Falecido nessa semana, Sergio Pininfarina será mais lembrado por todas as Ferrari que desenhou ao longo de sua prolífica carreira, consolidando o estilo europeu de design automotivo. Mas uma de suas obras mais elegantes foi feita sob encomenda de americanos: o belíssimo Allanté, uma tentativa da Cadillac recuperar o prestígio perdido no final da década de 80.
Naquela época, os carros de luxo europeus haviam se tornado a referência no mercado. A Cadillac já ensaiava ter entendido a fórmula “menos excesso – mais conteúdo” com o Seville. No caso do Allanté (um nome afrancesado que na verdade não possui significado algum), eles resolveram ir atrás do estúdio Pininfarina para lapidar um novo roadster de dois lugares de alto luxo, caro e sofisticado o suficiente para fazer frente ao Mercedes SL.
O resultado, pelo menos visualmente, foi perfeito. Difícil imaginar um design “quadrado” tão harmônico e suave quanto o Allanté. Frente ligeiramente em cunha, vincos discretos, base assentada por para-choques integrais e perfeita proporção de volumes e retângulos, o design criado por Pininfarina transmite maturidade, solidez e finesse ainda hoje, 25 anos depois.
O esquema de produção era coisa de louco. O piso do carro, a coluna de direção, o ar-condicionado e os principais componentes eletrônicos partiam dos EUA rumo a Itália, onde a Pininfarina construía artesanalmente o corpo europeu (feito de alumínio suíço e aço alemão) e todo o interior. De Turim para Detroit, três jatos 747 adaptados percorriam os 5.300 quilômetros de volta, carregando 56 conjuntos em cada voo. Nos EUA, o motor, a transmissão e os subchassis dianteiro e traseiro – ambos com suspensão independente do tipo MacPherson – eram montados.
Resultado: por 54.700 dólares, o Allanté foi o mais caro automóvel americano à venda em 1987. Em relação aos equipamentos, o preço era justificável com uma lista quase interminável, como freios a disco nas quatro rodas com ABS, suspensão adaptativa (que aumentava a rigidez conforme a velocidade), painel digital de LCD, cruise control, bancos Recaro com 10 ajustes elétricos, couro italiano combinando com a pintura externa, sistema de som Delco/Bose com toca-fitas de alta fidelidade e equalizador de 32 bandas, duas opções de teto – rígido de alumínio (destacável) e de lona (retrátil) – e um único opcional: telefone celular integrado ao console central com viva-voz, um gadget restrito a milionários na época.
Só que tanta exuberância foi acompanhada por uma receita mecânica longe da unanimidade. O motor Cadillac V8 de 4,1 litros montado em curiosa posição transversal trazia injeção eletrônica sequencial, abundantes 32,4 kgfm de torque, mas potência relativamente baixa de 170 cavalos para uma banheira de luxo com 1,5 tonelada. O câmbio obviamente era automático, de quatro velocidades.
O conversível também possuía falhas de vedação na capota, e na comparação direta com os Mercedes-Benz SL e Jaguar XJS, oferecia menos performance e uma característica incômoda para puristas e donos de grand tourers: tração dianteira ao invés de traseira.
Com o lançamento da geração R129 do Mercedes SL, em 1989, a concorrência ficou ainda mais dura. A Cadillac se acostumou a vender apenas a metade do seu planejamento inicial de 6 mil unidades feitas a cada ano, mesmo com melhorias como CD-player, airbags e o primeiro controle de tração instalado em um veículo FWD. O Allanté só ganhou uma motorização à altura em 1992, na forma do V8 de alumínio da nova família Northstar, com 4,6 litros, duplo comando no cabeçote, 32 válvulas, 295 cavalos e 40,1 kgfm. Assim equipado, acelerava de 0 a 100 km/h em 6,4 segundos, com 225 km/h de máxima.
Mas nessa época ele já tinha perdido o glamour da novidade, sem criar uma reputação tão forte quanto a dos concorrentes. Em 1993, a última das 21.430 unidades foi finalizada em Detroit. A então perdida Cadillac só iria reencontrar seu caminho dez anos depois, com o lançamento do médio CTS e do substituto do Allanté, o suntuoso XLR, apropriadamente baseado na plataforma do Corvette.
Fonte: Jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br/
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