Foto: Getty Images
Esqueça o estereótipo do italiano típico, que fala alto e muito, gesticula bastante, é extrovertido e apaixonado por futebol - Jarno Trulli é diferente. Com um tom comedido de voz e respostas curtas e diretas, o piloto se mostra muito sereno em entrevista exclusiva concedida nesta quinta-feira ao Terra no autódromo de Interlagos.
Embora lamente, Trulli pouco muda a expressão até quando fala sobre o doloroso abandono da Toyota na Fórmula 1, que atrapalhou os planos "de muitos anos" do piloto que em 2009, a bordo do último carro dos japoneses utilizado na categoria, completou uma das melhores temporadas de sua carreira.
Atualmente na Team Lotus, o experiente corredor precisou começar de novo um trabalho praticamente do zero. Ainda motivado, espera brigar por pontos na próxima temporada enquanto projeta correr "por muito tempo", mas provavelmente passando a uma outra categoria - com 255 corridas disputadas, ele igualará no Grande Prêmio do Brasil a marca do ex-recordista de participações na F1, seu compatriota Riccardo Patrese, mas descarta buscar o número de 325 ostentado por Rubens Barrichello.
Quando fala sobre o brasileiro, Trulli se solta e dá risadas, mas logo volta à seriedade. Ele não fica super empolgado nem ao comentar a produção de vinhos que mantém em Abruzzo, região famosa mundialmente pela bebida. A explicação para boa parte de seu comportamento vem a seguir, e ao ser questionado por seu time de futebol de coração responde: "não (tenho), eu... não sou um italiano...". Jarno Trulli é diferente.
Confira a íntegra da entrevista:
Terra - Qual avaliação você faz da temporada da Team Lotus?
Jarno Trulli - É verdade que inicialmente esperávamos fazer um campeonato melhor, mas talvez as nossas expectativas estivessem exageradas para uma equipe que tem só dois anos. Certamente somos os melhores dos novos times, e o objetivo é entrar naquela faixa do grupo do centro e poder começar a brigar pelos pontos (o melhor resultado de Trulli na Lotus foi o 13º lugar nos GPs do Japão de 2010 e de Austrália e Mônaco de 2011)
Terra - Você tem 37 anos e 255 Grandes Prêmios disputados na F1. Como faz para permanecer tanto tempo correndo?
Trulli - (Faz cara de espanto com o número citado). Se você ama este esporte pode fazer isso, é necessário sempre amar aquilo que faz. Eu me encontro bem, tive tantos anos bonitos na F1, então gosto do que faço, sou um afortunado, faço uma coisa da qual gosto.
Terra - Agora a média de idade da F1 está crescendo. Rubens Barrichello tem 39 anos e espera correr em 2012; Michael Schumacher, 42, voltou; Pedro de La Rosa, 40, assinou com a Hispania para a próxima temporada. O que você pensa sobre isso?
Trulli - Não acho que a média de idade tenha aumentado, porque há também muitos jovens que entraram. O fato é que a F1 mudou muito nos últimos dois anos, não há mais construtores (desde 2008 Toyota, Honda, BMW e Renault deixaram de ter uma equipe na categoria, restando apenas Ferrari e Mercedes entre as montadoras), há outras necessidades, é difícil explicar. Há ainda pilotos da nossa experiência porque eles provavelmente ajudam determinadas equipes em determinadas circunstâncias. Outras equipes, por outro lado, podem contar com uma maior experiência de seus outros funcionários e então podem escolher os pilotos mais jovens.
Terra - Como você se sente aos 37 anos? Em outros esportes seria uma idade de aposentadoria, não? Muita gente diz que um jogador de futebol deve se aposentar nessa idade. No tênis, a toda hora perguntam a Roger Federer, 30, quando ele vai se aposentar.
Trulli - Porém Federer venceu ontem contra um dos melhores do mundo (refere-se à vitória de terça-feira de Federer sobre Rafael Nadal no ATP Finals de Londres), então quer dizer... Há esportes muito físicos em que a idade infelizmente tem um grande impacto sobre o resultado. A F1 não é um esporte muito físico, a verdade é que o que conta em primeiro lugar é o carro. É preciso estar em forma fisicamente, se preparar? Sim, mas não é um esporte como o ciclismo, o atletismo - é diferente.
Terra - Você pensa em correr por quanto tempo ainda?
Trulli - (Pensa um pouco e fica três segundos sem falar) Correr penso ainda em fazer por muito tempo porque eu gosto. Na Fórmula 1 não sei, é difícil, isso é uma coisa que se verá ano a ano (Trulli tem contrato com a Lotus até 2012).
Terra - Fiz as contas e vi que você tem 70 Grandes Prêmios a menos que Rubens Barrichello (Trulli interrompe e já imagina qual será a questão, dizendo "ah não"). Pensa em bater o recorde do brasileiro?
Trulli - Acho que será difícil para qualquer um bater o recorde de Rubens com as suas presenças na F1. Ele tem seguramente uma grande carreira.
