que também produziriam seus kits. Até mesmo a Swift velha de guerra, que fornecia chassis há uns quinze anos, considerou a possibilidade. Por 75 mil dólares, uma equipe poderia descolar asas, sidepods e cobertura de motor para seu reluzente carro. A ideia era ótima, portanto.
Só que, até aqui, não foi para frente. A implantação dos kits já havia sido adiada para 2013, mas os chefes de equipe se uniram e anunciaram no início de junho que também não fariam nada no ano que vem. O sonho dos aerokits ficou para 2014, se é que ele será realizado. Muita gente de fora do paddock reclamou, mas há uma boa lógica nisso aí.
As equipes temem que os kits aerodinâmicos tornem os custos ainda maiores. Parece contraditório, já que a livre concorrência sempre rebaixa os preços, mas todos sabemos que não há livre concorrência no automobilismo contemporâneo. Todo mundo ficaria refém de duas ou três marcas que teriam poder de mercado e não produziriam o suficiente para manter preços competitivos. Nesse caso, é melhor manter o monopólio da Dallara, que produzirá em escala maior e poderá reduzir as cifras nos próximos anos. Se tudo estiver muito caro, será mais fácil reclamar diretamente com os bambambãs da Indy. Ainda assim, para mim, é uma situação chata pra caramba.
Sou um liberal. Por mim, a Indy deixaria entrar quem quisesse: Dallara, Lola, Swift, BAT, Delta Wing, Reynard, March, Ralt, Berta, Eurobrun, Gurgel e toda a caterva. E as equipes que se virassem para encontrar um chassi mais barato ou mais eficiente. Fico incomodado quando vejo o quão limitadas as equipes de automobilismo – não só na Indy – estão atualmente. Não podem desenvolver coisa assim e assado, não podem ter carro reserva, devem ter um número X de funcionários, podem ter apenas um motorhome marrom ou azul, não pode funcionar nos sábados ímpares e nem sequer podem distribuir sacolinhas de plástico. Quem define tudo isso? Um burocrata, que entende mais de súmulas e negociatas do que de corridas.
Fonte: Tazio
Disponível no(a): http://tazio.uol.com.br
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