Terra - Setenta Grandes Prêmios são três temporadas e meia. Se Rubinho se aposentar neste ano...
Trulli - (Ri em voz alta) Será difícil batê-lo.
Terra - Falando sobre sua passagem pela Toyota, você começou muito bem a temporada de 2009, com dois terceiros lugares nas quatro primeiras corridas, então a equipe começou a parar de desenvolver o carro dizendo pensar no desenvolvimento do veículo de 2010 e depois...
Trulli - É... depois parou completamente. (Trulli cita a saída da montadora japonesa da F1, anunciada em 4 de novembro, apenas três dias após a última corrida do calendário, em Abu Dhabi).
Terra - Se fala muito que aquele carro, o TF1010, era muito bom e poderia quem sabe brigar por vitórias. É isso mesmo?
Trulli - Falar é fácil, a verdade se olha sempre no circuito. Infelizmente aquele carro nunca entrou em uma pista e então não podemos avaliá-lo. Não sei, seguramente o veículo de 2009 era bom. Sobre a base do de 2009 construíram o de 2010 que no entanto não foi nunca usado.
Terra - Naquele momento você já tinha assinado um contrato para 2010 com a Toyota, uma escuderia que gastava muito dinheiro e vinha em ascensão. A notícia oi uma decepção muito grande?
Trulli - Sim, eu tinha investido muito naquela escuderia, tinha feito tanta coisa nos anos anteriores (estava lá desde 2004), tinha ajudado a desenvolver, dado tantas indicações... Finalmente tínhamos chegado a um carro bom, a um belo time, competitivo, e infelizmente tudo foi embora em pouco tempo.
Terra - Antes do anúncio do fim da escuderia já existiam muitas especulações nesse sentido, mas os japoneses sempre negavam. Você foi surpreendido? Quando você ficou sabendo sobre a realidade?
Trulli - Eu sabia o que estava acontecendo. Conhecia já mais ou menos o destino do time.
Terra - Ouvi dizer que você produz vinho. Onde?
Trulli - Sim, produzo vinho em Abruzzo, terra onde nasci (Trulli é natural de Pescara, cidade de aproximadamente 115 mil habitantes localizada na região de Abruzzo, no centro da Itália). Fazemos Montepulciano d'Abruzzo vermelho, Trebbiano d'Abruzzo branco, Cerasuolo, todos os vinhos da minha região.
Terra - E você os vende também?
Trulli - Sim, também aqui no Brasil.
Terra - Mas o dinheiro você ganha aqui na F1, não?
Trulli - É, bem (ri). O vinho é só uma paixão de família.
Embora lamente, Trulli pouco muda a expressão até quando fala sobre o doloroso abandono da Toyota na Fórmula 1, que atrapalhou os planos "de muitos anos" do piloto que em 2009, a bordo do último carro dos japoneses utilizado na categoria, completou uma das melhores temporadas de sua carreira.
Atualmente na Team Lotus, o experiente corredor precisou começar de novo um trabalho praticamente do zero. Ainda motivado, espera brigar por pontos na próxima temporada enquanto projeta correr "por muito tempo", mas provavelmente passando a uma outra categoria - com 255 corridas disputadas, ele igualará no Grande Prêmio do Brasil a marca do ex-recordista de participações na F1, seu compatriota Riccardo Patrese, mas descarta buscar o número de 325 ostentado por Rubens Barrichello.
Quando fala sobre o brasileiro, Trulli se solta e dá risadas, mas logo volta à seriedade. Ele não fica super empolgado nem ao comentar a produção de vinhos que mantém em Abruzzo, região famosa mundialmente pela bebida. A explicação para boa parte de seu comportamento vem a seguir, e ao ser questionado por seu time de futebol de coração responde: "não (tenho), eu... não sou um italiano...". Jarno Trulli é diferente.
Confira a íntegra da entrevista:
Terra - Qual avaliação você faz da temporada da Team Lotus?
Jarno Trulli - É verdade que inicialmente esperávamos fazer um campeonato melhor, mas talvez as nossas expectativas estivessem exageradas para uma equipe que tem só dois anos. Certamente somos os melhores dos novos times, e o objetivo é entrar naquela faixa do grupo do centro e poder começar a brigar pelos pontos (o melhor resultado de Trulli na Lotus foi o 13º lugar nos GPs do Japão de 2010 e de Austrália e Mônaco de 2011)
Terra - Você tem 37 anos e 255 Grandes Prêmios disputados na F1. Como faz para permanecer tanto tempo correndo?
Trulli - (Faz cara de espanto com o número citado). Se você ama este esporte pode fazer isso, é necessário sempre amar aquilo que faz. Eu me encontro bem, tive tantos anos bonitos na F1, então gosto do que faço, sou um afortunado, faço uma coisa da qual gosto.
Terra - Agora a média de idade da F1 está crescendo. Rubens Barrichello tem 39 anos e espera correr em 2012; Michael Schumacher, 42, voltou; Pedro de La Rosa, 40, assinou com a Hispania para a próxima temporada. O que você pensa sobre isso?
Trulli - Não acho que a média de idade tenha aumentado, porque há também muitos jovens que entraram. O fato é que a F1 mudou muito nos últimos dois anos, não há mais construtores (desde 2008 Toyota, Honda, BMW e Renault deixaram de ter uma equipe na categoria, restando apenas Ferrari e Mercedes entre as montadoras), há outras necessidades, é difícil explicar. Há ainda pilotos da nossa experiência porque eles provavelmente ajudam determinadas equipes em determinadas circunstâncias. Outras equipes, por outro lado, podem contar com uma maior experiência de seus outros funcionários e então podem escolher os pilotos mais jovens.
Terra - Como você se sente aos 37 anos? Em outros esportes seria uma idade de aposentadoria, não? Muita gente diz que um jogador de futebol deve se aposentar nessa idade. No tênis, a toda hora perguntam a Roger Federer, 30, quando ele vai se aposentar.
Trulli - Porém Federer venceu ontem contra um dos melhores do mundo (refere-se à vitória de terça-feira de Federer sobre Rafael Nadal no ATP Finals de Londres), então quer dizer... Há esportes muito físicos em que a idade infelizmente tem um grande impacto sobre o resultado. A F1 não é um esporte muito físico, a verdade é que o que conta em primeiro lugar é o carro. É preciso estar em forma fisicamente, se preparar? Sim, mas não é um esporte como o ciclismo, o atletismo - é diferente.
Terra - Você pensa em correr por quanto tempo ainda?
Trulli - (Pensa um pouco e fica três segundos sem falar) Correr penso ainda em fazer por muito tempo porque eu gosto. Na Fórmula 1 não sei, é difícil, isso é uma coisa que se verá ano a ano (Trulli tem contrato com a Lotus até 2012).
Terra - Fiz as contas e vi que você tem 70 Grandes Prêmios a menos que Rubens Barrichello (Trulli interrompe e já imagina qual será a questão, dizendo "ah não"). Pensa em bater o recorde do brasileiro?
Trulli - Acho que será difícil para qualquer um bater o recorde de Rubens com as suas presenças na F1. Ele tem seguramente uma grande carreira.
Terra - Setenta Grandes Prêmios são três temporadas e meia. Se Rubinho se aposentar neste ano...
Trulli - (Ri em voz alta) Será difícil batê-lo.
Terra - Falando sobre sua passagem pela Toyota, você começou muito bem a temporada de 2009, com dois terceiros lugares nas quatro primeiras corridas, então a equipe começou a parar de desenvolver o carro dizendo pensar no desenvolvimento do veículo de 2010 e depois...
Trulli - É... depois parou completamente. (Trulli cita a saída da montadora japonesa da F1, anunciada em 4 de novembro, apenas três dias após a última corrida do calendário, em Abu Dhabi).
Terra - Se fala muito que aquele carro, o TF1010, era muito bom e poderia quem sabe brigar por vitórias. É isso mesmo?
Trulli - Falar é fácil, a verdade se olha sempre no circuito. Infelizmente aquele carro nunca entrou em uma pista e então não podemos avaliá-lo. Não sei, seguramente o veículo de 2009 era bom. Sobre a base do de 2009 construíram o de 2010 que no entanto não foi nunca usado.
Terra - Naquele momento você já tinha assinado um contrato para 2010 com a Toyota, uma escuderia que gastava muito dinheiro e vinha em ascensão. A notícia oi uma decepção muito grande?
Trulli - Sim, eu tinha investido muito naquela escuderia, tinha feito tanta coisa nos anos anteriores (estava lá desde 2004), tinha ajudado a desenvolver, dado tantas indicações... Finalmente tínhamos chegado a um carro bom, a um belo time, competitivo, e infelizmente tudo foi embora em pouco tempo.
Terra - Antes do anúncio do fim da escuderia já existiam muitas especulações nesse sentido, mas os japoneses sempre negavam. Você foi surpreendido? Quando você ficou sabendo sobre a realidade?
Trulli - Eu sabia o que estava acontecendo. Conhecia já mais ou menos o destino do time.
Terra - Ouvi dizer que você produz vinho. Onde?
Trulli - Sim, produzo vinho em Abruzzo, terra onde nasci (Trulli é natural de Pescara, cidade de aproximadamente 115 mil habitantes localizada na região de Abruzzo, no centro da Itália). Fazemos Montepulciano d'Abruzzo vermelho, Trebbiano d'Abruzzo branco, Cerasuolo, todos os vinhos da minha região.
Terra - E você os vende também?
Trulli - Sim, também aqui no Brasil.
Terra - Mas o dinheiro você ganha aqui na F1, não?
Trulli - É, bem (ri). O vinho é só uma paixão de família.
Fonte: terra.com.br
Disponível no(a):http://esportes.terra.com.br
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